O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central está reunido nesta terça-feira (28) para decidir o rumo da política monetária do Brasil e se irá anunciar a esperada elevação da taxa Selic em 100 pontos-base na quarta-feira (29). Com isso, o juro saltaria a 13,25% ao ano. Esta é a primeira reunião do novo presidente do BC, Gabriel Galípolo.
O economista, indicado por Lula, fará provavelmente o aumento indicado pelo comitê durante a última reunião de dezembro. Naquela ocasião, quando Roberto Campos Neto ainda era o líder, ficou “combinado” que a Selic subiria também na reunião de março.
Há um temor, entretanto, que Galípolo quebre essa expectativa e dê início a um período mais amigável ao governo em um momento de estresse elevado com o mercado. As projeções para a inflação continuam a subir para além da meta e o dólar (USDBRL), apesar de ter recuado um pouco em janeiro, continua em torno de R$ 6.
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“É altamente improvável que o resultado do Copom seja diferente do esperado. No entanto, pode haver um risco de que o comunicado mostre algo diferente do que foi anunciado na reunião de dezembro. Uma mudança no tom que indique que a política monetária pode tornar-se um pouco mais leniente com a inflação poderá destravar um episódio de volatilidade intensa no mercado”, aponta a Levante Investimentos em um relatório enviado a clientes.
O BTG Pactual, em uma pesquisa realizada com 40 participantes do mercado financeiro, revela que quase 90% deles espera que o BC irá reforçar a ideia de um ajuste de 100 p.b. também em março, mas não na reunião seguinte, como o comunicado atual. No entanto, 62% dos entrevistados acha que o Copom “deveria” comunicar a intenção de novas elevações por mais duas reuniões.
Eleições no radar
A decisão sobre os juros chega em um momento em que a avaliação negativa do terceiro mandato do presidente superou pela primeira vez a positiva, segundo pesquisa da Genial/Quaest divulgada nesta segunda-feira (27). Os que aprovam o trabalho do petista passaram de 52%, em dezembro, para 47% neste mês. Já a desaprovação subiu de 47% para 49%, um novo recorde.
No Nordeste, o presidente ainda desfruta de grande popularidade, mas a aprovação caiu oito pontos porcentuais no período, de 67% para 59%, e a desaprovação passou de 32% para 37%. Os eleitores da região deram 69,3% dos votos válidos para Lula no segundo turno das eleições de 2022.
Em um relatório publicado na segunda-feira (27), o time de economistas do Wells Fargo, composto por Nick Bennenbroek, Brendan McKenna e Anna Stein, avalia que, embora a moeda tenha se estabilizado desde sua mini crise no final de 2023, a história de dominância fiscal se desenrolará na preparação para as eleições de 2026.
“Déficits fiscais persistentemente amplos sob o presidente Lula devem continuar a resultar em depreciação da moeda real brasileira, em nossa opinião”, ressaltam.
A dominância fiscal ocorre quando a política fiscal (gastos e dívidas do governo) se sobrepõe à política monetária, limitando a capacidade do Banco Central de controlar a inflação. Nesse cenário, a dívida pública elevada força o BC a manter juros baixos para evitar o aumento dos custos de financiamento do governo, enfraquecendo o combate à inflação e gerando instabilidade econômica e perda de credibilidade monetária.
“O Brasil é sensível à China, o que combinado com questões idiossincráticas, provavelmente resultará em estresse renovado na moeda brasileira ao longo deste ano e em 2026. Em nossa opinião, quando o Congresso voltar a se reunir, os cortes de gastos estarão em primeiro lugar e atingir o equilíbrio fiscal será uma prioridade”, pontuam os economistas.
Eles observam, no entanto, que os formuladores de políticas brasileiras não são muito flexíveis e há dúvidas de eles, e Lula, farão cortes de gastos com as eleições presidenciais no horizonte.
“Embora haja um diferencial saudável da taxa de juros real associado ao real, acreditamos que o deslizamento fiscal e o risco político devem superar o carry. Apesar da recuperação da moeda, acreditamos que o real brasileiro sofrerá pressão renovada e, por fim, veremos a taxa de câmbio USD/BRL testando R$ 7 no início de 2026”, ressaltam.