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Devo investir na bolsa com menos dinheiro (e mais jovem)?

Investir na bolsa de valores parece ser o caminho natural de cada vez mais brasileiros, cada vez mais cedo e com menos dinheiro

por Conrado Navarro
3 min leitura
Mercados, Fundos, Ibovespa. FII, Fundos imobiliários, MSCI

Quem diria que investir na bolsa de valores brasileira seria uma decisão de pessoas cada vez mais jovens? Além de entrar mais cedo no mercado de ações, o investidor brasileiro também aumentou em número e começa com aportes menores.

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Na prática, o movimento mostra que existem mais brasileiros dispostos a investir na bolsa, ainda que comecem com menos dinheiro. Segundo dados divulgados pela B3, de 2018 para 2020 o saldo médio do investidor caiu mais da metade, de R$ 19 mil para R$ 8 mil.

Os investimentos iniciais feitos pelos brasileiros também caíram em proporção semelhante quando comparados dados de 2016 e 2020: os primeiros aportes eram de R$ 3,5 mil em média, mas em março deste ano foram de R$ 1,6 mil.

Parece que investir na bolsa é também uma decisão de investidores com nível de renda menor, o que é muito bom para o mercado como um todo, mas uma constatação que também requer muita atenção do novo investidor que decide abraçar o risco (e vamos falar disso adiante).

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Investir na bolsa é para todos

Existe uma diferença entre simplesmente abrir conta e se tornar mais um CPF cadastrado na bolsa de valores e de fato investir, ou seja, negociar ativos. Entre os novos investidores, prevalece o perfil de quem realiza pelo menos uma operação por mês. O day trade é apenas uma pequena parte.

Em entrevista recente para o jornal Valor, Tarcisio Morelli, diretor de inteligência da B3, confirmou que os novos investidores são pessoas que colocam parte dos recursos em bolsa e aguardam acontecimentos para a tomada de novas decisões. São poucos os que realizam day-trade de forma recorrente”.

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Para entender a mudança no perfil do investidor, precisamos levar em conta a quantidade de novos entrantes. O brasileiro com nível menor de renda passou a investir na bolsa de valores, tanto por conta do maior apelo com os juros mais baixos, mas também pela crescente conscientização acerca da importância da diversificação (e da educação financeira).

Voltando bastante no tempo, para 2011, observa-se que naquele período existiam 238 mil investidores com menos saldo de até R$ 10 mil na bolsa de valores. Os números mais recentes mostram alta de mais de 400% em pouco menos de 10 anos: hoje são mais de 1 milhão de investidores que mantém menos de R$ 10 mil em ativos negociados na B3.

Morelli também foi enfático ao dizer que a base de investidores está cada vez mais jovem, com destaque para os investidores que têm até 39 anos. Hoje, este grupo representa 60% do total de investidores, contra pouco mais de 15% em 2011.

A diversificação por parte dos investidores aumentou também considerando os produtos disponíveis através da B3. Quase metade dos investidores ativos hoje possuem cinco ou mais ativos na carteira, o dobro de três de anos atrás.

A necessidade de arriscar mais para buscar retornos maiores já está presente no dia a dia financeiro de muitos brasileiros, e isso é excelente para o saudável crescimento do mercado de ações. Investir na bolsa de valores é também investir no crescimento do país, o que estimula a economia e gera empregos.

O problema hoje é que o momento requer muita atenção, afinal de contas a pandemia do coronavírus e a incerteza gerada a partir dela tornam incerto o futuro de muitas empresas. Precisamos falar sobre isso, principalmente para os que começam agora sua aventura pelo mercado de risco.

Leia também: Mais investidores na bolsa de valores: loucos, visionários ou nada demais?

Antes de investir na bolsa, atenção para as empresas listadas

O momento atual de enorme pressão no caixa das empresas é um desafio gigante para o futuro próximo, considerando a necessidade de isolamento social, falta de disposição dos consumidores em retornar ao consumo e a nova realidade de renda de grande parte dos Brasil.

Segundo um estudo da consultoria McKinsey divulgado recentemente, apenas uma em oito empresas tem capacidade de honrar seus compromissos financeiros em um horizonte de até três meses. A avaliação foi feita a partir de projeções de 261 empresas de capital aberto listadas na B3.

Considerando o nível de endividamento das empresas analisadas, o estudo concluiu que um terço está em situação muito ruim, com relação entre a Dívida Líquida e EBITDA superior a 3, patamar considerado razoável (administrável) quando em tempos “normais” (o que não é o caso). Este índice mostra o grau de endividamento da empresa.

Para entender melhor, este indicador dá ao investidor uma noção de quanto tempo a empresa levaria para pagar suas dívidas caso a dívida líquida e o EBITDA permaneçam constantes. Com a deterioração das previsões, o índice em alguns casos disparou, podendo pode piorar ainda mais caso a economia não se recupere com tanto vigor – que parece mais provável.

Os cálculos da consultoria mostraram ainda que 26% das empresas avaliadas está quase chegando no patamar de 3 para índice explicado acima, enquanto 15% das companhias possui alto endividamento aliado a valor de mercado abaixo do valor contábil.

O que isso tudo quer dizer agora é que:

  • As empresas terão mais dificuldades para ter acesso a mais crédito. Empresas mais endividadas precisarão renegociar suas dívidas e não terão acesso fácil a novas linhas de financiamento, dependendo mais do retorno da atividade econômica e da tarefa de casa de lidar com custos e despesas de forma mais severa;
  • O efeito cascata pode gerar complicações maiores. Nenhuma empresa é uma ilha, especialmente as de capital de aberto. Há uma cadeia envolvida e os reflexos são e serão vistos por toda sua extensão;
  • A retomada é incerta, e seu efeito imprevisível. As previsões de fluxo de caixa, receita operacional e lucros são feitas e refeitas quase que semanalmente, com cenários diferentes e muitas variáveis. Os modelos usados não conseguiram se aproximar da realidade porque a crise vivida atualmente é sem precedentes.

Para o iniciante que quer começar a investir na bolsa de valores, o cenário não pode ser ignorado. Os preços aparentemente baixos das ações podem esconder negócios com futuro duvidoso, dependentes de situações e cenários hoje distantes da realidade – alguns deles podem não se concretizar.

Por outro lado, empresas com boa situação de caixa, baixo endividamento e bons fundamentos podem se sair melhores. Sempre surgem muitas oportunidades de negócios, como fusões, que podem permitir maior consolidação e vantagens competitivas durante e depois da retomada. O investidor deve estar atento a isso.

Atenção especial também para a questão dos dividendos, que devem ser bastante reduzidos durante este momento – e isso faz sentido porque o foco é a preservação do caixa para atravessar a “tempestade”.

Assim, não adianta apenas olhar o chamado Dividend Yield, mas também considerar os aspectos mencionados neste breve texto, além de analisar mais profundamente a empresa em relação aos seus pares e ao mercado como um todo.

Conclusão

O novo investidor chega antes ao mercado de ações e com menos dinheiro, e isso é muito interessante. Quem deseja investir na bolsa de valores deve antecipar sua entrada, mas não comprar apenas “porque tudo parece estar em liquidação”. O investimento precisa ser consciente e a decisão capaz de ser explicada.

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