Escrevemos no último artigo que a tendência primária do mercado acionário local era de alta, para a realidade dos fatos no curto prazo contestar. Essa é a maravilha dos mercados de risco e a sutileza que carregam, onde alguns dados podem mudar o comportamento de curto prazo.
Por conta de mudanças de humor no mercado internacional e do local, a B3 (Bovespa) registrou seis pregões consecutivos de queda saindo de 87.300 pontos para 83.700 pontos, justo onde encontramos linha de suporte gráfico. Portanto, o curto prazo ficou bem complicado, nos mesmos moldes do que ocorreu no início do mês de fevereiro, quando chegamos a fazer mínima de 79.600 pontos.
Governo Temer
Motivos para esse reajuste tivemos aos “potes”. No segmento interno, passou a vigorar a percepção de que no ano de 2018 o governo Temer não conseguirá aprovar mais nada de relevante na direção do ajuste da economia e redução do déficit primário. Além disso, por conta de problemas no segmento externo, o Bacen e o Copom parecem estar numa autêntica “sinuca de bico”, no que tange à taxa de juros básica.
Na reunião do Copom de amanhã (21 de março) está praticamente certo que a taxa Selic será novamente reduzida em 0,25% para o patamar de 6,50%. A dúvida está concentrada se no comunicado e, na ata, o Copom deixará a porta aberta para nova queda na reunião do início de maio ou próximas. A inflação rodando consistentemente abaixo da meta, reforçada por projeção de safra agrícola e chuva em reservatórios prolongando bandeira verde; dão margem para manter essa postura. Contudo quando incluímos o setor externo, a situação complica.
Guerra comercial
Temos a possibilidade de guerra comercial a partir da tarifação que os EUA pretendem impor para aço e alumínio, retaliações e denúncias junto à Organização Mundial do Comércio (OMC), o que no final da linha poderia interferir no crescimento econômico global.
Incluímos ainda a preocupação manifestada justamente pelo presidente do Bacen, Ilan Goldfajn, sobre a atitude dos principais bancos centrais no que versa sobre normalização da política monetária. Notem que não falamos somente do FED que saiu na frente nos ajustes de juros e tamanho do balanço do banco central, mas podemos incluir os bancos centrais da Inglaterra, BCE (Europeu), Austrália e até o do Japão (BoJ) que está atrasado nisso.
A preocupação de Ilan é com relação ao eventual reforço da inflação nesses países, o que determinaria elevações de juros não tão graduais quanto se supõe. Caso isso aconteça, acabaria por alterar o fluxo de recursos para emergentes, onde o Brasil se mostra bastante dependente. Ilan alerta que o Brasil possui amortecedores para aguentar os solavancos da economia global, mas certamente não seria bom passarmos por isso nesse ano tão complicado.
Facebook no meio de uma crise
É por isso que sempre temos alegado a volatilidade dos preços dos ativos. Agora temos mais uma encrenca envolvendo diretamente o Facebook, que acaba arrastando outras ações de tecnologia. Notadamente o Google. A empresa de Zuckerberg foi atingida por investigações no caso Rússia das eleições presidenciais.
Mas são exatamente essas sutilezas que fazem a maravilha dos mercados. Enquanto alguns se assustam com a volatilidade dos preços, outros investidores enxergam nisso boas oportunidades de auferir lucros extraordinários. Basta lembrar que logo após a acentuada queda do início de fevereiro, a Bovespa voltou a bater novo recorde histórico perto dos 88.400 pontos. Quem sabe essa história não se repete?
Alexandre Graham Bell dizia que: “nunca ande pelo caminho traçado, pois ele conduz somente até onde os outros já foram”.