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Expectativas de inflação em 3,5% incomodam e desancoragem gera um custo, diz diretor do BC

O diretor do BC afirmou que esperava uma desaceleração da atividade nos Estados Unidos com o aperto monetário do Federal Reserve

por Reuters
3 min leitura
Banco Central 3

O diretor de Política Monetária do Banco Central, Diogo Guillen, disse nesta quinta-feira que “incomoda” o fato de as expectativas de inflação de prazo mais longo estarem estacionadas em 3,5%, afirmando que essa desancoragem “gera um custo” para a política monetária.

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Falando na conferência Itaú Macro Vision, Guillen disse que a desancoragem das expectativas de inflação pode ter sido influenciada inicialmente pela incerteza do compromisso do Comitê de Política Monetária (Copom) com a perseguição da meta de inflação, o que foi resolvido com a adoção da meta contínua.

“Depois da manutenção da meta em 3% com meta contínua, você teve uma queda, mas depois ela ficou parada em 3,5%”, disse o diretor, apontando outras duas possíveis explicações.

Uma delas seria as projeções fiscais para o país, que apontam para uma continuação do déficit primário público no próximo ano. Guillen destacou ainda que as expectativas de inflação mais alta nos Estados Unidos também poderiam estar impactando as projeções do patamar dos preços no Brasil

“Quem acha que a inflação dos Estados Unidos vai ser mais alta, também acha que vai ser mais alta no Brasil”, disse.

As expectativas de inflação do boletim Focus — compilado pelo BC — para 2025 e 2026 estão paradas em 3,5% há 15 e 18 semanas, respectivamente.

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Guillen frisou que quanto maior o tempo em que prevalecer a desancoragem, maior o impacto sobre a economia, na medida em que se estabelece a sensação de que as projeções estão de fato acima da meta, autorizando maior pressão por aumento de salários e preços.

Guillen ainda enfatizou que é importante o governo ter compromisso com sua política fiscal, afirmando que a autoridade monetária não vê com bons olhos a “incerteza” em relação às metas para o resultado primário das contas públicas.

“A gente não gosta de incerteza… Da mesma forma que valia para a meta de inflação, a condução da política e a meta têm que ter credibilidade. Todo mundo tem que concordar com o alvo e saber o que se está fazendo para atingir o alvo.”

Fala recente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que “dificilmente” o governo conseguirá zerar o déficit público no próximo ano alimentou incertezas em torno da política fiscal do governo, mesmo com a resistência do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em mudar o alvo para as contas públicas.

Cenário internacional “adverso”

No evento, Guillen disse que a avaliação da autarquia sobre o cenário internacional passou de ambiente “incerto” para “adverso”, citando a resiliência dos núcleos de inflação, tensões geopolíticas e o comportamento dos rendimentos dos Treasuries.

“A gente fez uma progressão de como a gente vinha qualificando o cenário internacional na nossa comunicação. A gente começou falando cenário está ‘incerto’, depois cenário está ‘mais incerto’, e agora a gente tratou como cenário ‘adverso'”, disse.

O diretor do BC afirmou que esperava uma desaceleração da atividade nos Estados Unidos com o aperto monetário do Federal Reserve, o que não tem acontecido, além de destacar que a escalada dos conflitos internacionais tem gerado dúvidas sobre como se comportarão os preços do petróleo adiante.

Ele constatou que o cenário doméstico está “em linha” com o que o BC esperava, argumentando que o desempenho surpreendentemente forte da economia no primeiro semestre poderia ser explicado em parte pelo avanço das commodities, em parte por uma taxa de juros “menos contracionista” do que se esperava.

O Banco Central manteve a taxa Selic no nível elevado de 13,75% por cerca de um ano, mas, em agosto, iniciou um ciclo de cortes de juros que já levou a taxa básica de juros a 12,25%, nível que ainda é restritivo à atividade do país e ao crédito.

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