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Não vai ter Copa? Hino a capela? O Brasil dos extremos

por Ricardo Pereira
3 min leitura
Não vai ter Copa? Hino a capela? O Brasil dos extremos

Ao escrever neste espaço, sempre procuro trazer pensamentos que podem representar uma tendência ou mesmo uma maneira de traduzir, em poucas palavras, não só o meu próprio anseio, mas também de outras pessoas.

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O assunto de hoje é um tanto polêmico, mas peço permissão para abordá-lo. Farei minhas colocações sem nenhuma pretensão ou afã de ser o dono da verdade; pelo contrário, meu ponto de vista pode e deve ser rebatido por quem pensa de maneira diferente, afinal minha opinião não é melhor do que a de ninguém.

Estamos vivendo um período muito interessante no país: campeonato mundial de futebol chegando ao momento derradeiro somado a um surto patriótico típico destes momentos, sempre entre lágrimas e muita emoção (o hino a capela é ou não é emocionante?).

Lembra do “Não vai ter Copa”?

Se voltarmos um ano no tempo, vamos perceber que em junho havia uma indignação coletiva. Muitas pessoas simplesmente defendiam que Copa não era bem-vinda, defendendo que havia tantos outros problemas mais importantes em áreas como saúde, educação, transporte público e infraestrutura.

As manifestações tomaram conta do país e muita gente foi às ruas protestar e pedir tudo aquilo que a nação precisava (e ainda precisa!). Um dos gritos mais comuns era: “Não vai ter Copa!”.

A copa, o governo e a entidade que organiza o campeonato se tornaram “inimigos” das pessoas e o atraso em obras e estádios, que consumiram muito mais tempo e dinheiro do que o planejado e divulgado inicialmente, só tornava essa relação ainda mais explosiva.

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O tempo foi passando (rápido) e cá estamos, empolgados e com a bandeira do Brasil nas janelas e nos carros, mostrando ao mundo todo que somos brasileiros, com muito orgulho e com muito amor.

Será que somos pautados por interesses da mídia?

Ao parar para escrever esse artigo, percebi que no Brasil somos conduzidos (e eu me incluo nessa) pelo momento. Somos pautados, todos os dias, pelo noticiário e por interesses que transformam nossas vontades e instigam nosso senso de justiça.

Ao mesmo tempo em que queremos protestar por tudo de errado que o país realmente apresenta, não deixamos de esperar ansiosamente pelo Carnaval para festejar e fazer de conta que os problemas simplesmente não existem.

É verdade que os protestos perderam um pouco o apoio popular porque não surgiram líderes capazes para levar adiante o movimento, criando e discutindo uma pauta de reivindicações e com caminhos alternativos pautados em propostas factíveis afim de resolver as demandas do país.

Os mascarados que estavam prontos para os atos de violência e vandalismo também ficaram marcados em nossa memória principalmente por serem responsáveis pelo acidente que levou a vida do cinegrafista da TV Bandeirantes durante mais um protesto no Rio de Janeiro.

A cultura do “Nós contra eles”

O clima que se instaurou no Brasil recentemente é preocupante: as pessoas passaram a enxergar engajamento político como uma torcida por um time favorito. Em um exagero estranho, qualquer cidadão enxerga política em qualquer coisa, pessoa ou opinião.

Vejo que existe hoje em dia um ódio exagerado e exposto na sociedade. Os avanços que foram construídos ao longo das últimas duas décadas são importantes demais para o país. A realidade, no entanto, parece outra: interesses pessoais soam mais importantes para muita gente do que o entendimento e a busca por um momento de conciliação.

Nessa altura do campeonato, ninguém pode ser ingênuo o bastante para não perceber que e sentimento de que muita coisa precisa mudar (e de fato precisa!) não se transformará em resultados a partir de instrumentos de violência e aposta no “quanto pior melhor”.

Muitos dos que saíram para protestar e gritar “Não vai ter Copa!” são os que hoje cobram a vitória a qualquer custo do time brasileiro e protagonizaram cenas lamentáveis nos estádios, como a vaia durante o hino do Chile, para ficar em apenas um exemplo.

Conciliação para o país avançar

Os caminhos da mudança são construídos com base no entendimento e no debate, não na imposição. As pessoas precisam entender e buscar uma alternativa que passe por mudanças que tenham como foco a criação de melhores condições de crescimento, e não a simples destruição do que foi alcançado até aqui.

Somos uma nação jovem, que precisa resolver inúmeros desafios com reformas estruturais de peso. Não podemos fechar os olhos para a corrupção, desmandos, intervenções e coleguismo. Acredito que só a mudança de postura das pessoas poderá dar fim ao eterno estado de espírito “FLA x FLU” ou o “Nós X Eles”.

Não estamos aqui para medir quem é melhor ou pior. Estamos aqui para conversar e criar oportunidades. O Brasil precisa de mais diálogo (político e social) sobre pautas realmente importantes – a sociedade precisa aprender a cobrar com uma postura digna de cidadania e renovação, ou seguiremos reclamando e comemorando sem sair do lugar.

Peço a você, caro leitor, que deixe sua opinião sobre estes acontecimentos – use o espaço de comentários abaixo para isso. Obrigado e até a próxima.

Foto “Brazil soccer fans”, Shutterstock.

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