O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou nesta segunda-feira que não ficou confortável em abandonar o “guidance” do Copom que apontava para mais um corte de 0,50 ponto percentual na taxa Selic na reunião deste mês, mas reafirmou o compromisso com a meta de inflação, ressaltando que não há “tergiversação” em torno da obrigação da autoridade monetária de cumprir o objetivo.
“O BC vai conseguir dirimir e afastar dúvidas que eventualmente possam ter sido levantadas, dado que a gente vai estar sempre reforçando e reafirmando e demonstrando o compromisso que a gente tem com o que é nossa missão institucional, que é a perseguição da meta de inflação através da taxa de juros no patamar restritivo necessário pelo tempo que for necessário”, disse Galípolo ao participar de um evento universitário.
O Comitê de Política Monetária do BC (Copom) reduziu neste mês o ritmo de afrouxamento monetário, cortando a Selic em 0,25 ponto percentual, a 10,50% ao ano, após seis reduções consecutivas de 0,50 ponto percentual. Galípolo e outros três diretores também nomeados no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foram votos vencidos pelo corte de 0,50 p.p.
A decisão do colegiado significou o abandono da orientação futura dada na reunião anterior do Copom, que previa um corte de 0,50 ponto este mês.
Em evento promovido pela Liga de Mercado Financeiro da Universidade Federal de Itajubá (MG), Galípolo disse que reduzir a magnitude do corte na taxa básica implicaria justificar que tinha acontecido uma mudança substancial no cenário que justificava não cumprir o guidance, o que em sua opinião não era o caso.
“Obviamente a ideia de uma mudança substancial é subjetiva, para cada um dos membros”, afirmou.
Ele ponderou que já vinha frisando a importância de ter serenidade nas reações à volatilidade do mercado e que não há relação mecânica entre os juros internacionais e a política monetária brasileira.
Em relação aos impactos do anúncio de mudança da meta fiscal do país, o diretor apontou que pesquisas já mostravam que o mercado previa essa alteração, o que amenizava o impacto da decisão.
Galípolo disse, ainda, que apesar de o Copom ver um mercado de trabalho dinâmico, não era possível extrair correlação clara com uma pressão de salários que estivesse gerando pressão inflacionária.
“Ao você ter evidências que se revelam muito mais do ponto de incerteza do que uma mudança em um ponto específico, que você consiga mensurar e apontar, poderia passar uma função de reação ao mercado que para mim não estava confortável, de largar o guidance como uma função de reação nesse sentido”, disse Galípolo.
O diretor apontou, ainda, que a desancoragem das expectativas de inflação é o principal “desconforto” do Copom atualmente, e que o papel do colegiado não é explicar essa desancoragem, mas reagir a ela.