Semana de reunião no COPOM (Comitê de Política Monetária) é sempre igual. Alguns defendem uma posição mais austera (se é que isso ainda é possível) do Banco Central e outros defendem uma posição “esperar pra ver no que vai dar”. O fato é que, mesmo sem um consenso entre a cadeia produtiva e o chamado mercado financeiro, é grande a chance de um aumento de 0,25% na taxa básica de juros, a famosa Selic.
A grande pergunta que fica é: até que ponto essa mudança será capaz de conter a inflação? Vamos começar do começo. Qual o motivo para a inflação despertar de um sono tão pesado? Na prática, a resposta não é tão simples, afinal o fenômeno inflacionário é mundial. Nos EUA, nem a recessão, que poderia ser um remédio amargo, mas eficaz, não está sendo suficiente para conter os índices de inflação.
A jogada do Banco Central ao elevar a taxa Selic é a tentativa paradoxal de reduzir o consumo. Parece-me que o remédio de outrora pode agora ser uma pequena armadilha. O consumo, tão criticado e há pouco descoberto e experimentado pelas famílias brasileiras, não é o principal responsável pela inflação.
Veja as palavras do Ministro Guido Mantega:
“Se tirarmos os alimentos, a inflação doméstica é de 2,4%. A pressão dos alimentos vem de fora, via preços de commodities, que não podemos controlar”
O Ministro Mantega foi direto ao ponto e parece (enfim) ter razão. As chamadas commodities, agora supervalorizadas, são as verdadeiras responsáveis por esse aumento incontrolável nos preços dos alimentos mundo afora.
Não podemos esquecer de mencionar os gastos elevadíssimos para manutenção da máquina pública, que caracteriza o governo como (mau) gastador. Aumentar, nesse momento, a taxa básica é “operar a perna errada” e castigar da maneira mais cruel quem só agora começa a enxergar os benefícios de uma economia estável.
PIB real e PIB potencial
Algumas das principais agências de classificação de risco e bancos de investimento dos EUA afirmaram ontem que o Brasil está crescendo acima de seu potencial, com riscos inflacionários, e que o país deveria elevar o juro agora para conter os preços.
Standard & Poor’s, Moody’s, Fitch, Goldman Sachs e JPMorgan vêem o risco de aceleração de preços concentrado principalmente nos alimentos. Para a maioria deles, o Brasil tem potencial para crescer entre 4% e 4,5% sem pressões de inflação ou de forte aumento das importações. Em 2007, você se lembra, o país cresceu 5,4% com a inflação sob controle.
Voltamos ao início da discussão. Acredita-se que o potencial de infra-estrutura do país não está crescendo na mesma proporção da demanda por produtos e serviços. Isso, de certa forma, estimula a inflação. Faz sentido!
Talvez a ação correta seja, justamente, a de incentivar o investimento direto, reduzindo o tamanho do Estado através de mais privatizações, integradas com ações já realizadas no atual momento e que possibilitem um maior potencial de crescimento. Talvez. Parece que buscar formas de limitar o crescimento para conter a inflação não é a melhor saída. Parece.
Investimentos, dólares e especulação
Ao elevar os juros, o Banco Central exporá um outro problema peculiar dos nossos dias: o câmbio. É impossível não imaginar que muitos dólares, motivados por juros mais altos, entrarão no país, pressionando ladeira abaixo a cotação da já minguada moeda americana.
Para o diretor do Instituto de Economia Gastão Vidigal, da ACSP (Associação Comercial de São Paulo), Marcelo Solimeo, um aumento na Selic afetará mais os investimentos que o consumo – exatamente o ponto de preocupação do Governo:
“Normalmente, uns dois dias depois da decisão ocorre certa retração nas vendas, mas depois o comprador vê que não é com ele”
O papel do Banco Central é, sem dúvida, zelar pela controle rígido da inflação e para isso não poderia de forma alguma esmorecer quando o diagnóstico certo é feito. Vejamos se o tom da decisão de hoje será o desejado por todos nós. Mas e você, o que pensa sobre isso? O Copom deve mesmo aumentar a taxa de juros?
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Ricardo Pereira é Analista Financeiro Sênior da ABET Corretora de Seguros, trabalhou no Banco de Investimentos Credit Suisse First Boston e edita a seção de Economia do Dinheirama.
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Crédito da foto para Marcio Eugenio.