O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, defendeu nesta quarta-feira a realização de um acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia em um evento em São Paulo no qual, cerca de uma hora depois, o presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou que, como está, o pacto é muito ruim.
Em sua fala no Fórum Empresarial Brasil-França, realizado na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Haddad fez um paralelo entre as negociações para o acordo comercial entre os dois blocos e a reforma tributária aprovada no ano passado.
“Temos tempo ainda, é bem verdade que perdemos uma oportunidade no final do ano passado, mas não devemos desistir deste acordo. Se foi possível aprovar uma reforma tributária depois de 40 anos, por que não depois de 20 aprovar um bom acordo para a União Europeia e para o Mercosul”, disse Haddad.
O ministro afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que buscava firmar o acordo no ano passado quando o Brasil estava na presidência rotativa do Mercosul, tem procurado aproximar o Brasil e o Mercosul da Europa e continuará a fazê-lo.
“O presidente Lula investiu muito, muito do seu tempo no ano passado, vai continuar investindo numa aproximação maior com a União Europeia”, disse.
Haddad afirmou ainda que é necessário explorar ao máximo as oportunidades entre os dois blocos e buscar um acordo benéfico para ambos.
No entanto, discursando cerca de uma hora depois no encerramento do mesmo evento, Macron jogou um balde de água fria nas esperanças de uma conclusão do acordo.
O presidente da França expressou a visão de que, como está, o potencial acordo é muito ruim para os dois lados. Ele disse ainda que um novo acordo precisa ser responsável em relação ao clima e à biodiversidade.
“Como está sendo negociado hoje, é um acordo muito ruim, para vocês e para nós”, disse Macron. “Vamos forjar um novo acordo à luz dos nossos objetivos e da realidade, um acordo comercial que seja responsável pelo desenvolvimento, pelo clima e pela biodiversidade.”
A oposição de Macron ao acordo entre UE e Mercosul tem sido um dos principais obstáculos à concretização do pacto, amplamente defendido pelo governo brasileiro.
O setor agrícola da França se opõe a um acordo com o Mercosul devido a receios com as exportações mais baratas de produtos agropecuários dos países sul-americanos.
Agricultores em vários países europeus têm protestado contra as importações baratas que competem com sua produção e contra as regulamentações ambientais do bloco, o que levou a autoridades de Bruxelas a recuarem em algumas dessas medidas.
Além disso, Macron terá neste ano o desafio das eleições para o Parlamento Europeu, para as quais a extrema-direita francesa, liderada por Marine Le Pen, tem mostrado força, segundo as pesquisas.