Meire comenta: “Navarro, depois de algum tempo desempregada e sem renda, finalmente consegui um novo emprego. No entanto, tenho muitas dívidas trazidas da época em que meu padrão de vida era melhor e nosso consumo era mais elevado. Não sei como começar a enfrentar o endividamento de maneira a me livrar dele sem perder qualidade de vida e a alegria de trabalhar. Quero negociar e pagar minhas dívidas, mas estou presa no medo de começar. Pode me ajudar?”
As perspectivas econômicas do país são as melhores possíveis. O ciclo de crescimento e migração social parece ter tomado força. Tomar dinheiro emprestado se tornou atividade corriqueira, simples e sem burocracia. O trabalho formal atingiu números recordes. O índice de confiança, tanto do empresário quanto do consumidor, está lá em cima. Sua vida provavelmente melhorou. A minha também.
O parágrafo anterior representa o retrato de um Brasil melhor, não há como negar, mas que ainda guarda desafios especiais para quem vive suas primeiras oportunidades de lidar com dinheiro e para milhares de famílias que veem, depois de muito esperar, a possibilidade de consumir, comprar supérfluos e também ter acesso ao crédito. O endividamento excessivo ainda atrapalha a vida de muitos brasileiros.
Onde as dívidas começam? Por quê?
Como parte do raciocínio que envolve a avaliação da situação de uma família, é importante levantar uma questão: quem são os verdadeiros responsáveis por tantas e tamanhas dívidas? A necessidade de apontar um culpado costuma diagnosticar protagonistas completamente equivocados: o banco, o lojista, os juros, a facilidade de comprar, o cartão, os filhos, o marido, a esposa. O outro, como bem aborda Bernadette Vilhena no excelente artigo “Escolha o caminho certo: opte pela qualidade de vida”.
Do palácio do comodismo, área também conhecida e apresentada em muitos livros como zona de conforto, apontamos o dedo para todos aqueles que influenciam nossas vidas. O piloto automático transforma o dia a dia em cotidiano, o hábito em falta de atitude, o sujeito em vítima. Vítima da própria ingenuidade ou cara de pau: alguns sequer compreendem como suas decisões são importantes; outros simplesmente fingem que isso não importa. Todos decidem, mesmo quando escolhem não mudar, nem melhorar.
A dívida, portanto, é apenas uma consequência. Um efeito sinistro, pesado da falta de planejamento, do confortável papel de vítima, da incoerência e da falta de bom senso. O endividamento é o retrato daqueles que desejam muito, mas sonham pouco – brasileiros que preferem comprar a construir, consumir a investir e trabalhar a ser livre. Quantos podem bradar o velho bordão “quem não deve, não teme”?
“Algum dia vou enfrentar a situação e sair dessa” é o que costumo ouvir quando pego pesado com a responsabilidade que todos devemos ter com nossas finanças. Algum dia, expressão pobre que para a grande maioria significa nunca. Expressão que evidencia como a mentalidade pobre vê o dinheiro: sem prioridade, como um acessório.
Você conhece a realidade da “corrida dos ratos”, termo criado por Robert Kiyosaki, autor do livro “Pai Rico Pai Pobre”? É simples: você trabalha, faz contas, trabalha mais para pagar as novas contas, a família cresce, sobem as despesas, você trabalha ainda mais, faz novas contas e o ciclo se repete. Você vive correndo para dar conta de tudo, tem a impressão de estar com tudo sob controle, mas no fundo é dependente e está preso ao ciclo. Trata-se do oposto da independência financeira.
Livre-se das dívidas! Hora de se mexer!
Sempre faço questão de frisar que para livrar-se do endividamento é mais importante ter atitude que dinheiro. Assumir a responsabilidade, jogar fora a máscara de vítima e “colocar a mão na massa” farão de você alguém motivado a buscar alternativas para aumentar suas receitas, diminuir suas despesas e renegociar suas dívidas. Experimente:
- Definir suas prioridades. Quem você ama de verdade? Seus credores, representados por suas incontáveis contas, crediário etc. ou sua família, amigos, seu tempo livre e sua liberdade? Reavaliar o que é importante traz motivação para enfrentar a difícil aventura de sair da zona de conforto;
- Listar todos os seus compromissos financeiros. Você já sabe qual é o montante devido aos credores? Quais são as dívidas mais caras? Quais são as dívidas que podem ser pagas mais rapidamente, cujo número de parcelas é menor? Ande com essa lista, atualize-a sempre e faça dela sua prioridade;
- Reorganizar as dívidas de forma inteligente e motivadora. É preciso enfrentar de cabeça erguida o período em que você se abstém de comprar para pagar suas despesas. Você pode pagar as dívidas mais curtas e baratas e logo comemorar a sensação de vitória pela ação alcançada. Organize a lista do item anterior de acordo com suas possibilidades e perfil. Por exemplo, se você gosta de ter sempre algo a comemorar e precisa de motivação, priorize as dívidas mais simples e fáceis de pagar, honre-as e então volte seu esforço para as demais;
- Renegociar prazos, valores e dívidas. Se você tem dívidas caras, de juros altos, troque-as por dívidas mais baratas. Exemplo: faça um empréstimo pessoal (juros de 5% a.m.) e com esse dinheiro pague a dívida do cartão de crédito (juros de 12% a.m.). Exercite sua nova atitude frente às finanças telefonando e indo até as lojas/agências credoras. Explique a situação, negocie novas parcelas, prazos e demonstre interesse;
- Fazer alguns sacrifícios. Avalie seu custo de vida em relação às suas receitas. Talvez seja necessário vender alguns pertences, a moto, o carro, itens que você não usa mais e por ai vai. Brechós, sebos, sites de leilão na Internet, são muitas as opções para levar adiante essa ação;
- Ter mais paciência e investir em qualidade de vida. Lembre-se de suas novas prioridades e procure agir de forma progressiva na condução das negociações e pagamentos. Um novo hábito não se instala da noite para o dia, então procure pensar mais em agir que em evitar aquilo que não agrega valor. Estabeleça mudanças simples, que você sabe ser capaz de colocar em prática;
Dívidas demais, alegria de menos
A verdade por trás do endividamento é cruel: quanto mais posses a família acumula, mais ela quer acumular para impressionar novos e emergentes segmentos da sociedade, parentes e amigos. Não há um limite quando o que se pretende é a inclusão social pelo carro que se dirige ou marca de roupa. O perigo está justamente em ver no consumo razão de competição, quando o importante deveria ser a satisfação. O resultado disso é, via de regra, catastrófico.
O texto foi escrito de forma propositalmente pesada, incisiva, mas está carregado das melhores intenções. O apelo para o consumo, uso excessivo do crédito e ostentação é muito maior que o recado de minhas palavras e deste espaço. Infelizmente. Ainda assim, não desistirei. Para minha alegria, muitos leitores passaram a relatar as mudanças ocorridas em suas vidas depois de colocar em prática a educação financeira.
Dignidade. Responsabilidade. Liberdade. Amor. Solidariedade. Realização. Futuro. Se minhas palavras incutirem em você o espírito da mudança, já me darei por satisfeito. Deixe seus comentários, vamos discutir o tema. Até a próxima.
Fórum Dinheirama Social
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