Home Finanças Pessoais Muito prazer, eu sou o Sr. Banco!

Muito prazer, eu sou o Sr. Banco!

por Conrado Navarro
3 min leitura

Bancos - ATMLucas comenta: “Cara, seu blog é excelente. A cada novo artigo vou me sentindo cada vez mais capaz de gerenciar minhas finanças e poder lucrar com esta capacidade. Obrigado pela disposição em nos oferecer estes materiais de graça. Gostaria que falasse um pouco sobre o funcionamento dos bancos, cheque especial, essas coisas. Eles nos oferecem mesmo bons produtos? Tenho familiares que pegaram dinheiro emprestado com o banco, mas possuem dinheiro na caderneta de poupança. Sou leigo, mas isso me parece um péssimo negócio. Estou certo”?

Lucas, muito obrigado pela visita e pelas palavras de reconhecimento. Confesso que meu objetivo com o Dinheirama é exatamente este e fico contente em estar, visivelmente, no caminho certo. Parabéns pela consciência e atitude. Sua curiosidade é muito comum e, confesso, gostaria de encontrá-la em mais gente. Diariamente lemos e vemos notícias sobre o lucro cada vez maior dos bancos e quase sempre não paramos para discutir as possíveis razões para tamanho sucesso. A fonte de tanto lucro somos nós mesmos e nossa falta de interesse. Valeu por levantar o assunto e espero poder ajudar com alguns esclarecimentos.

O objetivo principal de um banco é servir aos seus correntistas. Mas servir no sentido de oferecer facilidades para obtenção, compra ou aluguel de objetos, bens, coisas ou negócios. Isso significa que você terá sinal verde do banco para alguma transação se, e somente se, for um correntista capaz de gerar lucros (e bons lucros) para a instituição. Portanto não se apegue ao “banco que esteve sempre ao meu lado” ou ao “banco que sempre me ajuda a trocar de carro”. Eles só estão oferecendo algo “interessante” porque o tal algo é muito mais interessante (sem aspas) para eles. Ponto!

Vamos manter a explicação simples, como sempre gosto de fazer. Se você tem R$ 10.000,00 guardados em sua caderneta de poupança e seu amigo está no cheque especial devendo R$ 10.000,00, advinhe o que acontece? O que acha que o banco faz? Ora, o banco lhe paga 0,55% (valor médio) de rendimento mensal e cobra de seu amigo 8%. Que tal? Não parece um ótimo negócio? Pois é, o banco paga pouco para quem investe seu dinheiro e cobra muito de quem pega emprestado este mesmo dinheiro. Essa diferença é chamada de spread. Quer fórmula melhor para lucros exorbitantes? Ela existe e vamos chegar lá.

Então Lucas, começou a entender? Agora já sabe que quem tem dinheiro aplicado e ainda assim pega dinheiro emprestado no banco está fazendo um péssimo negócio, certo? Neste caso, o banco lhe empresta seu próprio dinheiro e cobra juros maiores que o rendimento de seu investimento. Ou seja, você está perdendo dinheiro! E muito dinheiro, se pensar no médio e longo prazo. Não precisa ser um economista, expert em calculadora financeira ou Excel para perceber isso, não é verdade? Portanto Lucas, parabéns pela sua conclusão.

Ah, a fórmula para lucros ainda maiores, havia me esquecido. Bom, ela é simples. Some aos juros bancários algumas tarifas e multiplique estes números pela quantidade de correntistas do banco. Aqui o uso da calculadora é fundamental. Mas deixemos a conta de lado. Voce já não teve uma tarifa cobrada a mais em seu extrato? Algum banco já ligou para se desculpar ou mesmo retirar uma dessas taxas por livre e espontânea vontade? Blah!

O responsável por conhecer as taxas cobradas e o que elas representam é você! Se você paga, não reclama e ainda por cima não sabe o que elas cobrem, saiba que sua contribuição para a fórmula do lucro é maior que a minha. Vou abrir um banco e convidá-lo a ser meu cliente. Topa?

Tem gente que aceita tudo que o gerente oferece. Aceita limites e cheque especial, mesmo sabendo que não vai usá-los. Muitos bancos cobram a taxa por oferecer este serviço, não importando se você lançou mão, ou não, do recurso. Poxa, cancele o cheque especial. Não soa mais inteligente? Outra coisa que não entendo são as pessoas com contas em quase todos os bancos. Pra que isso? Não tente me explicar, me parece algo insano e não vou entender. Concentre ao máximo suas operações e com isso o controle das tarifas, CPMF e seu poder de barganha aumentam. Mas lembre-se de encerrar uma conta bancária e deixá-la sem movimento são coisas completamente diferentes. Faça, mas faça direito.

O cheque especial é uma armadilha psicológica poderosíssima. Há quem idolatre a “chance” de possuir tal “privilégio”, como se ter crédito desta forma fosse motivo de orgulho. Cancele imediatamente seu cheque especial e orgulhe-se de nunca mais usá-lo. Ah, sem essa de “o banco oferece 10 dias no cheque especial”. Você trabalha pra eles ou pra você mesmo? Se ele oferece 10 dias é porque a grande maioria das pessoas que entra no limite não consegue cobrir o rombo neste período. As pessoas colocam os 10 dias na cabeça e relaxam. E o banco agradece.

Mas bancos também são ótimos. Eles oferecem excelentes produtos, desde que você tenha capacidade, disposição e conhecimento para encontrá-los. Eles não estão anunciados em outdoors, banners, folders ou na tela principal do caixa eletrônico. Também não estão na ponta da língua de seu gerente. E também não estão nos primeiros 5 clicks do internet banking. Mas eles estão lá, existem e podem colaborar para uma vida financeira inteligente e promissora. Aprenda a usar o banco e pare de permitir que ele use você!

PS: Gerentes, não me odeiem por este artigo. Simplesmente aceitem que, se fossem vocês as figuras sentadas do outro lado da mesa, do telefone ou do terminal, mais de 50% dos argumentos que usam seriam, não só inapropriados, mas também péssimos sob o ponto de vista financeiro. E permitam que cada vez mais pessoas cheguem aos bons produtos que ficam escondidos em sua terceira gaveta.

Aliás, confesso que tenho um ótimo relacionamento com minha gerente. Prometi ir até a agência somente em casos urgentes e ela prometeu me procurar apenas em casos urgentes. Sem graça, eu sei! Brincadeiras a parte, ela decidiu ser mais humana e menos bancária e, por incrível que pareça, tem faturado muito mais. Ela passou a se preocupar com o que as pessoas pensam e querem e não com o que elas pensam que precisam. Será que vão despedi-la por isso?

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