O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), afirmou na delação premiada que Bolsonaro ficava ‘tocado’ com algumas pressões que recebia para pôr em prática um golpe de Estado.
Em outras vezes, ele mandava aliados embora e dizia: “você está querendo me fuder”.
“Tinha vezes que o pessoal ia lá falar com o presidente e o presidente ficava tocado, digamos assim, e tinha vezes que ia gente lá que o presidente falava assim, com o jeito do presidente: ‘você está querendo me fuder’, e mandava o cara embora”, afirmou.
No trecho da colaboração, que teve o sigilo derrubado por ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, Cid comentava sobre uma reunião do general Mário Fernandes, ex-ministro interino da Secretaria-Geral da Presidência com Bolsonaro.
A investigação da PF apontou Fernandes como o autor da operação denominada Punhal Verde e Amarelo, que buscava assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e Moraes.
Em outra parte da colaboração premiada, Cid diz, sem citar nomes, que pessoas próximas do ex-presidente mandavam mensagens para ele “ouriçadas” para que “acontecesse alguma coisa”.
“Eram amigos, eram de tudo, que estavam ali, vou utilizar a palavra ‘ouriçadas’ para que acontecesse alguma coisa”, disse o tenente-coronel.
Vídeo de Cid
Os vídeos da delação premiada de Cid foram divulgados pelo STF nesta quinta-feira, 20, após Moraes levantar o sigilo do seu acordo de colaboração.
A queda do sigilo ocorreu dois dias após a Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciar Bolsonaro por tentativa de golpe, em peça encaminhada ao STF.
O procurador-geral Paulo Gonet concluiu que Bolsonaro liderou articulações para uma ruptura institucional. Além disso, a denúncia atinge outros 33 indiciados em inquéritos da PF.
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A PGR apontou que Bolsonaro cometeu cinco crimes, sendo eles: dano qualificado com uso de violência e grave ameaça e deterioração do patrimônio tombado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, organização criminosa. Somadas, as penas dos crimes podem chegar a mais de 43 anos de prisão.
De acordo com a denúncia da PGR, Bolsonaro liderou uma organização criminosa “baseada em projeto autoritário de poder” e “com forte influência de setores militares”.
Também foi apontado como comandante da trama o ex-ministro da Defesa general Walter Braga Netto, que está em prisão preventiva. A defesa de Bolsonaro sustenta que a denúncia não apresenta provas dos crimes imputados ao ex-presidente.
(Com Estadão Conteúdo)