Por Carlos Jenezi, especialista em desenvolvimento de produtos e articulista da Plataforma Brasil Editorial.
Diz a letra de uma música dos anos 80 do grupo Legião Urbana que “disciplina é liberdade”. Confesso que demorei alguns anos para entender o real significado dessa frase tão simples. Como o hábito de ser disciplinado, algo que dá trabalho e que toma tempo, poderia ser sinônimo de liberdade?
Nunca fui um adolescente ou até mesmo um jovem muito disciplinado. É verdade que concluí meus estudos com relativa facilidade, sem repetências ou recuperações, mas na maioria das vezes estive longe de ser um estudante exemplar. O que me diferenciava dos melhores da turma era a bendita disciplina para o estudo, algo que poucas vezes consegui estabelecer em minha rotina.
Com o passar dos anos, já no mercado de trabalho, percebi que a velha fórmula da improvisação com certa quantidade de atenção nas coisas ao redor não eram mais suficientes, e que apenas “passar de ano” não iria me satisfazer enquanto profissional. Era preciso enfim me render à disciplina e ao planejamento.
Observando as pessoas no nosso ambiente de trabalho, podemos facilmente identificar aquelas que são organizadas e disciplinadas e aquelas que gerenciam seu dia a dia no caos e na improvisação.
Basta olhar em suas mesas, na forma como organizam suas coisas mais simples, como gavetas e papéis. A diferença se faz clara também na forma como administram suas tarefas, no cumprimentos de prazos e na entrega de seus jobs e obrigações.
Lidar com pessoas organizadas e disciplinadas é sinônimo de planos planejados e bem executados, de previsibilidade de entregas (no melhor sentido), de segurança e garantia no bom andamento de qualquer tipo de projeto. Da mesma forma, lidar com pessoas desorganizadas é sempre sinônimo de estresse, imprevisibilidade, risco e incerteza.
A disciplina e a ordem são grandes aliados dos profissionais, em qualquer ramo de atividade. Já vi pessoas com pouca ou nenhuma organização pessoal e que alcançaram grande sucesso profissional.
No entanto, sempre se trataram de exceções, pessoas dotadas de grande talento e que com suas habilidades pessoas compensaram suas faltas de disciplina no dia-a-dia.
Um grande exemplo é o ex-jogador Romário, que mesmo avesso aos treinos e com vida desregrada fora dos campos, foi um dos maiores jogares de futebol do Brasil. Mas para cada Romário existem milhares de jogadores medianos, que só conseguem se tornar profissionais graças ao treino e à disciplina pessoal.
Voltando à música citada, Renato Russo estava certo. Disciplina é, sim, liberdade. Liberdade que vem da possibilidade de usar nosso tempo para pensar em coisas grandes, no objetivo final de nosso empregos, nas demandas mais importantes que nosso trabalho exige.
É a liberdade de não perder tempo administrando o caos, a desordem, enfim, a bagunça que nos tira o foco e nos faz perder tempo precioso com coisas inúteis como achar um e-mail perdido na caixa de entrada ou uma anotação rabiscada no fundo de um caderno qualquer.
Foto “Boss and worker”, Shutterstock.