As últimas semanas estão evidenciando investidores inseguros em todo o mundo. Mais especificamente nas duas últimas a aversão ao risco tomou conta dos investidores que passaram a buscar a segurança de aplicação em títulos em moedas fortes e preferência pelos treasuries americanos. A melhor referência que temos fica pela queda da taxa de juros dos títulos americanos de dez anos e a subida do índice VIX, denominado como “índice do pânico”.
O espectro de uma guerra comercial entre EUA e China voltou com força, a partir da determinação de Donald Trump de aplicar sobretaxa aos produtos importados da China de 25% (anteriormente era 10%). Mesmo com as negociações entre os dois países em curso.
A China, por sua vez, anunciou que tarifará produtos americanos já a partir de 1 de junho. Que foi replicada por Trump pedindo ao Escritório de Representação Comercial (USTR na sigla em inglês) que estude tributação adicional sobre US$ 300 bilhões.
Hoje a situação que temos é essa, mas o presidente Trump acostumado com a fanfarronice (muda de postura como quem muda de roupa) volta a dizer que acredita em bom acordo e encontro com o presidente da China, Xi Jinping, por ocasião da reunião do G-20. Acrescenta ainda que pode fazer acordo com a China “amanhã”, mas que das últimas vezes a China tentou renegociar.
É nesse ambiente que os mercados de risco estão se desenvolvendo no mundo. Se por um lado limitada a atuação dos investidores de maior curso na assunção de posições, de outro introduz grande volatilidade nos preços dos ativos e acirra o comportamento dos especuladores e traders. Vale bastante para o mercado secundário de ações, mas é verdade para o câmbio e juros.
Nesse ambiente indefinido, as moedas de países emergentes sofrem bastante, e citamos o rand da África do Sul e a Lira turca. Mas ainda o nosso real que tem transitado na casa dos R$ 4,00. Países emergentes sofrem mais, mas outros países desorganizados em suas finanças. A Itália, por exemplo, em desalinho de suas finanças e rombo orçamentário puxa o euro para baixo e o dólar nada de braçada no cenário internacional.
Nesse cenário, as hipóteses que se apresentam são as seguintes:
- EUA e China conseguem se compor;
- Não haverá composição.
No primeiro caso, o mundo respirará aliviado e o crescimento e desenvolvimento econômico estará preservado. Porém, países como o Brasil, fornecedores de matérias primas e intermediários, podem sofrer com a necessidade de a China comprar de produtores americanos para equilibrar a balança comercial entre os países.
A hipótese de sobretaxas serem mantidas levaria os países para postura protecionista, onde no médio e longo prazo todos perderiam. No curto prazo (e somente ai), países como o Brasil seriam beneficiados e agricultores americanos prejudicados no fornecimento de soja milho, carnes etc. Tanto é verdade que Trump já decidiu destinar US$ 15 bilhões para ajuda aos agricultores locais.
O não acordo entre as duas potências abriria fissura difícil de ser curada. Teríamos aumento generalizado de preços de bens e serviços no mundo, desequilíbrio entre as moedas, os juros que até poderiam cair (ou estáveis) seriam elevados por conta da inflação. Além de países endividados e empresas correriam sérios risco de inadimplência, o crescimento global estaria comprometido. Temos que convir que esse ambiente não serve para ninguém e muito menos para expansão dos investimentos.
Mercados e preços dos ativos teriam que incorrer em ajustes diante das expectativas mais danosas. É o que queremos especular. Como essa catástrofe econômica não convém a ninguém, e muito menos aos EUA e China. Como Trump é “doido”, mas não é louco e nem irresponsável; hão de chegar a alguma solução que reequilibre os mercados, mantenha a propriedade intelectual e redimensione déficits comerciais.
O mundo e mais especificamente o Brasil, ficaram baratos para investimento. Na hipótese de acordo entre os dois países, ainda que tenhamos outras razões para algum temor. No entanto, reconhecemos ser essa uma aposta de risco.