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Expresso Renda Fixa: As Zonas Azuis e a busca pela bala de prata

O termo "zona azul" designa regiões ao redor do mundo onde a longevidade da população é bem elevada: faça o mesmo com seus investimentos

por Guilherme Cadonhotto
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Paisagem

O que você diria que é primordial para que as pessoas vivam acima dos 100 anos de idade?

Alimentação? Esportes? Autocuidado?

Foi buscando responder exatamente a essa questão que o escritor americano Dan Buettner viajou a Okinawa, um arquipélago de ilhas no sul do Japão.

Okinawa é conhecida por ser uma “Zona Azul”. O termo designa regiões ao redor do mundo onde a longevidade da população é bem elevada, fazendo com que uma parcela relevante da população ultrapasse a casa dos 100 anos.

Como qualquer ser humano, Dan parece partir em busca de uma solução simples para um problema no mínimo complexo.

A primeira pergunta que Dan quer responder é: qual o fator que leva os habitantes de Okinawa a terem uma vida tão longeva e com tamanha qualidade?

Okinawa
Templo na cidade de Okinawa, Japão (Imagem: Pexels/ jeniffertn)

Dan começa pelo que parece mais simples, a alimentação.

E, de fato, as pessoas em Okinawa consomem muito mais vegetais e legumes do que a média das pessoas do restante do Japão e principalmente do mundo.

Mas logo de cara Dan percebe que o segredo de Okinawa não está somente na alimentação de qualidade, mas em uma série de fatores que, juntos, fazem com que os habitantes vivam muito e ainda por cima bem.

De seis fatores levantados por Dan, três têm relação com a alimentação.

O primeiro é o consumo elevado de alimentos considerados medicinais, ricos em vitaminas e antioxidantes. O segundo é que os habitantes de Okinawa consomem uma quantidade de calorias muito inferior à média global. O terceiro tem relação com os hábitos de consumo na alimentação, no caso, o “hara hachi bu”, que, em português, significa “coma até estar 80% satisfeito”.

Os outros três fatores estão divididos em:

Equilíbrio: os habitantes de Okinawa não possuem muitos móveis e a maioria deles, principalmente os centenários, se sentam muito mais em tatames do que em cadeiras e sofás. Parece uma informação inútil, mas isso significa que os habitantes da ilha se levantam e agacham dezenas de vezes por dia, fortalecendo sua musculatura inferior e provendo o equilíbrio necessário para que acidentes em idade avançada fiquem muito mais difíceis de acontecer.

Moai: tenha um círculo de amigos. Os “moais” são círculos sociais formados independentemente entre pessoas do mesmo bairro onde os membros juntam seu dinheiro para fazer frente a momentos difíceis. Dan, porém, percebeu que a principal vantagem dos moais são as interações sociais entre pessoas de idade avançada, que criam vínculos verdadeiros e duradouros.

Ikigai: por último, Dan entendeu que grande parte dos idosos de Okinawa possui o “ikigai”, ou, resumidamente, algo na sua vida que dá um senso de propósito.

O que Dan percebeu é que é impossível explicar o segredo da longevidade de Okinawa por um só fator. Por mais que os ligados à alimentação sejam relevantes em sua “equação”, eles não são os únicos.

A busca para uma resposta curta e direta para uma característica tão complexa quanto a longevidade não é exclusiva.

Em filmes, desenhos, livros, peças de teatro, biografias e tudo o mais a busca incessante do homem parece passar por três tópicos: longevidade, riqueza e poder.

Porém são soluções e atitudes muito mais complexas do que as pessoas imaginam que as podem levar lá.

Mas, dentre esses três temas, há um que as pessoas pensam que podem atingir de maneira simples, fácil e rápida.

Você, que acompanha esta newsletter, já deve suspeitar qual é.

Sim, a riqueza.

Vendeu-se a ideia de que alcançar a riqueza em um curto espaço de tempo é possível, simples e, o pior, que vai dar pouco trabalho.

Essa ideia é reforçada por alguns poucos casos de pessoas que se banharam em sorte, e que nem ao menos se deram conta disso e gritam aos quatro ventos que atingir a independência financeira é algo simples e fácil.

Eu posso até concordar que atingir a independência financeira é algo simples, mas não posso dizer que para a maioria das pessoas vai ser fácil, e muito menos rápido.

Precisamos lembrar que, no Brasil, 70% das pessoas ganham até dois salários mínimos e 90% ganham até R$ 3.500. Com uma renda baixa, não há milagre que os investimentos possam fazer para te levar à independência financeira de maneira rápida.

Sim, eu sei, você já ouviu falar de uma ou outra pessoa que “investindo” R$ 100 por mês ficou milionária e chegou lá.

Não se engane, essa trajetória é extremamente rara. As probabilidades de isso acontecer se assemelham às de acertar na loteria.  Contudo, em caso de perda, você vai ver ir embora muito mais do que os R$ 5,00 da aposta mais simples da Mega-Sena, mas, sim, o patrimônio acumulado até então.

Na grande maioria dos casos, o processo de busca da independência financeira é, sim, simples, mas lento, moroso e depende muito menos de um único fator do que as pessoas pensam.

Assim como Dan Buettner afirma que o segredo da longevidade dos habitantes de Okinawa não reside em um único elemento, e sim em seis, a independência financeira também não pode ser explicada por um único fator, mas por uma conjunção deles.

Disciplina
(Imagem: Unsplash/ Thao LEE)

Para mim os mais importantes são:

Disciplina: não há como elevar o seu patamar financeiro atual sem que você tenha a disciplina de aportar consistentemente uma parte da sua remuneração mensal na sua carteira de investimentos. Esse aporte não precisa ser mensal, mas precisa ser periódico.

O fato de você conseguir poupar e investir todos os meses já mostra que você mantém o seu dinheiro muito mais sob controle do que a maioria das pessoas.

Regra do degrau: para alcançar a disciplina, você deve adotar a recém-denominada por mim mesmo “regra do degrau”. Ela diz que você precisa ter um padrão de vida inferior ao que sua renda habitual seria capaz de te oferecer. Aplicando a regra do degrau de maneira consistente, mesmo diante de qualquer elevação de renda, a parcela da poupança e investimento ainda estará garantida.

Ganhar relativamente bem: parece ser um tabu falar isso hoje em dia, mas eu não posso te enganar, você deve ganhar relativamente bem para conseguir alcançar a independência financeira.

Veja, se você tem uma remuneração muito baixa, a parcela que você vai conseguir destinar para os seus investimentos deve ter um propósito: qualificar a sua própria mão de obra para que você ganhe mais.

Investir R$ 50 ou R$ 100 por mês fará diferença para sua qualidade de vida daqui a 30 ou 40 anos, e imagino que você queira usufruir dessa melhor qualidade de vida antes disso, correto?

Para isso, use os recursos acumulados para se profissionalizar, fazer um curso, treinamento, faculdade, ler livros e adquirir novos conhecimentos que façam com que sua mão de obra seja mais valorizada.

Digo isso pois se, desde a criação do plano real, você poupasse um salário mínimo e sua rentabilidade fosse a do CDI, hoje você teria acumulado pouco mais de R$ 400 mil.

É um belo patrimônio, eu concordo, mas ele te proporcionaria em média R$ 2.800 mensais, o que está longe da renda passiva mensal sonhada pela maioria das pessoas. E detalhe, você estaria investindo um salário mínimo por mês, que hoje está na casa dos R$ 1.300.

Mercados de Ações
(Imagem: freepik/@ standret)

Estratégia de investimentos equilibrada: isso significa que ela precisa conter diversificação, tanto em classes de ativos quanto na seleção de ativos para cada fatia da sua carteira, como ações, fundos imobiliários, renda fixa e por aí vai.

Uma estratégia de diversificação vai reduzir a chance de você alcançar a independência financeira em um curto espaço de tempo? Essa chance já é tão reduzida que você nem deveria levá-la em consideração.

O que essa estratégia vai fazer é diminuir ao máximo as chances de você perder dinheiro de maneira relevante. E uma seleção de ativos bem-feita vai te dar uma rentabilidade boa ao longo do tempo, acelerando sua busca pela independência, mas não a ponto de colocar todo o seu patrimônio em risco.

Quem tem dinheiro faz dinheiro: eu coloco isso como uma regra para que você não esqueça que a economia real pode fazer parte dos seus investimentos e que dificilmente isso estará em qualquer projeção de rentabilidade.

Ao longo da sua vida financeira, diversas oportunidades de adquirir negócios, imóveis, carros e outros bens a valores atrativos vão aparecer, e elas podem ser também uma opção para que o seu dinheiro te traga mais dinheiro.

Digo isso por experiência própria. A aquisição e venda de imóveis e negócios foram bem representativas ao longo da minha jornada financeira.

Acontece que esse tipo de oportunidade só aparecerá no seu radar quando você dispuser de uma quantia de dinheiro relevante.

Aplicando essas regras, acho muito difícil você não chegar a sua independência financeira.

No curto prazo? Não.

No curto prazo, a sorte desempenha um papel muito mais relevante do que o esforço e a competência. Mas no longo prazo, vai ser improvável que sua vida financeira não esteja em um patamar considerado tranquilo e que você não entre na chamada “Zona Azul” da independência financeira.

Obs.: Se alguém da Netflix está em busca de novas ideias de documentários, posso me prontificar a visitar o mundo e conversar com pessoas que saíram do zero e alcançaram a independência financeira. Será um prazer.

Abraços,

Guilherme Cadonhotto

Especialista em renda fixa e estrategista-chefe da Spiti. Técnico em Administração de Empresas e bacharel em Economia, atuou na mesa de operações como trader de renda fixa na SulAmérica Investimentos e como analista de investimentos na asset da Porto Seguro.

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