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Galípolo decide hoje se o BC será cabo eleitoral de Lula

Mudança no tom que indique que a política monetária pode tornar-se um pouco mais leniente com a inflação poderá destravar um episódio de volatilidade intensa

por Gustavo Kahil
3 min leitura
Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central

O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central está reunido nesta terça-feira (28) para decidir o rumo da política monetária do Brasil e se irá anunciar a esperada elevação da taxa Selic em 100 pontos-base na quarta-feira (29). Com isso, o juro saltaria a 13,25% ao ano. Esta é a primeira reunião do novo presidente do BC, Gabriel Galípolo.

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O economista, indicado por Lula, fará provavelmente o aumento indicado pelo comitê durante a última reunião de dezembro. Naquela ocasião, quando Roberto Campos Neto ainda era o líder, ficou “combinado” que a Selic subiria também na reunião de março.

Há um temor, entretanto, que Galípolo quebre essa expectativa e dê início a um período mais amigável ao governo em um momento de estresse elevado com o mercado. As projeções para a inflação continuam a subir para além da meta e o dólar (USDBRL), apesar de ter recuado um pouco em janeiro, continua em torno de R$ 6.

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“É altamente improvável que o resultado do Copom seja diferente do esperado. No entanto, pode haver um risco de que o comunicado mostre algo diferente do que foi anunciado na reunião de dezembro. Uma mudança no tom que indique que a política monetária pode tornar-se um pouco mais leniente com a inflação poderá destravar um episódio de volatilidade intensa no mercado”, aponta a Levante Investimentos em um relatório enviado a clientes.

O BTG Pactual, em uma pesquisa realizada com 40 participantes do mercado financeiro, revela que quase 90% deles espera que o BC irá reforçar a ideia de um ajuste de 100 p.b. também em março, mas não na reunião seguinte, como o comunicado atual. No entanto, 62% dos entrevistados acha que o Copom “deveria” comunicar a intenção de novas elevações por mais duas reuniões.

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante posse de Fernando Haddad como Ministro de Estado da Fazenda
Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante posse de Fernando Haddad como Ministro de Estado da Fazenda (Imagem: Ricardo Stuckert/PR)

Eleições no radar

A decisão sobre os juros chega em um momento em que a avaliação negativa do terceiro mandato do presidente superou pela primeira vez a positiva, segundo pesquisa da Genial/Quaest divulgada nesta segunda-feira (27). Os que aprovam o trabalho do petista passaram de 52%, em dezembro, para 47% neste mês. Já a desaprovação subiu de 47% para 49%, um novo recorde.

No Nordeste, o presidente ainda desfruta de grande popularidade, mas a aprovação caiu oito pontos porcentuais no período, de 67% para 59%, e a desaprovação passou de 32% para 37%. Os eleitores da região deram 69,3% dos votos válidos para Lula no segundo turno das eleições de 2022.

Em um relatório publicado na segunda-feira (27), o time de economistas do Wells Fargo, composto por Nick Bennenbroek, Brendan McKenna e Anna Stein, avalia que, embora a moeda tenha se estabilizado desde sua mini crise no final de 2023, a história de dominância fiscal se desenrolará na preparação para as eleições de 2026.

“Déficits fiscais persistentemente amplos sob o presidente Lula devem continuar a resultar em depreciação da moeda real brasileira, em nossa opinião”, ressaltam.

A dominância fiscal ocorre quando a política fiscal (gastos e dívidas do governo) se sobrepõe à política monetária, limitando a capacidade do Banco Central de controlar a inflação. Nesse cenário, a dívida pública elevada força o BC a manter juros baixos para evitar o aumento dos custos de financiamento do governo, enfraquecendo o combate à inflação e gerando instabilidade econômica e perda de credibilidade monetária.

“O Brasil é sensível à China, o que combinado com questões idiossincráticas, provavelmente resultará em estresse renovado na moeda brasileira ao longo deste ano e em 2026. Em nossa opinião, quando o Congresso voltar a se reunir, os cortes de gastos estarão em primeiro lugar e atingir o equilíbrio fiscal será uma prioridade”, pontuam os economistas.

Eles observam, no entanto, que os formuladores de políticas brasileiras não são muito flexíveis e há dúvidas de eles, e Lula, farão cortes de gastos com as eleições presidenciais no horizonte.

“Embora haja um diferencial saudável da taxa de juros real associado ao real, acreditamos que o deslizamento fiscal e o risco político devem superar o carry. Apesar da recuperação da moeda, acreditamos que o real brasileiro sofrerá pressão renovada e, por fim, veremos a taxa de câmbio USD/BRL testando R$ 7 no início de 2026”, ressaltam.

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