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IA sob escrutínio: Super Micro cai 30% com possível fraude

Auditora Ernst & Young disse não poder mais confiar na gestão da empresa, em meio a dúvidas sobre balanços financeiros recentes

por Gustavo Kahil
3 min leitura
Supermicro SMCI

A Ernst & Young decidiu abandonar a auditoria da Super Micro Computer (SMCI), uma fabricante de servidores com sede no Vale do Silício, Califórnia, avaliada em US$ 20 bilhões, em uma medida que levou a ação da fabricante de chips a despencar 30% em Nova York.

Segundo documento protocolado a reguladores, a EY disse não poder mais confiar na gestão da empresa, em meio a dúvidas sobre balanços financeiros recentes.

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A EY também expressou ceticismo sobre independência do Conselho de Diretores da Super Micro em relação ao CEO Charles Liang e outros executivos.

Em julho, a Super Micro já havia suspendido por tempo indeterminado a divulgação de um relatório anual para investidores.

Às 14h30 (de Brasília), a ação da Super Micro chegou a despencar 33% na Nasdaq. A empresa anunciou hoje que fornecerá uma atualização de negócios do primeiro trimestre fiscal de 2025 na terça-feira, 5 de novembro.

CEO da Super Micro, Charles Liang, teria usado empresas dos seus irmãos para simular receitas
CEO da Super Micro, Charles Liang, teria usado empresas dos seus irmãos para simular receitas (Imagem: Facebook/ Super Micro)

O que foi dito?

A Super Micro Computer anunciou hoje a renúncia da Ernst & Young LLP (EY) como sua firma de auditoria independente, decisão comunicada por meio de uma carta formal enviada ao comitê de auditoria da empresa no dia 24 de outubro de 2024. A EY havia sido contratada para realizar a auditoria das demonstrações financeiras do ano fiscal encerrado em 30 de junho de 2024, mas renunciou antes de concluir a revisão, citando preocupações sobre governança, controle interno e comunicação da empresa.

A empresa informou que já iniciou o processo para selecionar uma nova auditoria independente e autorizou a EY a colaborar integralmente com a futura firma de auditoria. A renúncia da EY foi justificada por preocupações levantadas ao longo do processo de auditoria, especialmente em relação ao comprometimento da empresa com valores éticos e de integridade, conforme definido no princípio 1 do COSO Framework. A EY também questionou a independência do comitê de auditoria e do conselho de administração em relação ao CEO e a outros executivos, o que impactou sua confiança nas informações apresentadas pela gestão da empresa.

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Em resposta às preocupações da EY, o conselho de administração da Super Micro formou um comitê especial para conduzir uma investigação interna, envolvendo a firma de advocacia Cooley LLP e a consultoria Secretariat Advisors.

O comitê ainda não concluiu a revisão, mas a Super Micro afirmou que está comprometida em revisar minuciosamente as recomendações ao final do processo. Embora a empresa tenha manifestado discordância com a decisão da EY, ela assegurou que irá considerar as conclusões do comitê especial e adotar as medidas corretivas que forem indicadas.

Manipulação na Super Micro

Uma recente investigação de três meses realizada pela Hindenburg Research revelou uma série de irregularidades na Super Micro Computer. O relatório detalha evidências de manipulação contábil, transações não divulgadas entre partes relacionadas, falhas no cumprimento de sanções e controles de exportação, além de problemas significativos com clientes.

Ela é uma empresa icônica no setor de componentes de inteligência artificial, conhecida por ter grande percentual de sua receita ligada à temática, que chegou a subir mais de 1200% desde o lançamento do ChatGPT, em novembro de 2022.

Dinheirama listou os 4 principais achados do relatório da Hindenburg e fez um resumo sobre o assunto que fez Wall Street ficar em alerta máximo para as empresas do setor.

1 – Manipulação contábil

A Hindenburg descobriu que a Super Micro começou a reincidir em práticas contábeis questionáveis logo após resolver um escândalo anterior com a SEC (Securities and Exchange Commission). A empresa foi temporariamente deslistada da Nasdaq em 2018 por não apresentar demonstrações financeiras e, em 2020, foi acusada pela SEC de “violações contábeis generalizadas”, incluindo o reconhecimento indevido de mais de US$ 200 milhões em receitas.

Um ex-funcionário relatou que a pressão constante para cumprir metas de vendas resultava em práticas como o envio de produtos defeituosos ou parciais no final dos trimestres fiscais. Esses relatos são corroborados por um processo movido em abril de 2024, que alega que a Super Micro esperou apenas três meses após o acordo com a SEC para reiniciar o “reconhecimento indevido de receitas” e a “circunvenção dos controles contábeis internos”.

Mesmo após pagar um acordo de US$ 17,5 milhões à SEC, a Super Micro recontratou executivos envolvidos no escândalo e, em poucos meses, retomou práticas de reconhecimento de receita inadequadas. Um ex-diretor de vendas da empresa confirmou: “Quase todos eles estão de volta. Quase todas as pessoas que foram demitidas por causa dessa má conduta.”

2 – Transações com partes relacionadas não divulgadas

O relatório da Hindenburg aponta que a Super Micro tem relações comerciais significativas com empresas controladas pelos irmãos do CEO Charles Liang. Nos últimos três anos, a Super Micro pagou cerca de US$ 983 milhões para essas empresas, como a Ablecom e a Compuware. Essas transações levantam suspeitas de manipulação de margens e práticas contábeis dúbias, uma vez que as entidades relacionadas parecem funcionar quase exclusivamente para a Super Micro, com 99,8% das exportações da Ablecom para os EUA destinadas à Super Micro.

Essas empresas têm uma relação circular com a Super Micro, recebendo componentes da empresa, montando-os e revendendo-os de volta.

Além das transações com partes relacionadas divulgadas, a Hindenburg encontrou evidências de partes relacionadas não divulgadas. O irmão mais novo do CEO da Super Micro possui duas entidades baseadas em Taiwan que fabricam componentes para servidores. Ambas operam a partir do mesmo parque tecnológico da Super Micro em Taiwan, mas a empresa não divulgou transações relacionadas com essas entidades.

3 – Sanções e exportações de IA

Desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, as exportações de produtos da Super Micro para a Rússia triplicaram, desafiando as restrições impostas pelo governo dos EUA. O relatório identificou que mais de 46 empresas envolvidas no manuseio de produtos da Super Micro para a Rússia estão agora sob sanções ou em listas de vigilância do governo dos EUA. A Hindenburg sugere que esses componentes de alta tecnologia podem estar sendo desviados para uso militar no campo de batalha.

O relatório também destaca que quase dois terços das exportações da Super Micro para a Rússia desde a invasão correspondem a componentes de “alta prioridade” que, segundo advertências do governo dos EUA, podem estar sendo desviados para o campo de batalha.

A Hindenburg identificou que uma das maiores importadoras de produtos da Super Micro na Rússia é uma fornecedora de um dos maiores “supercomputadores” da Rússia, em um centro de pesquisa que antes era secreto e agora está sob sanções.

4 – Problemas com clientes e qualidade

A Hindenburg identificou uma série de problemas de qualidade e atendimento ao cliente, levando grandes clientes a abandonarem a Super Micro. Empresas como Tesla (TSLATSLA34) e Digital Ocean, que antes utilizavam exclusivamente os servidores da Super Micro, agora estão migrando para concorrentes como Dell (DELLD1EL34) citando problemas de confiabilidade e suporte pós-venda inadequado.

A Hindenburg relata que a Super Micro enfrenta uma crescente concorrência de gigantes tecnológicos como a Dell, que está oferecendo produtos e serviços mais confiáveis e de melhor qualidade. A empresa também está perdendo sua exclusividade com grandes clientes, como a CoreWeave, que recentemente fechou um grande contrato com a Dell para a compra de milhares de servidores de GPU.

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