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Lula aceitar Selic mais alta é estratégia eleitoral para 2026, vê Wells Fargo

Se Lula não levar a sério o ajuste fiscal em 2025, sobrará pouca "gordura (dinheiro)" para queimar no ano eleitoral

por Gustavo Kahil
3 min leitura
Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante reunião com a indústria farmacêutica para anúncio de investimentos, no Palácio do Planalto

O posicionamento “hawkish” do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação à taxa Selic e ao controle de gastos nas últimas semanas, que surpreendeu o mercado e funcionou como um “aval” para o Banco Central subir o juro, pode fazer parte de uma estratégia política que mira um ambiente de juro mais baixo e com mais dinheiro para gastar próximo das eleições presidenciais de 2026.

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Uma postura hawkish (falcão vigilante) em política monetária é quando o BC prioriza o combate à inflação, aumentando geralmente as taxas de juros. Já uma postura dovish (pomba dócil) é quando o foco é estimular o crescimento econômico, o que pode levar à redução das taxas de juros para incentivar a economia.

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Com isso, boa parte do mercado já começou a realinhar as expectativas para a Selic. Em um relatório enviado a clientes nesta sexta-feira (23), o banco Wells Fargo avaliou que o BC aumentará a taxa Selic em 25 pontos-base em setembro e mais 25 pontos-base em novembro, levando a taxa para 11% até o final de 2024.

Segundo o economista Brendan McKenna, “apesar da aproximação dos cortes de juros pelo Federal Reserve, acreditamos que o BC retornará a uma política monetária mais rígida em breve.” Essa expectativa é impulsionada por pressões inflacionárias crescentes, estimuladas por uma política fiscal frouxa e pela fraqueza da moeda.

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Olhando para 2025, McKenna sugere que Lula poderia adotar uma postura fiscal mais responsável, especialmente se ele decidir concorrer à reeleição em 2026. Segundo McKenna, “esperamos que Lula busque, no mínimo, um orçamento primário equilibrado em 2025”. O economista também menciona que a disciplina fiscal pode ser um pilar da política econômica de Lula no próximo ano, o que poderia proporcionar um certo fortalecimento do real brasileiro.

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No que diz respeito ao câmbio, McKenna acredita que, a curto e médio prazo, o real pode se valorizar frente ao dólar, impulsionado por uma política monetária mais rígida e por sinais de responsabilidade fiscal de Lula em 2025. Ele projeta que “o par USD/BRL pode atingir R$ 5,30 até meados de 2025, sustentado por diferenciais de taxas mais atraentes e responsabilidade fiscal sob Lula.”

Isso, contudo, poderia ser apenas uma preparação para o ano eleitoral.

“Se a disciplina fiscal não for adotada ou as estruturas fiscais forem eliminadas em 2025, as agências de classificação provavelmente recuarão nas posições mais positivas que adotaram sobre a solvência soberana do Brasil. Em vez de as atualizações de classificação serem uma fonte de validação para as políticas de Lula antes da eleição, as classificações de crédito e a percepção externa de suas políticas podem se tornar um passivo político”, pontua McKenna .

Ele diz ter dúvidas de que Lula queira arriscar rebaixamentos de classificação de crédito antes da eleição, sugerindo que Lula respeitará as restrições de gastos e buscará atingir, no mínimo, um orçamento primário equilibrado em 2025.

Reverter para o manual fiscal mais expansivo na preparação mais imediata para a eleição (ou seja, do início a meados de 2026) ainda é provável, no entanto, com os índices de aprovação de Lula ainda mais altos do que seus índices de desaprovação, ele pode se dar ao luxo de ser paciente, demonstrar responsabilidade fiscal e permitir que o espaço fiscal seja construído em 2025.

“Esperamos que o espaço fiscal gerado em 2025 seja finalmente implantado em 2026 para reunir apoio eleitoral, mas exercer contenção fiscal e respeitar as estruturas fiscais ainda pode ser a base da política fiscal de Lula no ano que vem”, opina.

Reeleição de Lula

Entretanto, a perspectiva de longo prazo para a moeda brasileira é menos otimista.

McKenna acredita que, à medida que o BC, que estará sob o comando de um indidado de Lula, comece a afrouxar a política monetária na segunda metade de 2025, e o Fed mantenha suas configurações monetárias inalteradas, os diferenciais de taxa se moverão contra o real, colocando pressão depreciativa sobre a moeda.

Além disso, “o afrouxamento fiscal esperado em 2026, antes das eleições, pode agravar as tensões soberanas e contribuir para a deterioração do sentimento dos investidores, levando o par USD/BRL a alcançar R$ 5,70 no início de 2026.”

O economista ressalta que “a combinação de uma política monetária mais frouxa e um possível aumento da dívida pública antes das eleições de 2026 cria um ambiente de incerteza.” A partir de 2025, o Brasil pode enfrentar desafios econômicos mais acentuados, o que poderia reverter os ganhos obtidos no período anterior.

No contexto da dívida, o economista enfatiza que “o Brasil enfrenta uma carga de dívida elevada que provavelmente aumentará em 2025, apesar das restrições de gastos, devido à dinâmica automática da dívida.” Isso significa que, mesmo com esforços para conter os gastos, a dívida pública como percentual do PIB pode continuar a subir, especialmente se houver uma política fiscal mais expansionista em 2026.

Ou seja, se Lula não levar bastante a sério o ajuste fiscal em 2025, sobrará pouca “gordura (dinheiro)” para queimar no ano eleitoral. Qualquer erro poderá sair muito caro ao país, com possíveis rebaixamentos das notas de créditos pelas agências de classificação de risco S&P, Moody’s e Fitch.

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