O Fundo Monetário Internacional reduziu nesta terça-feira as suas previsões de crescimento para a China e a zona do euro e disse que a expansão global permanece baixa e desigual, apesar do que chamou de “força notável” da economia dos Estados Unidos.
O FMI manteve a sua previsão para o crescimento real do PIB global em 2023 em 3,0% em seu relatório Perspectiva Econômica Global, mas reduziu a estimativa para 2024 em 0,1 ponto percentual, para 2,9%, em relação à previsão de julho. A produção mundial cresceu 3,5% em 2022.
O economista-chefe do FMI, Pierre-Olivier Gourinchas, disse que a economia global continua a se recuperar da pandemia de Covid-19, da invasão da Ucrânia pela Rússia e da crise energética do ano passado, mas as tendências de crescimento são cada vez mais divergentes em todo o mundo, e as perspectivas de expansão a médio prazo são “medíocres”.
Gourinchas disse que as previsões em geral apontam para um pouso suave, mas o FMI continua preocupado com os riscos relacionados à crise imobiliária na China, à volatilidade dos preços das matérias-primas, à fragmentação geopolítica e ao ressurgimento da inflação.
Um novo risco inesperado surgiu sob a forma do conflito israelo-palestino, no momento em que autoridades de finanças de 190 países se reúnem em Marrakech para as reuniões anuais do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, mas aconteceu depois do fechamento do relatório do FMI, em 26 de setembro.
Gourinchas disse à Reuters que é cedo demais para dizer como a escala do conflito afetará o conflito: “Dependendo de como a situação se desdobrar, há muitos cenários diferentes que ainda nem começamos a explorar, então ainda não podemos fazer qualquer avaliação nesse momento”.
O crescimento mais forte está sendo estrangulado pelo impacto persistente da pandemia, pela guerra da Rússia na Ucrânia e pela crescente fragmentação, juntamente com o aumento das taxas de juros, eventos climáticos extremos e a redução do apoio fiscal, afirmou o FMI. A produção global total em 2023 deverá ficar 3,4%, ou cerca de 3,6 trilhões de dólares, abaixo das projeções pré-pandemia.
“Vemos uma economia global que está tropeçando e que ainda não está acelerando”, disse Gourinchas à Reuters em entrevista.
Inflação
A inflação continuou a diminuir em todo o mundo devido à queda dos preços da energia e, em menor medida, dos preços dos alimentos. Ela deve cair para uma média anual de 6,9% em 2023, 8,7% em 2022 e 5,8% em 2024.
O núcleo da inflação, excluindo os preços dos alimentos e da energia, está caindo de forma mais gradual e deverá recuar para 6,3% em 2023, de 6,4% em 2022, e para 5,3% em 2024, dados os mercados de trabalho ainda apertados e a inflação de serviços mais persistente do que o esperado, disse o FMI.
“Ainda não chegamos lá”, disse Gourinchas em reunião separada com repórteres, acrescentando que o FMI está alertando as autoridades monetárias para não reduzirem as taxas de juros tão cedo.
Mais riscos negativos
O FMI disse que a incerteza diminuiu consideravelmente desde a divulgação das suas previsões de abril, mas ainda há mais riscos negativos do que positivos para 2024. A probabilidade de o crescimento cair abaixo de 2% – o que só ocorreu cinco vezes desde 1970 – é agora estimada em 15%, em comparação com 25% em abril.
O FMI observou que o investimento está uniformemente mais baixo do que antes da pandemia, com as empresas mostrando menos apetite por expansão e tomada de riscos num contexto de aumento das taxas de juros, retirada do apoio fiscal e condições de empréstimo mais rigorosas.
Gourinchas disse que o Fundo está alertando os países a permanecerem vigilantes em relação à política monetária até que a inflação caia de forma duradoura em direção às metas.
Crescimento dos EUA
O FMI elevou a sua previsão de crescimento para 2023 nos Estados Unidos, a maior economia do mundo, em 0,3 ponto percentual, para 2,1%, e em 0,5 ponto para o próximo ano, a 1,5%, citando investimento empresarial mais forte e o consumo crescente. Isso faz dos EUA a única grande economia a superar as previsões pré-pandemia.
Já na China o PIB deve expandir 5,0% em 2023 e 4,2% em 2024, refletindo revisões para baixo respectivamente de 0,2 e 0,3 ponto percentual, principalmente devido à crise imobiliária do país e à fraca procura externa.
Gourinchas disse que são necessárias “ações enérgicas” na China para limpar o setor imobiliário e, embora as autoridades tenham tomado algumas medidas, é necessário mais trabalho. “Se isso não acontecer, então há uma chance de que o problema possa piorar”, disse ele.
O FMI também reduziu as suas estimativas para a zona do euro, prevendo que o crescimento vai desacelerar para 0,7% em 2023 e 1,2% em 2024, contra estimativas em julho de 0,9% e 1,5%.