Tudo o que temos em termos de produção de conhecimento no mundo ocidental tem alguma influência do pensamento filosófico da Grécia. Algumas das mentes mais brilhantes que passaram por este planeta saíram de lá.
Quem teve a oportunidade de estudar filosofia, conhece um pouco dos pensamentos de Sócrates, Aristóteles, Platão, entre tantos outros. Os gregos são responsáveis, em grande parte, pelos conceitos políticos que temos hoje.
Mas o que tomou grande parte dos noticiários nos últimos meses não é a relação da Grécia com a base do conhecimento ocidental, mas sim sua situação econômica. O país atravessa uma grave crise econômica, com problemas se arrastando desde o final da última década.
O ápice dessa situação aconteceu agora, dia 01/07, quando o governo grego não pagou a parcela de um empréstimo ao Fundo Monetário Internacional (FMI), de cerca de € 1,6 bilhão. Com o calote, a Grécia foi o primeiro país considerado desenvolvido a não pagar suas dívidas com o FMI.
A crise grega: fim do pacote de estímulos econômicos
Engana-se quem pensa que a situação grega está assim há pouco tempo. Para piorar tal situação, o pacote de ajuda à Grécia, dado pela União Europeia (UE), também terminou. Iniciado em 2012, este pacote foi estendido por duas vezes.
Resumindo: a Grécia possui uma dívida em atraso e não conta mais com ajuda da UE. O resultado? Uma economia caótica, prestes a entrar de vez em colapso (e ainda se arriscando a sair da chamada Zona do Euro, o que significaria voltar a usar o dracma). Como um país com uma cultura tão desenvolvida chegou neste ponto?
Grécia: má administração pública é a raiz de todo mal
Que fique claro que apesar de ter ganho mais espaço nos últimos dias, a crise grega se arrasta há algum tempo. O déficit orçamentário do país é enorme. Esta relação entre a diferença entre o que o país arrecada e gasta foi de 13,6% em 2009. Este dado é mais do que apenas um indício de crise, já que ele é quatro vezes maior do que o tamanho permitido pelas regras da Zona do Euro.
Desde então, os déficits do governo só aumentaram. Com isso, os investimentos no país praticamente foram nulos, o PIB desabou e a crise só aumentou. O cenário que temos hoje é resultado de problemas que se repetem desde 2008, com agravamento em 2010.
Não foi por falta de sinais que a Grécia chegou a este ponto. Para cumprir os acordos com os credores, um profundo ajuste fiscal foi promovido para tentar criar condições do país sair desta situação, mas o que era solução também se tornou um problema: com os ajustes, a economia grega não cresceu mais.
A falta de perspectiva e segurança afastou os investidores, que passaram a olhar o país com dúvidas e desconfiança. A população decidiu colocar na condução do país um partido de esquerda, que na campanha prometeu acabar com a austeridade imposta, renegociar os pacotes aceitos e fazer mudanças na condução econômica.
Como aprender com os erros da Grécia
É verdade que de 2008 para cá, inúmeros países considerados desenvolvidos surpreenderam o mundo com péssimos desempenhos econômicos. Todos olhamos com espanto problemas graves em países como Irlanda, Espanha, Itália e Portugal.
O caso grego parece mais significativo porque o governo tentou esconder falhas graves na gestão do dinheiro público. Recorrentes denúncias de corrupção e de fraudes, gastos excessivos e um estado que consumia grande parte dos recursos com o funcionalismo, algo muito semelhante ao que presenciamos hoje no Brasil, resumem o que aconteceu por lá.
Tudo isso só aumentou a desconfiança do mercado e fortaleceu a ideia de que a Grécia pode sair da zona do euro a qualquer momento, principalmente se o referendo popular convocado pelo atual Primeiro Ministro, Alexis Tsipras, for no sentido de não aceitar a proposta dos credores internacionais.
Proposta que na prática já nem existe, visto que o governo desistiu das negociações e não honrou o pagamento da dívida dentro do prazo. A situação é bem complicada e opinar sobre os desdobramentos agora seria irresponsável.
Os ensinamentos que podemos tirar dessa grave crise econômica na Grécia são amplas, mas de simples compreensão: a primeira lição passa pela necessidade de uma administração pública correta, sem maquiagens e priorizando crescimento sustentável, baseado em reformas contundentes e que de fato deixem o estado mais ágil, seguro e previsível (itens fundamentais para seduzir investidores).
Outro ponto importante é a capacidade de realizar reformas e ajustes a partir de um mínimo de estabilidade interna. Olhando o exemplo brasileiro, percebemos quão frágil é nosso ajuste. O governo, debilitado, tenta impor um ajuste fiscal, bombardeado pela incapacidade de convencer a sua própria base sobre a necessidade de mudanças.
Conclusão
Os desafios da Grécia são muito mais penosos (por enquanto) do que os do Brasil. Cabe acompanhar os acontecimentos de perto e torcer para que as reformas necessárias possam ser minimamente realizadas, mesmo que nesse momento muitas pessoas sejam atingidas pelo “remédio amargo” chamado ajuste fiscal. Vejamos.
Foto “Greek crisis”, Shutterstock.