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Finanças “Comportablablamentais” e Outras “Neurobobagens”

por Adriana Spacca Olivares Rodopoulos
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Finanças “Comportablablamentais” e Outras “Neurobobagens”

Olá! Venho amadurecendo a ideia de escrever algo sobre o uso indiscriminado do adjetivo comportamental e do prefixo neuro que venho notando nos últimos anos. E um fato que ocorreu faz um tempinho, fez a ideia finalmente “cair do pé de madura”.

O valor e a contribuição das Ciências Comportamentais e da Neurociência, não apenas para a área de finanças e economia, mas para todas as áreas onde o longo prazo é uma variável significativa, são indiscutíveis. E eu, como estudiosa de Psicologia Econômica e Ciência Comportamental Aplicada, não poderia pensar de outra forma.

A questão que gostaria de dividir hoje com você é a apropriação inadequada (e até indevida!) de conceitos provenientes de pesquisa científica nestas duas áreas para a autopromoção e até para alavancar a venda de produtos e serviços que nada têm de científicos.

Não posso falar sobre Neurociência porque não é “a minha praia”, mas há um artigo muito interessante chamado “A ascensão da neurobobagem popular” (clique aqui para ler) escrito pela bióloga e professora Vera Rita da Costa.

Mas sobre Finanças Comportamentais e Economia Comportamental, eu posso escrever. Então, para começo de conversa, Ciência Comportamental e Neurociência são coisas diferentes. O que existe é uma conversa entre as duas áreas. Mas uma estuda funcionamento mental e a outra, funcionamento cerebral.

O próprio Daniel Kahneman, em seu livro “Rápido e Devagar” (clique para detalhes) – e em vários artigos não tão populares – é bastante cuidadoso ao estabelecer ligações entre a atuação dos sistemas mentais (automático e reflexivo) e partes do cérebro que são ativadas quando um ou outro entram em ação, mesmo quando o registro de atividade cerebral integra os procedimentos durante os experimentos.

Para quem não conhece, Daniel Kahneman e Amos Tversky são dois psicólogos que começaram a estudar o processo de tomada de decisão lá nos 70, considerados pioneiros na área de Ciência Cognitiva.

Os dois formaram uma bela dupla até 1996, ano em Tversky faleceu. E, pelo amor de Deus, Daniel Kahneman não é economista. Ele ganhou o Prêmio Nobel de Economia em 2002, mas ele continua sendo psicólogo!

Tendo tudo começado em 1970, a área de Ciência Comportamental, que mais recentemente vem sendo assim chamada – usa-se o termo “Economia Comportamental” quando os pressupostos da Ciência Comportamental são aplicados à Economia –, tem aproximadamente 40 anos de existência. Em termos de ciência, podemos dizer que ela ainda é um bebê.

Mesmo em relação à Psicologia Econômica, que é um pouco mais velha – há controvérsias sobre o ano do surgimento da Psicologia Econômica, mas a maioria dos autores fala em 1902 –, temos aí 112 anos. Então temos muito caminho pela frente!

E exatamente esse o meu ponto. Vejo muito material por aí e muita gente também que seguem uma linha pseudocomportamental, que eu chamo de “comportablablamental”, para estar na “crista da onda”. Ou, como dizem por aí, pegaram o bonde andando e querem sentar na janelinha, ou ainda rebatizar o bonde com qualquer outro nome.

Para esses eu digo: “O conhecimento serve à vida – e a uma vida digna – ou sequer seria o caso de persegui-lo.”, como sabiamente coloca a Dra. Vera Rita de M. Ferreira em seu livro “Psicologia Econômica” (clique para detalhes).

Então, persiga o conhecimento! Estude, busque beber da fonte, questione, prepare-se e só então adote.

Infelizmente, estamos observando um comportamento de manada e um efeito cascata de informação que faz com que o conhecimento advindo do especialista vá se deteriorando e ficando cada vez mais distante daquilo que o originou, como numa brincadeira de telefone sem fio.

A área ganhou uma popularidade tremenda nos últimos anos, mas não vai acabar amanhã. Há muito tempo ainda para consolidar, questionar, reformular e aperfeiçoar as teorias.

E para quem consome produtos, serviços e literatura comportamentais, atenção! Quanto à literatura, se você se interessou por algum artigo que saiu na mídia, leia também o artigo científico que lhe deu origem. Meios de comunicação que se prezem costumam colocar o link para a pesquisa na íntegra.

Esta atitude é fundamental porque normalmente o título do artigo de mídia impressa já é de uma simplicidade equivocada e, para piorar, existem alguns “jornalistas” que resolvem colocar dicas ou dar receitas (que eu realmente não sei de onde eles tiram) para você tomar melhores decisões.

Já com relação aos produtos e serviços, certifique-se de quem os assina. Vale lembrar que aqui no Brasil até o momento não há cursos de graduação nem pós-graduação stricto-sensu (mestrado e doutorado) em Economia Comportamental ou Psicologia Econômica. Existem sim, cursos de extensão universitária e muitas teses com este viés, mas nas áreas de Psicologia Social, Economia ou Administração.

Então, cuidado com os títulos e formação acadêmica dos responsáveis pelo produto ou serviço! Se deseja começar a entender o papel da informação na tomada de decisão e a Psicologia Econômica como um todo, sugiro a leitura de alguns artigos que já publiquei aqui mesmo no Dinheirama (clique abaixo):

Termino com a frase do filósofo Mário Sérgio Cortella, que diz que o “conhecimento serve para encantar as pessoas e não para humilhá-las”. Eu acrescentaria: muito menos para enganá-las! Obrigada e até a próxima!

Foto “Psychology therapy”, Shutterstock.

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