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Grau de investimento chegou cedo? Ótimo!

por Ricardo Pereira
3 min leitura

Grau de investimento veio mais cedo? Ótimo!A agência de classificação de risco Standard & Poor´s anunciou, nesta quarta-feira (30), a elevação do rating do Brasil a grau de investimento. A boa notícia surpreendeu por ter sido reportada e comentada em véspera de feriado nacional, antes do que esperava o mercado. Era senso comum de que a estabilidade da economia brasileira e o bom desempenho alcançado mesmo durante a grave crise econômica dos Estados Unidos trariam em breve a conquista do grau de investimento.

Entretanto, nem mesmo o economista mais otimista supunha que ele chegaria antes do terceiro trimestre deste ano. O grau de investimento é uma classificação dada pelas agências de risco a títulos de empresas e países com baixo risco de calote. No caso do Brasil, a Standard & Poor’s foi a primeira agência a classificar o país desta forma. Ela avaliou critérios macroeconômicos e concedeu notas que colocaram o País nesta posição.

Na prática, pensando nos investimentos[bb], o grau de investimento funciona como uma permissão para que instituições e investidores estrangeiros apliquem seus recursos em papéis da dívida brasileira, o que deve atrair ainda mais recursos de fora. Assim, o real deve se apreciar ainda mais frente ao dólar; e as ações de empresas, principalmente de bancos, serão melhor avaliadas pelos investidores e devem subir no curto prazo.

O banco UBS divulgou relatório em que concorda com a avaliação de que a promoção do Brasil ao grau de investimento poderá ajudar no controle das contas externas e da inflação. O banco prevê que a entrada de investimentos externos vai valorizar ainda mais o real, barateando as importações e desestimulando a inflação. Como há entrada de dinheiro, esse movimento compensa a perda de exportações (por causa do real valorizado) e atenua a preocupação com os recentes déficits em conta corrente do país.

Do ponto de vista da economia real, além da possibilidade desta classificação trazer mais investimentos (diretos) para o Brasil, melhorando mais as condições macroeconômicas, as empresas conseguirão captar recursos com taxas mais baixas e assim tendem a ter lucros maiores.

Para os pequenos investidores, maiores chances
Quando um páis recebe o grau de investimento, as empresas (como mencionamos acima) conseguem capitalizar-se de uma maneira mais “barata”. O acesso ao crédito se dá com melhores taxas e boas oportunidades[bb] surgem para todos, em uma cadeia positiva. Repare nos itens abaixo:

IPOs em massa? É bem provável, por exemplo, que algumas empresas que aguardavam para se lançarem no mercado de ações atravé do conhecido IPO – Oferta Inicial de Ações – antecipem os planos e tentem aproveitar os bons ventos que sopram com a concessão do grau de investimento.

Bolsa diante de novos recordes? A elevação do rating da dívida brasileira em moeda estrangeira – passando de “BB+” para “BBB-” com perspectiva estável – promoveu o recorde histórico de pontos do Ibovespa e a maior alta percentual do índice desde 17 de outubro de 2002, ajudando a selar a bolsa como melhor investimento do mês.

O patamar recorde atingido pelo benchmark no último dia do mês, 67.868 pontos, simboliza a recuperação da bolsa brasileira, que vem de expressivas perdas em março. Prova disso é que entre os 21 pregões de abril, apenas 7 marcaram recuo no índice Ibovespa.

Aquilo que sempre defendemos por aqui ganha força extra: os investimentos em ações[bb] por parte dos pequenos investidores, pensando sempre no médio ou longo prazo, podem apresentar ótimas rentabilidades.

Tudo acontece agora, mas e o longo prazo?
O grau de investimento também pode estimular o governo a emitir títulos de longo prazo para o mercado doméstico, a fim de melhorar o perfil da dívida interna, concordam analistas. Em um relatório, emitido na quinta-feira, o Credit Suisse disse que a procura dos investidores estrangeiros por papéis em real permitirá que o governo prolongue a duração média da dívida.

Nesse cenário, o governo poderá substituir os títulos pós-fixados (LFTs) por papéis vinculados à variação da inflação (NTN-B) ou pré-fixados (NTNF), segundo Daniel Tenengauzer, diretor de estratégia cambial global do Merrill Lynch, em Nova York.

“Os papéis flutuantes não são mau negócio para ter em termos de carteira de risco, mas uma coisa a respeito do Brasil é que a participação dos LFTs é grande demais. É uma ótima oportunidade, mas se o Tesouro vai aproveitá-la para fazer algo é outra questão”

Cautela nas expectativas
Alguns ótimos articulistas de economia, como Vinícius Torres Freire (Folha), alertam também para o fato de que outros países, como Rússia e Argentina, já estiveram em posição semelhante e acabaram por instaurar calotes e jogar longe as boas perspectivas trazidas pelo dinheiro estrangeiro. Além disso, também alertam para a recente crise moral das agências de risco, que deram ótimas notas ao mercado imobiliáro americano (entrou em colapso). Um pouco de cautela é sempre importante.

Admito que hoje exagerei um pouco no “economês”. Desculpe, mas quando um evento como esse acontece a explicação e os prováveis desdobramentos passam por uma explicação mais técnica. É normal e interessante que surjam dúvidas. Deixe sua opinião por aqui e também no Forum Sociedade Dinheirama. Bom final de semana!

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Ricardo Pereira é Analista Financeiro Sênior da ABET Corretora de Seguros, trabalhou no Banco de Investimentos Credit Suisse First Boston e edita a seção de Economia do Dinheirama.
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Crédito da foto para Marcio Eugenio.

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