Home Comprar ou Vender Marcos Elias x CVM: Round 15

Marcos Elias x CVM: Round 15

Após ver as atividades de sua casa de análise Contra Corrente suspensas pela autarquia, gestor afirma que irá lutar contra o "gesso da CVM"

por Gustavo Kahil
0 comentário
Marcos Elias

Após abraçar os filhos e passar cinco dias com Enzo, Aldo e Raul em um modesto apartamento emprestado no bairro do Brooklin Paulista em São Paulo (ele não mais dispunha de seu casarão de quase 1.000m2 na Groenlândia com a Veneza), a segunda coisa que Marcos Elias fez ao chegar liberto do cárcere nos EUA, em 13 de agosto de 2021, foi tentar recuperar as credenciais: como gestor, perante a CVM, como analista, na Apimec e como AAI (Agente Autônomo de Investimento), junto a Ancord.

Ele entendia que o processo seria fácil. Marcos fora descredenciado na CVM quando não atualizara seu cadastro nos meses de maio, durante os 3 anos e meio em que estivera preso. Já a certificação da Apimec, ele mesmo havia ordenado ao seu advogado Rafael Sugai que depusesse a credencial. Dadas as causas da perda, a recuperação lhe parecia óbvia. Mas não foi assim.

A burocracia

A CVM, por exemplo, lhe exigiu que saldasse uma dívida que herdara do divórcio por conta de cálculo retroativo de IPTU e que redundara em uma negativação no Serasa.

Ele o fez, tomando dinheiro emprestado de amigos. Então, a CVM passou a questionar-lhe sobre os motivos que o levaram à prisão.

Mais uma vez, ele o fez, adicionando que estava entrando contra o Departamento de Justiça dos EUA (DOJ, na sigla em inglês) e no Tribunal de Haia para provar, “post mortem”, sua inocência. Mas isso não satisfez a autarquia.

Contra Corrente

Ele não tinha mais tempo, tampouco dinheiro. Levantou R$ 2 milhões com um gestor de recursos, amigo de longa data, e lançou-se ao mercado financeiro. Chamou a imprensa: “Sim, vou fazer uma nova casa de research. Não, não estou habilitado para tanto perante a CVM”. Montou a Contra Corrente”. Por dois anos visou regularizar-se, sem sucesso.

Segundo a sua página no LinkedIn, a research tem o lema: “Market intelligence. Geramos alfa para institucionais. Guiamos investidores profissionais a ganhos disruptivos. IB.”. O site institucional está temporariamente sem atualizações, em respeito à decisão da CVM.

Sem a certificação, decidiu que venderia um serviço de reestruturação das áreas de análise para gestoras. Reza a lenda que Marcos levou a Link Corretora do zero ao primeiro lugar no ranking da Bovespa trabalhando solo, por meio do muito acompanhado “Equity Insights”. Passou a vender essa experiência aos gestores independentes e corretoras, assim não incorrendo em venda de recomendações e se desviando do escopo da CVM. Com isso, Marcos amealhou 8 clientes e um faturamento próximo a R$ 500 mil por mês para a Contra Corrente.

A sua equipe

Sentindo-se mais fortalecido e lúcido diante do fato de que, por mais que tivesse colecionado premiações como a de gestor cinco estrelas pela GAS/Vinci e de melhor analista do país pelo ranking AE/Ibmec, seria tratado como ex-presidiário, buscou uma equipe de peso:

Vitoria Saddi: campeã brasileira de xadrez, ex-head global do JP Morgan derivatives, PhD em economia e professora da NYU, lançou o site Seeking Alpha e implementou a casa de análise de Nouriel Roubini.

João Mascolo, marido da Vitoria, fundador da Sociedade Brasileira de Econometria e pós-doutor em economia por Chicago. Além deles, os analistas Carlos Eduardo Moreira, Gustavo Pessoa, Fernando Julião, dentre outros.

Comprou, então, uma gestora do TC (TRAD3), hoje chamada Actus e reviveu o nome Modena Advisory em uma nova consultoria. Hoje, Elias está lançando um FIDC NP, o primeiro fundo de litigation finance do Brasil, e um fundo multimercados. Elias afirma que a Modena já possui 7 mandatos, dentre M&As e fund raising, com um possível fee total de R$ 50 milhões.

Enquanto isso, continuou em sua troca de cartas com a CVM.

CVM
(Imagem: Facebook/Comissão de Valores Mobiliários)

Suspensão

Mas ontem recebeu a notícia: a CVM suspendera as atividades da Contra Corrente até que se conformem à regulamentação.

O que Marcos fará? Ainda ontem, recrutou no mercado analistas faltantes para se adequar à CVM, e em poucas semanas, garante, aderirá às exigências da autarquia e estará, inclusive, consoante a Apimec.

“Logo voltaremos a operar, embora não dependamos de calls ou recomendações: nosso trabalho é de reestruturação de assets e também nos damos a discutir e aprimorar filosofias de investimentos”.

Round 15

Mas ele terá desistido da briga que iniciou enquanto estava na Empiricus? Ele garante que não:

“A CVM, que se diz sem recursos para atuar, vem sistematicamente buscando ampliar sua atuação regulatória. A razão de existir da CVM e daquilo que propeliu a Nova Lei das S/As estava na cabeça de Mario Henrique Simonsen e era simples: proteger minoritários e desenvolver o mercado. Hoje a autarquia atua na contramão de sua raison d´être”.

No final de fevereiro, por exemplo, associações do mercado financeiro, como a Apimec e a Anbima, enviaram uma nota conjunta solicitando ao governo federal mais dinheiro para a CVM.

“Você estaria sendo considerado pela CVM como um influencer, é isso?”, perguntei-lhe.

“Não sei. Sei que não sou influencer. Sei que protegi os minoritários. Sei que desenvolvi esse mercado. Fiz o trabalho da CVM, sem onerá-la. Quem denunciou Daniel Dantas ao tentar se esquivar do Artigo 254-A para pagamento de tag along na Brasil Telecom? Quem lutou contra os royalties sobre as receitas da Gerdau (GGBR4) que a família Gerdau teve em vista emplacar pelo uso do próprio nome? E na Gerdau, qual foi a voz renitente contrário ao empréstimo de R$ 30 milhões para que um dos herdeiros do grupo pudesse financiar sua aparição nas Olimpíadas? Quem foi o autor do relatório que apontou uma dezena de inconsistências contábeis na Marfrig (MRFG3)?”.

As ações da Marfrig foram indicadas nas carteiras do BB Investimentos, Empiricus e Terra
(Imagem: Divulgação/ Marfrig)

Marcos conta que decidiu encampar uma batalha contra associações e reguladores quando foi suspenso por 12 meses por conta das provocações ao CFO da Marfrig:

“Está lá, nos autos da Apimec: “Um relatório de análise deve parecer-se com um relatório de análise laboratorial”. Quem consegue fazer uma empresa sob esse gesso? Afirmar o que a Apimec fez redunda em, inclusive, negar o trabalho seminal de Pérsio Arida acerca da importância da retórica na economia. Quando li aquela decisão, decidi descredenciar todos meus analistas. Precisamos de liberdade”.

E, por muitos anos, a Empiricus, embasada nos pareceres de Modesto Carvalhosa e de Ary Oswaldo Mattos Filho, manteve-se fora do escopo da CVM, nunca tendo sido condenada na justiça comum. Às vésperas da venda da Empiricus ao BTG Pactual (BPAC11), adaptou-se aos reguladores.

“O que você planeja fazer?”, perguntei-lhe por fim.

“Vou colocar a Contra Corrente em conformidade. Pari passu, vou empreender minha luta contra o gesso da CVM. Nos EUA, a SEC não regula as casas de research, e com bastante frequência, elogia o trabalho de casas como Motley Fool, descrevendo-a como um “oásis para os investidores minoritários”.

E, por fim, como não poderia deixar de ser, Marcos “espeta”:

“A CVM vive na mídia afirmando que não tem recursos para exercer apropriadamente sua função. Mas quer regular até os fóruns de discussão entre “sardinhas” de mercado. A CVM antecipou o rombo de mais de R$ 40 bilhões nas Americanas (AMER3)? Prenunciou a participação da Petrobras (PETR3; PETR4), entre outras, no Lava Jato? Não. Mas quer me calar, eu que fiz um pouco do que ela deveria fazer”.

Marcos termina afirmando que a CVM se moveu ontem contra a Contra Corrente por conta de uma denúncia que teria sido feita por um institucional, uma gestora. Perguntei-lhe quem, especificamente? Ele retrucou que, na verdade, são ilações da cabeça dele, tendo em vista que trava uma disputa com a Trígono Capital sobre gestão de risco para small caps.

Marcos então me sorri e afirma que há dois biógrafos narrando sua vida, sendo um deles Otaviano Matos Filho. O outro, Rodrigo Sanfelice.

“Logo estrearei na Netflix”.

Sobre Nós

O Dinheirama é o melhor portal de conteúdo para você que precisa aprender finanças, mas nunca teve facilidade com os números.  Saiba Mais

Mail Dinheirama

Faça parte da nossa rede “O Melhor do Dinheirama”

Redes Sociais

© 2023 Dinheirama. Todos os direitos reservados.

O Dinheirama preza a qualidade da informação e atesta a apuração de todo o conteúdo produzido por sua equipe, ressaltando, no entanto, que não faz qualquer tipo de recomendação de investimento, não se responsabilizando por perdas, danos (diretos, indiretos e incidentais), custos e lucros cessantes.

O portal www.dinheirama.com é de propriedade do Grupo Primo.