O presidente Luiz Inácio Lula da Silva adotou na noite desta sexta-feira um discurso crítico ao próprio partido, reconhecendo que a sigla tem dificuldades para falar com extratos da sociedade, e projetou nova disputa ideológica com o ex-presidente Jair Bolsonaro nas eleições de 2024.
Ao lado de algumas das principais lideranças do PT, Lula falou para uma plateia de militantes e pré-candidatos na abertura da Conferência Eleitoral PT 2024, mirando a campanha do próximo ano para prefeitos e vereadores.
No palco, Lula lembrou de campanhas anteriores vencidas pelo PT, como a primeira conquista da prefeitura de Diadema, feita segundo ele “sem dinheiro, sem orçamento secreto” e na “sola do sapato, conversando com as pessoas”.
“Este partido precisa voltar um pouco a ser o que era no começo, para a gente reconquistar a credibilidade que muitas vezes as facilidades nos tiram do jogo”, disse Lula.
Os comentários do presidente surgem depois de o PT ter enfrentado, nos últimos anos, várias acusações de corrupção.
Em outro momento, Lula defendeu que o partido faça uma autocrítica para atingir segmentos da população que, atualmente, estão mais distantes do PT, como os dos evangélicos e os dos brasileiros com maior renda.
“Temos que nos perguntar por que um partido que muitas vezes nos discursos pensa que tem toda a verdade do planeta só conseguiu eleger 70 deputados. Por que tão pouco, se a gente é tão bom? Por que tão pouco, se a gente acha que poderia ter muito mais?”, questionou.
“Será que estamos falando aquilo que o povo quer de nós? Ou será que temos que aprender com o povo?”, questionou. “Nosso partido também tem problemas”, acrescentou, em outro momento.
Para o presidente, a eleição de 2024 passa pelo embate ideológico com os adversários.
“Houve um tempo em que candidato a prefeito juntava dinheiro um ano antes, para no ano da eleição cavar um buraco”, disse. “Hoje isso não ganha mais eleições. O que ganha eleições é a narrativa do projeto que a gente quer para o país, para os Estados e para as cidades.”
Ao mesmo tempo, Lula pontuou que a classe operária no Brasil e o emprego não são mais os mesmos.
Bolsonarismo
Durante o discurso, Lula também mirou a bateria de críticas no ex-presidente Jair Bolsonaro, seu adversário na última eleição presidencial.
Para ele, o Brasil aprendeu a gostar da democracia nos quatro anos do governo Bolsonaro e nos quatro anos do governo de Donald Trump nos EUA.
Lula destacou ainda a importância da negociação na seara política para que se atinja alguns objetivos.
“No conceito que eu tenho de democracia, muitas vezes a gente cede onde não queria ceder, muitas vezes a gente conquista coisa que a gente pensava que não ia conquistar”, disse.
Embora tenha negado a ideia de que as eleições municipais de 2024 serão decisivas para a corrida presidencial de 2026, Lula projetou um novo embate com Bolsonaro no ano que vem.
“Eu, sinceramente, acho que nessa eleição vai acontecer um fenômeno, vai ser mais uma vez Lula e Bolsonaro disputando essas eleições no município”, disse.