Os principais bancos centrais europeus mantiveram nesta quinta-feira seus planos de manter suas taxas de juros mais altas por mais tempo para combater a inflação, que está se mostrando mais persistente em algumas partes do mundo do que em outras, acabando com qualquer esperança de que uma mudança de abordagem do Federal Reserve em direção a cortes de juros marcasse um ponto de virada global.
Ampliando a postura “hawkish” (agressiva contra a inflação) que tem dominado os bancos centrais globais por dois anos, o Banco da Inglaterra disse em comunicado que a taxa de juros permaneceria alta por “um período prolongado”, enquanto o Banco Central Europeu (BCE) disse que as taxas de referência da zona do euro permaneceriam “em níveis suficientemente restritivos pelo tempo que for necessário”.
Tanto o BC britânico quanto o BCE mantiveram suas taxas de juros inalteradas. Porém, a linguagem de suas decisões contrastou com a do chair do Federal Reserve, Jerome Powell, que, após uma reunião de política monetária na qual o banco central norte-americano também deixou sua taxa básica estável, deu à decisão do Fed uma inclinação “dovish” (flexível com a inflação).
“Somos nós pensando que já fizemos o suficiente”, disse Powell na quarta-feira sobre novas projeções que mostravam que autoridades previam cortar sua taxa de referência em 0,75 ponto percentual até o fim de 2024.
A Europa, entretanto, está em um caminho diferente, com o banco central britânico com uma votação dividida em 6 a 3, em que três de seus membros favoreceram outra alta dos juros.
Já o banco central da Noruega aprovou um aumento surpreendente de 0,25 ponto percentual, em meio a uma inflação mais persistente.
Porém, em sua última declaração de política econômica, o BCE disse que, embora as perspectivas de preços tenham melhorado no longo prazo, o aumento dos custos unitários de mão de obra continuou a representar riscos e a inflação “provavelmente voltará a subir temporariamente no curto prazo”.
Embora as pressões sobre os preços estejam em queda, o BCE disse que espera um aumento da inflação no curto prazo, e a presidente do BCE, Christine Lagarde, em sua coletiva de imprensa, afirmou que alguns componentes da inflação não haviam mudado.
“Não discutimos cortes nos juros. Nenhuma discussão. Nenhum debate… Entre o aumento e o corte há um platô inteiro”, disse Lagarde, destacando que alguns componentes da inflação “não estavam se movendo”.
O Banco da Inglaterra disse que a expectativa é de que sua inflação geral permaneça em torno de 4,5% até o fim deste ano, ainda bem acima da meta de inflação de 2% que compartilha com o Fed e o BCE.
Isso também está bem acima das novas projeções do banco central norte-americano.
Até o fim de 2024, autoridades do Fed projetam que tanto a inflação básica quanto a inflação global serão de 2,4%, o que está a uma distância próxima de sua meta e é baixa o suficiente para que as autoridades do Fed projetem reduções nos juros.