Impressão de dinheiro seria uma alternativa interessante para esse momento econômico do Brasil?
O assunto ganhou espaço em meio ao avanço da pandemia e o impulso foi ainda maior quando o ex-presidente do Banco Central, e ex-ministro da Economia Henrique Meirelles falou sobre o assunto. Acompanhe:
“O Banco Central tem grande espaço de expandir a base monetária, ou seja, imprimir dinheiro, na linguagem mais popular, e, com isso, recompor a economia. Não há risco nenhum de inflação nessa situação”
Henrique Meirelles, ex Ministro da Fazenda e ex-Presidente do Banco Central
A entrevista foi concedida à BBC News Brasil, ele diz que isso deve ser feito inclusive com a impressão de dinheiro pelo Banco Central (BC) e com a captação de recursos pelo Tesouro Nacional por meio da emissão de dívida. Meirelles sempre foi um economista reconhecido por defender o controle rígido dos gastos públicos fazendo do rigor fiscal sua principal marca.
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Impressão de dinheiro quais os desdobramentos
É notório que o assunto não é simples e merece amplo debate, os argumentos pró e contra são diversos, principalmente quando considerada a real situação da economia brasileira frente aos desdobramentos da pandemia do Coronavírus.
Na Wikipedia existe uma boa definição para a impressão de dinheiro: “Quantitative easing (QE), conhecido também como flexibilização quantitativa, afrouxamento quantitativo ou política de harmonização financeira quantitativa é uma ferramenta de afrouxamento monetário que visa a criação de quantidades significantes de dinheiro novo eletronicamente, por um banco, mas autorizado pelo Banco Central, mediante o cumprimento das normas de percentuais pré estabelecidos. É um jargão para uma ação de política monetária do Banco Central.
A estratégia macroeconômica usualmente empregada pelo banco central de um país sob risco de deflação, no curto prazo, é alterar a taxa básica interbancária de juros, mas quando essa taxa está próxima de zero, a estratégia é ineficaz. É sob tais condições que o quantitative easing pode ser útil.
A quantidade de moeda produzida em quantitative easing é denominada valor expandido e é criado maciçamente, por isso é chamado um relaxamento (flexibilização). Os Bancos Centrais, que nem sempre são públicos, normalmente somente imprimem dinheiro físico para inserção no mercado e também para comprar títulos.
Sob efeito de quantitative easing, os bancos centrais usam o dinheiro eletronicamente criado para comprar grandes quantidades de títulos bancários no mercado financeiro e de capitais. Isto aparece como depósitos e entrega dinheiro novo para os bancos emprestarem. Estes títulos podem ser títulos do governo, empréstimos comerciais ou até ações. Quantitative easing geralmente é usado para estimular a economia e novos empréstimos. O inventor desta estratégia em 2013 renegou e criticou esta estratégia.
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Impressão de dinheiro: mas como reagiram os demais economistas
A impressão de dinheiro é realmente um tema muito polêmico e Meirelles foi taxativo em definir que a impressão de dinheiro seria uma alternativa para vencer um perigo ou mal maior.
“Olha, dos males o menor. Qual é a alternativa (ao aumento de dívida)? A alternativa é um colapso econômico”, alerta.
A partir da polêmica entrevista, alguns economistas de renome se manifestaram em diferentes momentos:
O atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em entrevista ao portal UOL se mostrou contrário à ideia de Henrique Meirelles.
“Eu acho que o argumento de imprimir dinheiro porque a inflação está relativamente baixa é perigoso porque se temos um sistema de meta de inflação que tem assimetrias, se você imaginar que, quando você está embaixo, você vai imprimir dinheiro para atingir a meta, você vai fazer com que o seu equilíbrio de juros neutros seja um pouco mais alto.
Eu acho que a saída não é por aí. “
Outros economistas também se posicionaram sobre o tema. O portal einvestidor do Grupo Estado, preparou uma excelente matéria especial sobre o tema (clique para ler).
Na matéria alguns nomes de peso da economia brasileira, como Alvaro Bandeira, economista chefe do banco digital Modalmais, se mostraram favoráveis a impressão de dinheiro.
“Estamos em um esforço de guerra e tudo tem que ser feito para tentar equilibrar os efeitos do Covid-19 na economia”, diz. “O BC tem mesmo que emitir título e endividar o Tesouro ou emitir moeda.”
Outros se mostraram contrários como Alexandre Schwartsman, economista e ex-diretor de assuntos internacionais do Banco Central
“Para criar uma reserva bancária, seria necessário entregar títulos públicos com compromisso de recompra. O problema é que isso pode gerar um excesso de liquidez e fazer com que a Selic fique abaixo da meta”
O atual ministro da Fazenda, Paulo Guedes, afirmou que país pode emitir moeda se houver desemprego em massa
“Se você cair em uma situação de desemprego em massa, de que inflação vai para 0% e juros colapsam existe a armadilha da liquidez tecnicamente. O BC pode emitir moeda e pode sim comprar a dívida interna. Se a taxa de juros for muito baixa ninguém quer comprar título longo e aí pode monetizar a dívida sem que haja impacto inflacionário. Estamos atentos a todas as possibilidades “.
Paulo Guedes, Ministro da Fazenda governo
Impressão de dinheiro um remédio amargo para a economia do Brasil?
Está claro que tamanho da crise econômica que surgirá a partir de agora é quase que incalculável. O país demorou muito para se mexer e buscar alternativas que garantissem elementos mínimos à população.
O interesse do governo, principalmente do presidente Jair Bolsonaro, em testar o medicamento cloroquina, que ainda não se mostrou tecnicamente eficiente, se choca com a demora em apresentar projetos econômicos que seja de fato eficientes, mesmo que, com efeitos colaterais.
O esforço para garantir um voucher de R$ 600, principal medida à atender a camada mais carente da sociedade, se choca com ainda grande carga tributária que todos os dias aflige milhões de pessoas.
Alguém já fez a conta de quanto desses R$ 600 voltará para o governo na forma de impostos?
Entre mortos e feridos, impressão de dinheiro seria uma alternativa?
Não gosto muito de cravar uma opinião única em torno de algum assunto, nada de lacração!
Entendo que ninguém estava preparado para agir no meio de uma catástrofe dessa magnitude. Não é fácil pedir às pessoas que fiquem em casa, mas também não é o caminho certo liberar a circulação no meio desse caos.
Hoje, enquanto escrevo esse artigo temos no Brasil confirmados 79.361 casos com 5.511 mortos, muitos especialistas falam que esses números estão longe da realidade, que poderia ser cerca de 10 vezes maiores, caso conseguíssemos testar todas as pessoas.
Estamos realmente em um esforço de guerra e nesse momento todas as ações deveriam ser nesse sentido, precisamos sobreviver e superar esse momento.
Dentro desse cenário, olhando a atual conjuntura a impressão de dinheiro parece ser uma ideia razoável, produzindo um alívio imediato a economia que dentro de um cenário de recessão poderia respirar, ainda que por aparelhos. Tanto na economia, quanto na ciência é importante ouvir todos os lados, levando em conta que vivemos um momento de exceção, em momentos assim, não seria apropriados medidas que também fossem específicas e que fossem uma resposta para o momento?
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Impressão de dinheiro: Ciência x Economia
Não existe uma disputa entre ciência e economia ou ciência e emprego. A ciência está apontando a razão. Cabe ao governo tomar as medidas cabíveis para garantir a saúde e a segurança das pessoas e também em momentos dessa magnitude usar todos os elementos necessários para garantir a continuidade da economia.
Ir contra a ciência e negar o obvio é perigoso e os efeitos são graves. Já percebemos o que aconteceu com outros países que se negaram a seguir as recomendações médicas e cientificas.
A impressão de dinheiro é uma arma da economia para fazer com que a arma proposta pela ciência (quarentena) seja realizada de forma mais natural. Quando tudo isso passar, as discussões serão outras, mas com mais pessoas vivas, seja porque se protegeram do vírus ou porque garantiram seu trabalho e renda.
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Conclusão
O Brasil parece estar no olho do furação. Todos os gráficos mostram que ainda não chegamos no pior momento do contágio do Coronavírus.
O país deve terminar com o endividamento perto do 90% do PIB até o final de 2020. Dadas as circunstâncias, mais do que nunca o país precisaria adotar um discurso de responsabilidade.
Infelizmente, o que temos visto são as questões políticas ganhando peso e ganhando cada vez mais espaço nas discussões do dia-a-dia.
Vale mais uma vez o convite a reflexão, no meio do caos, pode ser que uma medida considerada como caótica, possa apresentar um caminho.
Entre o certo e o errado, o que aprendemos nos livros e nas experiências que tivemos ao longo do tempo, nada chega perto do que estamos vivendo (sobrevivendo) nesses dias de 2020.
Nesse contexto, talvez o assunto da impressão de dinheiro não deveria ser proibido e sim discutido como mais um dos caminhos.
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Até a próxima!