Enquanto o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, agiu com um voto de desempate pela redução do ritmo de cortes da Selic, de 0,5 ponto percentual para 0,25 p.p., em 2025 o fiel da balança da política monetária será o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Com isso, o juro foi a 10,5% ao ano.
O placar esteve dividido entre a ala “lulista” de diretores indicados pelo presidente da República, com 4 votos para o corte maior, incluindo Gabriel Galípolo – cotado para ser o próximo presidente do BC – e a ala de Campos Neto, com 5 votos para a decisão vencedora.
“Esta divergência reforça a percepção de que a composição da diretoria adotará uma postura mais dovish a partir do fim do mandato do presidente, elevando o risco de que haja uma maior leniência do BC em relação à desancoragem das expectativas”, analisa José Márcio Camargo, economista-chefe da Genial Investimentos.
Apesar de o raciocínio por trás da decisão dos dissidentes só estar mais claro na semana que vem com a ata desta reunião, o placar embute uma sensação de fortalecimento da pomba (dove), que no mercado financeiro representa os defensores da queda dos juros para promover o crescimento econômico, sobre o falcão (hawk), um predador natural, que simboliza a postura mais conservadora e contra as políticas monetárias expansionistas.
Selic: Pausa e retomada em 2025
“A decisão dividida deflagrou uma ala mais hawkish vitoriosa nessa reunião e indicada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, ante um grupo mais dovish e indicado pelo Lula. A divisão entre Bolsonaro e Lula também pode ser entendida como os diretores que estão de saída do board (Hawkish) e os que permanecerão na diretoria pelos próximos anos (Dovish)”, ressalta Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos.
Segundo ele, é provável que o Copom já tenha encerrado este ciclo de cortes nos atuais 10,5%. A aposta, contudo, é de que um novo momento baixista seja retomado a partir da primeira reunião de 2025, quando os indicados por Lula formam maioria.
Álvaro Frasson, economista do BTG Pactual, entende que o dissenso poderá ser comum nas próximas reuniões até o final deste ano, “principalmente nos encontros que o debate será sobre a manutenção de juros e, a segunda, é a suspeita de um Banco Central, a partir do próximo ano, mais leniente com às expectativas de inflação”.
“Apesar da vitória ‘hawk’, o mercado pode dar mais importância para a derrota ‘dove’, já que ela pode ditar o viés do Banco Central a partir de 2025”, pontua Álvaro Frasson, economista do BTG Pactual.
David Beker e Natacha Perez, economistas do Bank of America, argumentam que faz sentido esperar alguma deterioração nas expectativas de inflação para 2025.
“Continuamos esperando um corte final de 25 pontos-base na próxima reunião, em junho, antes de interromper o ciclo de flexibilização este ano, com a taxa Selic em 10,25%. A flexibilização deverá ser retomada no próximo ano sob o novo Copom e nova postura do Fed. Esperamos que as taxas cheguem a 9% até o final de 2025”, destacam.
“Essa combinação de críticas do Planalto e de diretores alinhados ao governo em serem mais dovish tende a crescer o cenário de que o próximo BC será mais flexível, especialmente na avaliação da política fiscal, diferentemente do atual que em todo o comunicado ressalta a necessidade de comprometimento com as regras fiscais para haver um menor prêmio de risco no mercado”, pontua Leandro Manzoni é analista de economia do Investing.com.