A relação das mulheres com o dinheiro é um dos maiores mitos de finanças pessoais. Essa questão foi (e ainda é) amplamente discutida, uma vez que homens afirmam ter um bom conhecimento sobre o assunto e a maioria das mulheres assume que não sabe tanto sobre as finanças familiares quanto deveria.
A jornalista financeira Helaine Olen, autora do livro “Pound Foolish: Exposing the Dark Side of the Personal Finance Industry”, e outros especialistas da área começaram a despertar interesse por essa diferença de posicionamento. O senso comum está correto ou as diferenças entre como os homens e as mulheres lidam com dinheiro são exageradas?
Segundo os pesquisadores, é negativo tratar as mulheres como ingênuas que precisam de atenção especial sobre temas financeiros. “Uma parte considerável do setor é simplista e condescendente com as mulheres”, afirmou Olen.
A escritora vai além. Para ela, o verdadeiro problema está no fato de que as mulheres geralmente ganham menos e vivem mais que os homens. Mais do que isso, a rotatividade de empregos das mulheres também é maior em função da criação dos filhos.
“Suponho que essa visão sobre as mulheres seja uma forma de fugir de problemas que na verdade são sistêmicos e que precisam ser enfrentados por meio de políticas públicas”, afirmou.
Outro ponto levantado por Olen é sobre os conselhos dados às mulheres. Conselhos como “evitar as compras” são, na melhor das hipóteses, inúteis; e, na pior das hipóteses, machistas, de acordo com a jornalista.
A queda do mito
Em seu livro, Olen mostra uma pesquisa realizada em 2011 pela Gallup apontando que homens gastam em média US$ 11 a mais por dia que mulheres.
Annamaria Lusardi, professora de economia e contabilidade da Universidade George Washington e diretora acadêmica do Centro de Excelência em Alfabetização Econômica Global, afirmou que a ideia de que “mulheres gastam mais é um mito”.
Lusardi é coautora do estudo “Financial Literacy Around the World: An Overview” realizado em oito países – Estados Unidos, Japão, Nova Zelândia, Alemanha, Holanda, Suécia, Itália e Rússia. A pesquisa revelou que o nível de alfabetização geral era baixo, sendo que nenhum país se destacou pelo conhecimento sobre finanças.
A pesquisadora ainda argumenta que, segundo seus estudos, mulheres de todos os países envolvidos tinham chances menores de responder corretamente a questões sobre alfabetização financeira quando comparada aos homens, principalmente quando eram utilizados termos técnicos.
No entanto, a conclusão de Lusardi é que, mesmo assim, as mulheres não devem ser consideradas mais ignorantes. Abaixo está um exemplo da pesquisa.
“A compra de ações de uma única empresa geralmente proporciona um retorno mais seguro do que uma ação de fundos mútuos”. As opções seriam “verdadeiro”, “falso”, “não sei” ou “não quero responder”. (A resposta correta seria “falso”.)
Nos Estados Unidos, os homens responderam corretamente 57,1% das vezes, ante 46,8% das vezes entre as mulheres. Na Alemanha, ambos os sexos responderam corretamente mais vezes que nos Estados Unidos, mas a diferença entre ambos era similar: 67,6% dos homens e 56,8% das mulheres responderam corretamente.
Contudo, houve um fator interessante: “quando retiramos a opção ‘não sei’, as mulheres não tinham mais chances de responder incorretamente”, afirmou Lusardi. “Portanto, quando eram forçadas a escolher, as mulheres sabiam tanto quanto os homens”.
O processo de autoavaliação também auxiliou a conclusão da pesquisa. Através dos dados coletados foi possível constatar que homens costumavam atribuir notas altas quanto ao seu conhecimento sobre finanças, já as mulheres tinham a tendência de atribuir notas mais baixas a si mesmas.
“As mulheres têm consciência de sua falta de conhecimento”, afirmou Lusardi, uma vez que “homens sentem-se menos dispostos a admitir que não sabem”.
Leia mais sobre Helaine Olen
A jornalista de Nova Iorque tem excelentes publicações em diversos veículos (online e impresso) que merecem atenção. Acostumada a escrever sobre finanças pessoais, política e estratégia de carreira, Olen tem textos no The New York Times, no The Wall Street Journal e no BusinessWeek.
Para quem se interessou pelo trabalho de Olen, ela mantém um blog sobre dinheiro no The Guardian (clique aqui para visualizá-lo) e contribui com certa frequência para o site da Forbes (clique aqui para ler as publicações).
Fonte: iG. Foto de freedigitalphotos.net.