A Qualicorp (QUAL3) divulgou neste sábado a conclusão dos trabalhos de um comitê de apuração, criado em julho de 2020, para investigar os fatos que envolveram a empresa nas operações Paralelo 23 e Triuno da Polícia Federal. Além disso, a empresa propõe “livrar a barra” do seu fundador José Seripieri Filho, hoje dono da Amil.
Ele foi citado na Paralelo 23 como o responsável por fazer doações eleitorais não declaradas de R$ 5 milhões à campanha de José Serra (PSDB) ao Senado em 2014. Na outra investigação, a Triuno, a empresa é citada por envolvimento em um esquema de corrupção com sonegação tributária que envolvia fiscais federais em São Paulo.
Após a conclusão das investigações, a Qualicorp começou a colaborar com as autoridades competentes para esclarecer as investigações, considerando a possibilidade de negociar um acordo de leniência e disse que, para isso, fez um acordo com Seripieri para ele ser exonerado de responsabilidades, enquanto fornecia “informações e documentos do interesse das autoridades competentes”.
A Qualicorp chama o acordo de “instrumento de cooperação”. Nele, o executivo propõe a arcar com metade de qualquer valor a ser pago pelo acordo de leniência até o limite de R$ 20 milhões. Isso, contudo, só vale caso os acionistas aprovem a sua exoneração de responsabilidade.
“Em caso de rejeição de tal proposta pelos acionistas, o Instrumento de Cooperação deixará automaticamente de produzir efeitos”, disse a empresa. Ou seja, a companhia pagaria o valor total, sinalizado pela Controladoria-Geral da União (CGU) e a Advocacia Geral da União (AGU) em torno de R$ 43,5 milhões.
Ficou aprovado, em uma reunião realizada na sexta-feira (19), pelo conselho de administração o acordo de leniência e a convocação da assembleia-geral que decidirá a quitação dos valores e a manutenção do instrumento de cooperação.
MPF
Além de tudo isso, a Qualicorp disse que tomou ciência de que o Ministério Público Federal, ajuizou ação civil pública de improbidade administrativa em face de terceiros, tendo por objeto os mesmos fatos do ano de 2014 já compreendidos no
escopo de atuação do Comitê e contidos no Acordo de Leniência.
“A esse respeito, a companhia informa que a Qualicorp Administradora tomará todas as medidas necessárias à defesa dos seus interesses e que, no entendimento de seus advogados externos especializados na matéria, deverá ser excluída do polo passivo da Ação Civil Pública em razão da celebração do Acordo de Leniência. A AGU comunicará em juízo a celebração do Acordo de Leniência para todos os fins de direito”, conclui o documento.
Quem é José Seripieri Filho
O empresário José Seripieri Filho, conhecido como Júnior, fundador da Qualicorp e da QSaúde, fez história ao adquirir a operadora de planos de saúde Amil, anteriormente pertencente ao UnitedHealth Group (UHG), por impressionantes R$ 11 bilhões. Esta transação se destaca como a maior fusão e aquisição (M&A) já realizada no Brasil entre uma única pessoa física e uma empresa. O acordo, fechado recentemente em 2024, incluiu a assunção de todos os passivos da UHG no Brasil, tanto passados quanto futuros, totalizando cerca de R$ 9 bilhões em dívidas, abrangendo questões tributárias e contingências relacionadas ao atendimento médico.
Júnior possui uma trajetória notável no setor de saúde. Em 1997, ele fundou a Qualicorp, que se tornou uma gigante do setor no Brasil, com cerca de 2,5 milhões de beneficiários, representando mais de 500 entidades de classe e 32 mil empresas. Em 2019, ele vendeu sua participação na Qualicorp para a Rede D’Or (RDOR3), marcando uma das maiores transações do setor na época. Em 2020, ele fundou a QSaúde, uma empresa inovadora que utiliza inteligência de dados para oferecer planos de saúde mais acessíveis e personalizados.
Apesar de seu sucesso empresarial, Júnior também enfrentou controvérsias. Em 2020, foi preso durante a Operação Lava Jato, acusado de doações não contabilizadas de cerca de R$ 5 milhões durante a campanha do ex-governador de São Paulo José Serra ao Senado Federal em 2014. Além disso, Júnior mantém uma relação de amizade com o presidente Lula.
Veja o documento da Qualicorp