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Mercado e investimentos: Fechamento Abril 2013

por Alvaro Bandeira
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Mercado e investimentos: Fechamento Abril 2013

Mercado e investimentos: Fechamento Abril 2013A primeira situação que gostaríamos de destacar é que o mês de abril mostrou a quarta queda seguida do índice Bovespa, com perda de 0,78% e acumulando no ano saldo negativo de 8,27%, enquanto outros mercados espalhados pelo mundo atingiram patamares históricos ou melhores marcas em muitos anos, mesmo estando no epicentro da crise internacional.

Como seguidamente temos destacado, de forma geral, bolsas de valores espelham a situação econômica dos países, e dados ruins sobre a conjuntura local nesse início de ano justificam em boa parte essa performance ruim. Além disso, muitas mudanças de curto prazo e políticas específicas acabam assustando e afastando investidores.

Setor externo

No segmento externo o período não foi dos melhores para a atividade econômica, especialmente para a Europa e China. Muitos indicadores de conjuntura sinalizaram desaceleração ou contração da atividade, mesmo depois de tudo que já foi feito até aqui em termos de flexibilização e ajustes.

Na China, em que pese a queda na inflação, o novo governo de Xi Jinping está tendo que conviver com a desaceleração do PIB para crescimento anualizado de 7,7% e outros indicadores em queda. Da mesma forma, assusta o comportamento de alta dos preços de imóveis por lá, mesmo depois de medidas restritivas adotadas pelo governo, com o espectro de bolha imobiliária rondando.

Na Europa a desaceleração e ajustes de países já são nossos velhos conhecidos, mas incorporou novidade danosa. A Alemanha passou a sentir mais claramente os efeitos da crise na União Europeia e zona do euro. Todos os indicadores de atividade mostraram desaceleração/contração, mesmo considerando que a taxa de desemprego permaneceu estável em 6,9%, e o país seguiu rolando dívidas com juros em baixa.

Para complementar o quadro, a zona do euro mostrou taxa de desemprego recorde acima de 12,1% e países como Grécia e Espanha também não tiveram melhoras, o que gera pressões sociais intensas e instabilidade dos governos. Não é por outra razão que o novo presidente da França tem o mais baixo índice de aprovação.

Na Itália, Reino Unido e Japão tivemos algum alívio. Na Itália, depois de quase 60 dias, foi possível montar o governo de Enrico Letta, enquanto no Reino Unido os indicadores de atividade melhoraram e o BOE (BC Inglês) acena com a possibilidade de ampliar o programa de compra de ativos.

Já o Japão de Shinzo Abe e Kuroda (Banco Central) promoveu forte distensão da política monetária, tornando o câmbio mais competitivo e criando a possibilidade de tirar o país da deflação, atingindo inflação de 2,0% até o final de 2014. O Japão foi inicialmente criticado por isso, mas após explicações na reunião de ministros do G-20, obteve apoio da comunidade internacional.

Durante boa parte do período em análise os investidores operaram nos mercados de risco na presunção de que os dados ruins de conjuntura acabariam por produzir mudanças pelo BCE (BC europeu) na taxa de juros básica. Na virada do mês de abril para maio o BCE confirmou redução dos juros básicos de 0,7% para 0,50%, ao mesmo tempo em que adotou outras providências e a redução dos juros dos empréstimos emergenciais de 1,5% para 1,0%. Ainda não mexeu na remuneração dos depósitos na instituição, mas advertiu que nem tudo se resolve por política monetária. Segundo o presidente do BCE, Mario Draghi, é preciso perseguir reformas estruturais e reduzir déficit fiscal.

Isso só foi possível porque a inflação não é problema em quase todo o mundo, com taxas bem aquém das metas de bancos centrais. Vários países estão mostrando desinflação ou mesmo deflação, o que garante taxas de juros baixas por longo tempo, ou até mesmo novas medidas de flexibilização monetária.

Nos EUA tivemos indicadores com comportamento misto ao longo do mês de abril, e segue havendo grande preocupação com cortes automáticos no orçamento que podem reduzir a recuperação e crescimento de 2013, mesmo considerando mudanças no cálculo do PIB que estão sendo postas em prática. Recuperação mais clara somente no segmento imobiliário com melhoras do investimento e preços de imóveis. O desemprego também caiu para 7,5%, com a criação de mais 165.000 vagas abertas na economia.

Apesar disso, como relatado no Livro Bege (síntese da economia) a recuperação está se dando apenas de forma moderada, o que não excluiu a avaliação de alguns dirigentes de FEDs regionais que deveriam pensar em reduzir progressivamente a política de estímulos conhecida como QE3. Na última reunião do FED ocorrida no período foi confirmada a manutenção da política de aquisição mensal de títulos da ordem de US$ 85 bilhões.

O mês de abril também contemplou a safra de balanços do primeiro trimestre de 2013. Como abordagem ainda parcial diríamos que tivemos ainda muitos prejuízos e encolhimento de lucros, tanto no segmento internacional quanto no local, mas foi possível identificar que muitas empresas conseguiram reduzir custos. Exemplos no segmento interno ficam por conta de reduções de custos de Vale, Petrobras e Banco Itaú, dentre outras.

Setor doméstico

No que tange à economia local, os fundamentos da economia nesse primeiro trimestre definitivamente não agradam para a maioria dos indicadores. Começando pelas contas externas, o déficit acumulado até o final de abril na balança comercial de US$ 6,1 bilhões não era visto faz muito tempo. Situação semelhante para o saldo em conta correntes do primeiro trimestre que acumula US$ 24,9 bilhões, financiado apenas parcialmente (53%) pelos investimentos externos diretos (IED).

Além disso, notamos queda de qualidade do IED, já que no passado 96% era representado por aporte de capital nas empresas, e agora isso só ocorre em 76%, pois cresce a parcela de empréstimos para subsidiarias e controladas.

A Receita Federal também divulgou queda na arrecadação em março de 9,3%, com queda também real da ordem de 0,5% para o trimestre, refletindo desonerações concedidas ao longo dos últimos meses que não estão proporcionando até aqui os efeitos adequados. A inflação medida pelo IPCA (oficial) também estourou em março o teto da meta de 6,50%, atingindo 6,59%, obrigando o Copom a elevar a taxa Selic para 7,5%, vindo de 7,25%, não sem muita pressão de governo, já que juros baixo passou a ser considerado como política de governo.

Não bastasse isso, o Bacen advertiu que os gastos de governo seguem expansionistas e deixou porta aberta para novos aumentos de taxa de juros. Também não se pode desprezar nossa cultura inflacionária recente e os gatilhos que ainda persistem na economia via indexação de preços administrados, salários, alugueis e outros.

O BNDES, grande fiador do investimento em infraestrutura, também indicou mudança de comportamento em sua política de escolher vencedores, alavancando “multinacionais brasileiras”. Mesmo assim a instituição deve receber aporte de recursos do Tesouro da ordem de R$ 2,0 bilhões. Outro indicador que não foi bem foi a produção industrial do mês de março que teve pequena alta de 0,7% no mês, mas ainda mostra queda no comparativo com igual período anterior de 3,3%.

Com relação à mudança de prioridade para o segmento de infraestrutura, o governo se esmera em demonstrar que esse é foco, fazendo road show no exterior. Ainda não foi possível detectar aumento do interesse por parte dos investidores locais e internacionais, mas isso deve acabar acontecendo, desde que não haja deterioração dos fundamentos e não haja bruscas mudanças de comportamento em setores chaves.

Na Bovespa, o fluxo acumulado de ingresso de investidores estrangeiros era positivo ao final do mês de abril em R$ 9,46 bilhões, com o volume médio diário transacionado em R$ 8,2 bilhões, com alta de 10,9%. Porém, também foi recorde o volume de vendas em contratos de índice futuro e de alugueis de ações, principalmente do grupo EBX.

Como resumo do mês de abril a Bovespa teve queda de 0,78%, o índice Dow Jones americano subiu 1,79% e o Nasdaq com alta de 1,87%. Já o dólar registrou queda de 0,99%, encerrando cotado a R$ 2,00, dentro do que era previsto.

Perspectivas

Numa visão mais de médio e longo prazo que propriamente para o mês de maio, somos de opinião que o acerto na redução dos juros pelo BCE, continuidade da política de flexibilização do FED e também do Japão surtirão os efeitos desejados e isso acabará deslocando o patamar de preços dos ativos para cima.

Podemos acrescentar que outras medidas nesse sentido poderão ser adotadas, inclusive por outros bancos centrais, em nova rodada de afrouxamento monetário. Taxas de inflação muito reduzida e nível de atividade voltando a encolher indicam essa receita como oportuna.

Além disso, começa a existir consenso de que os prazos para atingimento de metas por países problemáticos podem ser estendidos, novamente estimulando as economias, reduzindo o desemprego, ampliando investimentos, a produção industrial e reduzindo tensões sociais. Novamente teríamos cenário mais favorável para aquisições de ativos de risco, especialmente daqueles mais relacionados com infraestrutura e commodities.

Considerado que o índice Bovespa tem forte concentração em empresas com esse viés relacionado à matérias primas e infraestrutura, os efeitos de recuperação por aqui poderiam ser mais fortes.

Como fator limitador interno teríamos a deterioração nos fundamentos ocorrida nesse início de ano, mas até mesmo isso pode mudar. Não é de se esperar descontrole maior nas principais variáveis macroeconômicas. A inflação deve voltar a ceder, ainda que permanecendo fora do centro da meta de 4,5% e elevada. Nossas contas externas podem melhorar nos próximos meses com a comercialização da safra agrícola.

A preocupação do governo em ampliar a competitividade de nossas empresas e estimular ganhos de produtividade parece ser real, o que induziria melhores retornos.

Precisamos atrair novos investidores para nossa economia, e essa parece ser a consciência atual do governo. Porém, isso não acontece com rapidez e será preciso mostrar empenho em manter regras estáveis e proporcionar bons retornos. Também para o mercado acionário é possível projetar fluxo de ingresso de recursos, já que nossas ações estão defasadas de outras oportunidades no exterior.

Na visão de mais curto prazo, a sugestão é de alguma prudência, em função do pressuposto que a volatilidade deve permanecer. Todavia, é sempre possível lançar mão de derivativos para minimizar riscos. Com o mercado pressionado por operações vendidas no índice e alugueis de ações, será preciso que o índice consiga ultrapassar a faixa dos 56.000 pontos com consistência e depois busque patamar ao redor de 57.300 pontos, quando então o quadro será bem mais favorável.

Diante disso, somos de opinião que parcelas maiores de risco podem ser assumidas, sempre com a expectativa de retorno no longo prazo.

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