É nossa interpretação de que os mercados de risco já estão ajustados para o nível de informação na área econômica e, principalmente, na área política. Os ativos estão precificados para as análises de conjuntura existentes. O problema está na rápida mutação do quadro político e na fraca recuperação econômica.
Não é por outra razão que passamos boa parte do mês de julho trocando “seis por meia dúzia” nos mercados, mas ainda assim sempre com viés positivo. Na B3, nova denominação da Bovespa, julho incorporou alta de 4,8% e no ano ainda estamos positivos em 9,45%. Nada mal para toda a conturbação existente. Ainda que do lado político tenhamos o recesso do Congresso na segunda quinzena do mês, que produziu trégua no noticiário.
O presidente Temer aproveitou o recesso do Congresso para tentar adesões para sua base de apoio e para tanto acelerou pagamento de emendas de parlamentares ligados, ao ponto de em apenas três semanas ter destinados recursos equivalentes ao do primeiro trimestre, algo ao redor de R$ 2 bilhões.
Do lado da economia, depois de ter ampliado a carga tributária via PIS/Cofins de combustíveis, ainda assim persistiram dúvidas sobre o cumprimento da meta de déficit fiscal de R$ 139 bilhões em 2017, colocando dúvidas também sobre 2018, com déficit projetado de R$ 129 bilhões. Durante a semana, muitos agentes especularam sobre novas mudanças, e o maior indício de que isso pode acontecer está no discurso do ministro Henrique Meirelles. Desde a semana passada, Meirelles vinha flexibilizando sua postura, e na semana acabou cedendo ao encanto da facilidade e disse que pode alterar a meta de déficit.
Convém lembrar que a meta de 2017 já tinha sido significativamente elevada e agora se fala em ampliar ainda mais em 2017 (especulações ao redor de R$ 159 bilhões) e alterações na meta de 2018. Além disso, o governo deixa entrever a possibilidade de extinguir com o benefício fiscal sobre as LCIs e LCAs, títulos que caíram no gosto popular exatamente por não pagarem imposto sobre os rendimentos.
Os reflexos de uma melhora no quadro político
Tudo isso junto com a crise política reinante deveria produzir reflexos maiores sobre o segmento de renda variável, mas isso não ocorre exatamente por conta dos ajustes anteriores antecipados pelos investidores. Nossa percepção é de que qualquer melhora no quadro político, como por exemplo, larga votação da rejeição da denúncia de Temer pode fazer com que a B3 mude de patamar e passe a aguardar novas mudanças.
Nossa crença nisso está fundada na recuperação mais forte da economia global ajudando os emergentes, e ainda sem grandes modificações na estrutura da taxa de juros e tamanho dos bancos centrais dos países desenvolvidos. Isso vai encontrar investidores com baixos níveis de aplicação em renda variável e/ou travados com proteções em derivativos.
Pensamos que isso irá provocar mudança no patamar de preços dos ativos, com o índice podendo ir buscar níveis “pré-Joesley” ao redor de 68500 pontos, ou mesmo buscar a faixa de 70000 pontos. Calma, isso não ocorrerá sem alguma volatilidade e sustos no percurso. Portanto, há que se ter sangue frio e horizonte mais dilatado para obtenção do retorno, além de escolher as melhores opções para seu nível de risco.
Isso posto, boa sorte nos seus investimentos, pois como dizia Nelson Rodrigues “sem sorte não se consegue nem atravessar a rua”.