A forte alta nos preços dos alimentos, ocorrida especialmente nos últimos anos, começa a chamar a atenção pelos efeitos sentidos no mundo todo. Sobre a questão, algumas situações e implicações demonstram o quanto ainda temos que avançar sob os aspectos macroeconômicos. Um dos pilares desse aumento é a diminuição da pobreza – principalmente nos paises emergentes – onde a população passou a ter acesso mais decente ao básico para a boa vida humana: a alimentação.
Traduzindo, há um forte aumento da procura (demanda) por mais alimentos. Tal demanda não foi acompanhada – ao menos não na mesma proporção – pela oferta. A produção mundial ficou “estagnada” e foi até reduzida em alguns países, principalmente quando falamos em alimentos básicos como arroz, feijão, milho etc.
Na América Latina, o Brasil se destaca!
Olhando para a América Latina, os analistas concordam com os prognósticos dos órgãos financeiros multilaterais, como o FMI, o Banco Mundial e o BID, para quem a região está mais bem preparada para enfrentar crises econômicas do que em épocas anteriores. Entretanto, é necessário que os governos tomem posições que garantam a viabilidade de uma política austera e sóbria, não deixando pairar dúvidas sobre a credibilidade do sistema.
Na Argentina, por exemplo, as medidas restritivas para exportação do trigo colocam em xeque a viabilidade desse cultivo, já que no “melhor da festa” para os agricultores, no momento em que seria possível aproveitar melhores preços no mercado internacional, o governo simplesmente proibiu a exportação para tentar reduzir o preço do produto no mercado interno.
O que em um primeiro momento parece a luz no fim do túnel se torna o melhor incentivo para que os agricultores rumem em outra direção, em busca de outros tipos de cultivo, deixando diminuir as futuras safras e sua produção. É uma equação um pouco mais complicada, mas podemos considerar esse ato como uma bomba relógio. Mais cedo ou mais tarde, teremos uma explosão.
O Governo acerta…
No Brasil, o Ministro da agricultura, Reinold Stephanes, descarta (a não ser em casos extremos) qualquer tipo de medida restritiva para exportação. No caso do arroz, por exemplo, a safra brasileira atual garante a demanda interna e ainda possibilita um incremento nos negócios fora do país. Vale lembrar, é verdade, que o mercado de arroz ainda é fundamentado no consumo nacional.
Algumas medidas, entretanto, já estão sendo anunciadas para tentar diminuir a pressão sobre os preços. A primeira será justamente o leilão de arroz do estoque federal, marcado para acontecer no dia 5 de maio. Inundando o mercado com seus estoques, o governo quer ver os preços baixarem. É uma medida natural. Se necessário, novos leilões serão realizados.
Enquanto isso nos EUA…
Se por aqui tudo parece sob controle, o mesmo não se pode dizer do que vem acontecendo no mercado internacional. Muitas manifestações populares estão acontecendo mundo afora, especialmente nos países mais pobres.
O medo e a apreensão sobre a possível falta do arroz têm causado um fenômeno raro na história norte americana: as duas maiores redes atacadistas do país limitaram a compra de arroz. A chamada histeria coletiva estava levando as pessoas, indústrias e restaurantes a montar estoques do produto, piorando mais a situação e aumentando ainda mais a escassez.
Sobrou para o biocombustível…
O biocombustível foi (ainda é) criticado e apontado como um dos responsáveis pela queda na oferta dos alimentos no mundo. É preciso separar o joio do trigo. Ou melhor, do milho. Nos Estados Unidos, o biocombustível é produzido a partir do milho.
A utilização do combustível verde oriundo do milho refletiria no preço de um produto (milho) que é importante para a ração animal, aumentando aí o preço de toda uma cadeia, que vai da carne dos animais a todos os derivados do leite.
Diferentemente dos EUA, aqui no Brasil utiliza-se a cana de açúcar para extração do álcool. O grande ‘X’ que se coloca sobre a nossa opção tem relação com os possíveis impactos ambientais, especialmente sobre o desmatamento.
É de se estranhar que as organizações internacionais não se pronunciem sobre a alta do preço do petróleo, sem considerá-lo como um dos principais atores nesse atual momento de inflação mundial. Vale lembrar que sua alta influencia diretamente os processos agropecuário e logístico (transportes), que encarecem o preço final dos alimentos.
Um 2008 caro pela frente!
Espera-se, por aqui e por lá, um 2008 repleto de preços altos. Ao consumidor, vale lembrar que uma das alternativas é a substituição de alimentos muito caros por marcas diferentes ou até mesmo por outros produtos semelhantes em teor nutritivo. A criatividade do brasileiro pode fazer a diferença nessa briga contra os preços altos.
Por hora, a movimentação do governo brasileiro parece estar correta, coesa e bem focada. Estamos todos de olho nos movimentos dos mercados, tentando trazer o noticiário econômico de forma didática e fácil de entender. Fico por aqui. Bom final de semana.
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Ricardo Pereira é Analista Financeiro Sênior da ABET Corretora de Seguros, trabalhou no Banco de Investimentos Credit Suisse First Boston e edita a seção de Economia do Dinheirama.
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Crédito da foto para Marcio Eugenio.