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Mesada, atitude e educação!

por Conrado Navarro
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Dinheirama - Foto geralRegina comenta: “Navarro, sou mãe e gostaria de ver alguns textos voltados para o raciocínio que envolve a decisão de instituir (ou não) a mesada. Tenho filhos em idades distintas e passo por alguns ‘apuros’ quando eles resolvem me questionar sobre os valores/critérios usados neste sentido. Há aquele que quer trabalhar e aquele acomodado com a situação. O que você tem a dizer sobre a famosa mesada? Gostaria de sua opinião. Obrigada”.

Regina, que fogueira hein? Puxa, um assunto desses merece muita atenção. Lá vou eu entrar num assunto polêmico e cheio de “verdades absolutas”. De cara, percebo que o maior problema em relação à mesada é a tal “hora certa” de cortá-la e como proceder para que isso aconteça sem traumas. Romper o fluxo de capital nunca é tarefa fácil, especialmente em um país onde existem dificuldades para que o jovem consiga seu primeiro emprego. Tenho algumas opiniões sobre o tema.

Sete anos e um celular
Pense em toda a sua família por um instante. Quantas crianças com menos de dez anos possuem celular? Quase todas, certo? Hum, mas o que isso tem a ver com a mesada? Expectativa. Ora, se uma criança de apenas sete anos recebe tamanha demonstração de dedicação financeira, qual será seu desejo ao chegar aos 16 anos? E aos 18? A educação financeira é fundamental desde os primeiros anos de vida e o uso da mesada, bem como a hora de cessá-la, é um reflexo desse aprendizado. Certa ou errada, toda ação traz pelo menos uma consequência.

Blah, não que eu seja contra uma criança andar pendurada ao seu celular (ou vice-versa). Não sou contra nada. Sou a favor da blindagem ao consumismo de moda exigido pelos filhos, especialmente quando é a família, como um todo, que merece maior atenção. O celular é apenas um exemplo de transferência de princípios e valores. Diversas outras analogias podem ser feitas a partir daqui, mas deixo essa tarefa para você.

Quando?
Será que existe hora certa para começar a dar mesada aos filhos? Provavelmente sim, mas regras neste sentido costumam ser inapropriadas e prefiro evitá-las. Alguns especialistas afirmam que o ideal é começar quando a criança aprende a somar e subtrair. Mais, costumam solicitar que até os 11 anos as crianças recebam “semanada”, justificando a necessidade de contato mais direto com a criança, de forma instrui-la sobre o uso do seu dinheiro. Me parece justo.

Atitude
Tenho um conceito muito simples de mesada: ela é um instrumento poderoso de educação financeira. Ponto. Sendo assim, não adianta usar dela para punir ou ilustrar metas a serem cumpridas. Flagradas de maneira incorreta, essas atitudes podem transformar a sua relação com seu filho em um jogo perigoso de poder. Acabou a mesada? Paciência. Prefira demonstrar (e ensinar) os requisitos de comportamento fundamentais para que ele possa receber um bônus (ou aumento) a puni-lo com o corte de dinheiro sempre que algo lhe desagrada. Atitude não tem preço, não está a venda.

Você, adulto, passa pelas mesmas provações, quer ver? Não é bom saber quais os requisitos e exigências da empresa para que você possa ser promovido? Plano de carreira é como costumam chamar esse exercício. Vencer por mérito próprio, como fruto de suas atitudes é o que há de mais gratificante. A inocência da criança e do adolescente potencializa esse prazer, mas são poucos os pais dispostos a levá-los a sério quando o assunto é a auto-estima e o estímulo financeiro. É uma pena.

Aprendendo a aprender
Seu filho precisa ser responsável pelas escolhas que faz. Se ele quer comprar algo fora do seu universo normal, primeiro precisa aprender a poupar. Ah, ele não aprende sozinho (duh!). É papai, mamãe, você terá de ensiná-lo. É um capítulo a menos da novela, um final de semana sem ir ao clube com os amigos. É assim. Participação dos pais é fundamental (outro duh!). Se o pimpolho tem mais de 8 anos, R$ 40,00 no bolso e o brinquedo custa R$ 50,00, deixe que ele negocie com o vendedor. Apenas observe. Depois, peça que ele lhe explique o que aconteceu na loja e o quais suas conclusões sobre a compra do brinquedo. Você vai se surpreender.

Atitudes (simples) assim evitam que o pimpolho arrisque-se no cheque especial ou caia na armadilha do crédito fácil quando atingir a maioridade. A culpa não é da televisão, das revistas ou dos colegas. A educação financeira dos filhos é responsabilidade dos pais, da família (já sei, estou sendo repetitivo demais). As palavras ensinsam, mas só o exemplo arrasta, portanto preste atenção ao que você faz. Alegar falta de dinheiro para comprar um mimo no passeio de domingo e entrar em um financiamento de um carro novo, logo na segunda, é um exemplo (comum) do que estou falando. Ninguém faz isso, não é mesmo? Aham.

Hora de parar
Geralmente o problema surge quando os pais dão uma mesada muito alta ou cobrem o filho de presentes “extra-mesada”. A mesada precisa ter um objetivo e seu filho um dia vai precisar trabalhar, certo? Portanto, cuidado com o exagero na hora de bancar as aventuras do rebento. Deixe ele perder a viagem com os amigos porque a mesada acabou. Perder? Seu filho sabe o que isso significa? Esse é o erro crítico que antecede a discussão sobre a hora certa de cessar os depósitos. O especialista Marcos Silvestre dá sua opinião:

“É interessante subtrair da mesada o dinheiro que seu filho recebe com trabalhos pontuais ou estágios. Por exemplo, é possível reduzir 5% da mesada, a cada três meses, depois que o filho sai da faculdade”

O apoio incondicional dos pais deve ser eterno, a mesada não. Isso deve estar claro tanto para você, pai (ou mãe), quanto para você, filho. Vivencio casos típicos de pais que, sem saber como contornar a falta de preparo do filho em relação ao trabalho e seu fracasso em relação à educação financeira, bancam seus pupilos por muitos anos, colocando-os em pós-graduações aqui, cursos de extensão lá, viagens ao exterior etc. Parece que o problema não existe, que está tudo certo.

“Ele está se preparando para o mercado de trabalho” é o que escuto freqüentemente. Trabalho? Alguém acha mesmo que esse jovem vai querer trabalhar? Já já ele “reconhece” que o tal curso não lhe trouxe benefícios e resolve pular para outra faculdade, outra profissão. Por que não conhecer o Canadá e ficar um ano estudando inglês? Pulando daqui e de lá ele vai mantendo seu padrão de vida, sustentado pela família, sem a menor preocupação com a energia que mantém seu computador ligado ou com as compras que abastecem seu almoço. Que valor esse jovem dá ao trabalho, ao dinheiro?

PS: Antes que alguns pais, irados, discordem de tudo e apelem para o “você ainda não tem filho, vai ver como é difícil”, peço que reflitam sobre suas atitudes e permitam que um filho agradeça sua família pela formação que recebeu. Obrigado mãe, obrigado pai.

PS2: Antes que alguns filhos, irados, discordem de tudo e apelem para o “eu realmente não me encontrei ainda e esses cursos são para que eu possa experimentar diferentes áreas”, peço que experimentem trabalhar e permitam que um filho, como você, comemore sua independência financeira.

Crédito da foto para Marcio Eugenio

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