Ao efetuar uma oferta de ações em bolsa de valores, uma empresa espera convencer os potenciais investidores da viabilidade econômico-financeira de seu negócio e também que os resultados gerados por suas atividades serão revertidos em ganhos para seus acionistas. A “matemática” do investimento em ações já não é tão simples assim.
A partir do momento que os investidores avaliam a empresa e se sentem atraídos pelos retornos potenciais oferecidos, outros aspectos passam a ter relevância em sua decisão de adquirir ou não suas ações: o ambiente institucional onde a mesma está inserida e os mecanismos que busquem garantir que os recursos do investidor serão aplicados de forma alinhada aos seus interesses.
Investimento é confiança
Imagine que um conhecido lhe ofereça uma sociedade em um negócio qualquer. Ele apresentará os argumentos para o sucesso do empreendimento, estimativas de lucros esperados, tempo de retorno do investimento etc. Tudo pode parecer muito bom, mas se você não tiver confiança – o que se traduz em boas referências deste conhecido – provavelmente não aceitará ser seu sócio, não é mesmo? Entregar a administração do seu dinheiro a uma pessoa de quem desconfia? Nunca!
No meio empresarial brasileiro sempre tivemos a predominância de grandes empresas familiares ou estatais. Logo, sempre foi normal e fácil para qualquer um identificar os “Donos” destas empresas. Esse paradigma criou uma cultura permissiva, onde o pequeno acionista se acostuma a ter uma posição passiva em relação à gestão das companhias de que é sócio.
Um novo cenário
Surge então a Governança Corporativa, que podemos definir como o conjunto de instrumentos criados com o objetivo de fazer com que investidor tenha o retorno adequado dos recursos por ele aplicados, buscando proteção diante das práticas nocivas aos seus interesses, eventualmente praticadas na gestão das companhias.
O mundo passou a dar uma atenção maior à governança corporativa a partir das fraudes contábeis verificadas em diversas grandes empresas nos Estados Unidos, que culminaram na falência de companhias como a Enron, causa de prejuízos a milhares de investidores na época. Os gestores destas empresas camuflaram seus resultados com o objetivo de melhorar o desempenho das ações e consequentemente de seus bônus, colocando assim os seus próprios interesses à frente do interesse dos acionistas.
Governança Corporativa no Brasil
Com o objetivo de melhor orientar o investidor, a Bovespa estabeleceu níveis, classificando as empresas de acordo com suas práticas de governança. O destaque vai para o Novo Mercado, onde as companhias ali listadas se comprometem a oferecer ao investidor minoritário determinados benefícios além daqueles exigidos por lei.
O investidor estrangeiro – principalmente o americano e o inglês – está acostumado a exigir das empresas boas práticas de governança, por isso podemos notar que a maioria das empresas que abriram seu capital na Bovespa nos últimos anos está inserida no Novo Mercado. Dando maiores garantias ao investidor, as companhias conseguiram sucesso na obtenção de capital (nacional e estrangeiro) para seus projetos.
No entanto, a pesquisa empírica ainda não conseguiu mostrar que empresas com melhores práticas de governança são aquelas que geram maiores retornos para seus acionistas. Há casos diversos de empresas com uma governança ruim gerando lucros consistentes ano após ano, mostrando-se como uma boa opção para o investidor. O contrário também é verdadeiro.
O artigo nos convida a uma reflexão: A Petrobrás, por exemplo, deve se empenhar em maximizar o lucro dos seus acionistas, entre eles o Governo Federal? Ou será que deve privilegiar o bem estar da população brasileira como um todo, não reajustando os preços dos combustíveis e trabalhando mais ativamente em prol da redução da poluição, sustentabilidade etc?
A provocação é proposital para que você opine a respeito da governança corporativa praticada pelas empresas. Os limites não são claros, nem há certo ou errado, mas será que sabemos, enquanto acionistas, o que realmente devemos esperar dessas companhias? O que você sabe sobre governança facilita o investimento em ações? A questão é importante!
——
André Motta, editor do blog Trader Sem Mistérios, é Engenheiro Civil formado pela Universidade Federal do ES, pós-graduado em Finanças pelo IBMEC-MG e mestrando em Administração pela FUCAPE Bussiness School (Vitória-ES).
Crédito da foto para Marcio Eugenio.