Em uma eleição em que um candidato sofreu um atentado e outro desistiu da disputa sob forte pressão dos amigos do partido, é um risco gigante fazer qualquer afirmação.
A língua corre o risco de sair chamuscada. Mas tô para afirmar com todas as letras que ninguém tira a nomeação da Kamala Harris para a disputa com Trump.
Quando o Biden apareceu como um morto-vivo no debate com Trump, há quase um mês, os democratas foram rápidos no ‘pede pra sair’. Mas eles foram dez mil vezes mais rápidos em apoiar a Kamala Harris como substituta.
Vamos aos fatos:
— Biden a ungiu 27 minutos depois de anunciar que estava desistindo, no domingo à tarde.
— Kamala fez mais de 100 ligações para buscar apoio, somente no domingo.
— Nancy Pelosi, a toda poderosa do partido e ex-presidente da Câmara, anunciou seu apoio um dia depois. Ela manda em 500 delegados do partido. Cerca de 4.600 votam para decidir quem será o candidato.
— Pesquisa da Associated Press mostra que ela já teria o apoio de 2.400 delegados, sendo que precisaria de apenas 1.976 para ser a escolhida como candidata.
— Os doadores despejaram 100 milhões de dólares, mais de meio bilhão de reais, na campanha, em 24 horas.
— Cinco governadores que eram cotadíssimos como possíveis concorrentes de Kamala, já declararam seu apoio à Veep (é como os americanos chamam os vice-presidentes). Ou seja, não tem disputa.
— Até uns perdidos que queriam concorrer contra Kamala em uma convenção aberta já desistiram da empreitada.
— Em menos de 48 horas, 186 membros democratas da Câmara, 43 senadores e 23 governadores deram seu apoio à Kamala. Outros 23 não apoiaram, mas disseram que ela está indo muito bem.
— A, B ou C, digo, a Beyoncé, deu permissão para Kamala usar a sua música “Freedom” na campanha.
— Mais de 28 mil voluntários entraram para trabalhar na campanha desde que o Biden passou a tocha, no domingo.
— Sindicatos que representam mais de 13 milhões de trabalhadores declararam apoio.
— O candidato a veep do Trump já se mostrou chateado que agora não tem com quem debater. Lá os vices debatem com os vices.
Predador, trapaceiro, fraudador
Os democratas gostaram que Kamala já saiu detonando o Trump.
“Antes de ser eleita vice-presidente, antes de ser eleita senadora dos Estados Unidos fui a procuradora-geral eleita, como mencionei, na Califórnia, e antes disso, fui promotora de tribunal. Nessas funções, assumi perpetradores de todos os tipos. Predadores que abusaram de mulheres. Fraudadores que enganaram os consumidores. Trapaceiros que quebraram as regras para seu próprio ganho. Então ouça-me quando digo que conheço o tipo de Donald Trump.”
Ou seja, ao renunciar à candidatura, Joe Biden fez o favor de mudar a pauta da campanha. Se antes todo mundo só queria saber se ele sobreviveria à próxima entrevista, agora falar mal de Trump voltou a ser o esporte preferido número 1.
Mas, porém, todavia, entretanto, contudo, ela continua sem o apoio do Obama. Deve ser questão de tempo. Vai ver choveu ou nublou.
Golpistas
Os republicanos correram tentar emplacar a ideia de que os democratas não são democráticos porque deram o golpe no Biden. E que o Obama junto com o George Soros é que decidiram, em uma sala escura, tirar o Biden da disputa. Quem mandou essa foi o DJ, digo, o JD Vance.
“Isso é uma ameaça à democracia”.
O veep do Trump ofuscado
O tal DJ, digo, JD Vance, o senador de 40 anos que foi escolhido pelo Trump para ser seu vice, deu seu primeiro discurso. Foi tão fraco que até a Fox News cortou a transmissão no meio. E ainda foi ofuscado pelo senador de Ohio, George Lang, que me saiu com essa na abertura do comício:
“Acredito sinceramente que Donald Trump e JD Vance do condado de Butler são a última chance de salvar o nosso país politicamente, temo que se perdermos este, será necessária uma guerra civil para salvar o país, e ele será salvo.”
Gente, agora tá todo mundo virado no Maduro? Como assim, Tixa? É, darling, o Maduro, sim, o da Venezuela, disse outro dia que vai haver banho de sangue e guerra civil se ele não for eleito no domingo.
Depois o senador pediu desculpas pelos “comentários divisivos.”
Trump reclama
Ele diz que vai ter que começar tudo de novo. Vai mesmo, inclusive terá que começar a falar de sua saúde e sua idade. Ele agora é o candidato mais velho da história das eleições americanas.
O jornalista Tim Alberta, do The Atlantic, que fez no início do mês uma extensa reportagem com os estrategistas da campanha de Trump diz que eles não estavam preparados para a saída de Biden. Jamais acreditavam que alguém largaria mão do poder. E foi por isso que Trump escolheu o JD Vance, que é mais do mesmo de Trump. “Era uma espécie de luxo.”
Atentado
E a chefona do Serviço Secreto não conseguiu até agora explicar o que aconteceu no atentado contra Trump. Só disse que foi “a falha operacional mais significativa do Serviço Secreto em décadas”. Isso todo mundo pôde notar. Ela não quer saber de pedir demissão, e olha que Republicanos e Democratas estão pedindo a cabeça dela.
De olhos nas pesquisas
Aqui nesse cantinho a gente mostra como estão a média das pesquisas para um candidato e outro. Desde ontem, substituímos Biden por Harris. Estamos em crise para saber se a chamamos de Kamala ou Harris. Pela média calculada pelo RealClearPolitics, a diferença entre Trump e Harris está em 2 pontos. Já pela média do New York Times, com base no projeto FiveThirtyEight da ABC, a diferença entre os dois é de 3 pontos, a favor de Trump.