Indicado ao Oscar como melhor documentário, “Inside Job”, o filme conduzido pelo diretor Charles Ferguson, vasculha as entranhas de Wall Street na fase que antecedeu a crise de 2008 com uma lucidez implacável, elucidando as origens do maior tsunami financeiro desde a crise de 1929.
O documentário aponta a origem do caos, quando as leis que impediam a execução, sob o mesmo teto institucional, das atividades de investimentos e banco comercial passaram a ser desrespeitadas em um primeiro momento, para em seguida, serem simplesmente deixadas de lado.
Traz à tona fatos assombrosos, como a existência de um único funcionário da SEC (isso mesmo, uma única pessoa) responsável por toda a gestão e fiscalização de exposição ao risco do mercado financeiro norte-americano. Mostra também as medidas desastrosas do FED, sustentadas e potencializadas por uma condução governamental perigosa para a sustentabilidade econômica, num caldeirão com boas doses de corrupção, vista grossa e irresponsabilidade.
Mas para a observação deste que vos escreve, a parte mais interessante é justamente aquela que aborda o componente comportamental dos executivos e operadores do setor. Tomados por uma falsa sensação de intocabilidade, de propriedade absoluta de poder e inviolabilidade, construíram uma cultura de excessos e insensibilidade crônica, onde, segundo o diretor do filme, havia, e ainda há, a participação explosiva dos elementos drogas e prostituição em larga escala.
Uma alquimia que, ao contrário das fábulas, não produziu ouro, mas tragédias econômicas, desespero e, como resultado, a patinação do maior motor da economia mundial.
No entanto, frustrando as otimistas expectativas de que o caos vivenciado a partir de setembro de 2008 traria um inevitável ajuste e amadurecimento, no qual voltariam a vigorar um pouco mais de prudência e o renascimento da importância da liquidez e da poupança, observamos a letargia, a férrea manutenção do status quo, a infantil crença na capacidade americana de vencer desafios e superar obstáculos. A eterna autoajuda corporativa cegando a realidade.
Caros leitores, fiquem à vontade para discordar ou me criticar, de fato não consumo o “lero lero corporativo” e, portanto, não busco ser o dono da verdade e muito menos venero o otimismo ou o pessimismo, mas cultuo o realismo e o senso crítico.
Neste sentido, faço uma confissão: observando a terra de Lincoln, das famílias Kennedy e Bush, não consigo evitar paralelos com o nosso Brasil. Me assombro com a euforia exagerada, com a crescente cultura do crédito excessivo (mesmo que por anos seja tão escasso), com a permanente crítica ao ato de poupar, com a sensação observada em esclarecidos ambientes de que “agora ninguém nos segura”.
Veja o trailer do filme Inside Job