O dólar (USDBRL) continua a mostrar sua força como a moeda mais aceita em transações internacionais e para reserva de valor, apesar da crescente narrativa contrária a ele.
Alguns acordos bilaterais entre, principalmente, os países que compõem os BRICs, têm modificado a moeda padrão para as suas exportações e importações.
No final de junho, por exemplo, o Brasil apresentou à Argentina — país postulante ao bloco — uma proposta para assegurar garantias em iuanes chineses às transações com o país vizinho.
BRICs
Além disso, a proposta de criação de uma nova moeda foi debatida na cúpula dos BRICs realizada na África do Sul no final de agosto.
Definimos que será estudada a adoção de uma moeda de referência para as transações entre os membros.
“Essa medida poderá aumentar nossas opções de pagamento e reduzir nossas vulnerabilidades”, defendeu Lula.
Lula advoga o comércio em moedas alternativas ao dólar, citando justamente o exemplo da Argentina, importante parceiro comercial do Brasil, que tem enfrentado dificuldades em acessar a moeda norte-americana.
Petrodólar?
Vale lembrar que o grupo dos BRICs agora também conta com a Arábia Saudita, Argentina, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã, além do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
Tal como estava, os membros representavam cerca de 20% da produção global de petróleo. A adição da Arábia Saudita, dos Emirados Árabes Unidos e do Irã fez com que o grupo agora represente quase 42% da produção global de petróleo bruto.
A Arábia Saudita, o maior vendedor de petróleo bruto do mundo, embarcou cerca de 7,3 milhões de b/d em 2022, representando pouco mais de 17% das exportações globais de petróleo bruto.
A maioria destas exportações (76%) vai para a Ásia, das quais, 35% vão para a China e a Índia, membros do BRICS.
“Portanto, dadas as ambições dos BRICs de desdolarização, haverá certamente uma especulação crescente de que este último movimento poderá levar a Arábia Saudita a mudar cada vez mais para moedas não denominadas em dólares para o comércio de petróleo”, analisa Chris Turner, chefe global de mercados do banco ING, em um relatório.
Pode fazer sentido, por exemplo, que a Arábia Saudita comece a aceitar o iuane chinês e a rupia indiana da China e da Índia para o seu petróleo bruto. A mudança também pode acontecer em uma expansão do que já é feito nas negociações de petróleo entre o Irã e a China, que já trocam o produto em iuanes devido às sanções.
“Reiteramos, no entanto, que a energia representa apenas 15% do comércio global e os preços das exportações de petróleo sauditas para a China e a Índia em moedas diferentes do dólar não significam o fim do dólar como moeda internacional de eleição”, lembra Turner.
Há ainda uma importante verdade abaixo de todas essas discussões. O rial saudita está indexado ao dólar a US$ 3,75 desde a década de 1980.
Quaisquer surtos ocasionais de especulação contra o rial — na maioria através do mercado cambial a prazo — foram rapidamente combatidos pelas autoridades sauditas.
“Se os sauditas começarem a desdolarizar a sua economia através do aumento das receitas em moedas que não sejam o dólar, os investidores poderão começar a questionar se ocorrerão mudanças na paridade — por exemplo, a taxa de câmbio. O rial deveria ser administrado em relação a uma cesta de moedas e não apenas em relação ao dólar?”, pontua o economista.
Força do dólar
A despeito das discussões, o dólar continua a mostrar sua força no mercado financeiro internacional.
O Índice Dólar (DXY), que mede a força do dólar frente a uma cesta de moedas de países desenvolvidos, atingiu o maior patamar em 6 meses (desde março) e acumulou 8 semanas de valorização.
Segundo a Convex Research, o dólar segue desafiando as recentes narrativas de que estaria perdendo seu posto de reserva de valor no sistema financeiro, especialmente frente ao iuane,
A moeda chinesa tem se desvalorizado desde o início de 2022 e atingiu o menor valor frente ao dólar dos últimos 16 anos.