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Natura é ESG? Fatos questionam o “Social and Governance”

Incertezas sobre processos envolvendo doenças por produtos da adquirida Avon e práticas questionáveis de RH afastam os investidores da Natura

por Gustavo Kahil
3 min leitura
Natura

A Natura (NTCO3) usa em sua estratégia comercial o seu respeito à natureza e a responsabilidade empresarial, no entanto, fatos recentes envolvendo a empresa levantam questionamentos sobre este posicionamento.

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A empresa também faz parte do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE B3), que leva em conta as práticas ESG (Ambiental, Social e de Governança Corporativa, na sigla em inglês).

Apesar do E (Envinromental) estar endereçado, o S (Social) e G (Governance) foram arranhados recentemente, o que tem colocado os investidores em modo “esperar para ver”, devido ao processo de Chapter 11 da Avon (API), empresa comprada pela Natura.

Uma das incertezas mais relevantes neste momento são os processos movidos contra a Avon por clientes que teriam desenvolvido câncer após o uso de talco com amianto.

A empresa está envolvida em uma série de processos judiciais, com 429 casos ativos até o segundo trimestre de 2024 (79 novos casos foram iniciados e 22 foram indeferidos), segundo o balanço da brasileira. Esses litígios resultaram em despesas de US$ 225 milhões para a API.

Os analistas de mercado observam que a decisão da Natura de apoiar o pedido de recuperação judicial da Avon é uma medida para “lidar com dívidas e passivos herdados” que foram adquiridos antes da compra da empresa pela Natura. Eles também apontam que a medida pode ter implicações importantes para a estratégia futura da Natura, especialmente no que diz respeito à alocação de capital e à preservação de caixa.

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A Natura abordou o tema em seu último relatório trimestral, de junho de 2024.

A empresa cita que, em 26 de julho de 2024, um caso intitulado Ramirez, vs. Avon Products, resultou em um veredicto adverso do júri após o julgamento, com o júri concedendo aos demandantes um total de US$ 23,5 milhões em compensação danos e US$ 1 milhão em danos punitivos contra a Avon.

“Como a companhia acredita ter fortes motivos para buscar a anulação da sentença neste caso e pretende interpor recurso, nenhum ajuste na reserva corrente reconhecida foi incluído nas demonstrações financeiras intermediárias”, explicou a empresa.

Ramirez foi exposto ao amianto na década de 1980 enquanto trabalhava na instalação da Avon em Morton Grove, Illinois, um subúrbio de Chicago, onde a empresa processava talco contaminado com amianto e fabricava produtos contendo talco contaminado com amianto. Ramirez trabalhou como zelador na instalação no início da década de 1980, segundo informações do escritório de advocacia Simmons Hanly Conroy, que o representou.

O Safra, em um relatório divulgado nesta terça-feira (15) ressalta que a principal resistência à tese da empresa está relacionada às operações e a saúde finaceira da API. Os analistas estimam que o Chapter 11 adie a possibilidade de uma cisão e também reduza as chances de um dividendo extraordinário. Eles assumem um pagamento de US$ 30 milhões pela Natura para encerrar os processos relacionados ao talco.

“Um resultado positivo alternativo seria a aquisição da API por um terceiro, o que é uma possibilidade difícil de estimar. Em termos de estimativas, estamos reduzindo nossos números para 2025 (-13% vs. nossas estimativas antigas) principalmente devido a um balanço mais pressionado do que em nosso número anterior e aos piores resultados da API, que devem persistir por mais tempo”, pontua o Safra.

RH e o LinkedIn do Mal

A Natura foi citada em uma investigação do Cade que revelou o uso, por dezenas de grandes empresas brasileiras e multinacionais, de um tipo de “LinkedIn do Mal” para trocar informações sobre salários, benefícios, transporte, alimentação, planos de saúde e outros custos, visando limitar os pagamentos aos seus funcionários e aumentar os seus lucros.

“Existem fortes indícios, até o momento, da prática de conduta anticompetitiva consistentes em troca de informações comerciais sensíveis sobre o mercado de trabalho”, mostra a nota técnica do processo 08700.001198/2024-49. A Superintendência-Geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) instaurou um processo após o levantamento dos dados.

A prática teria ocorrido, pelo menos, a partir de 2004, e teria durado até, pelo menos, início de 2021, explica o Cade.

As empresas utilizavam um sistema online (ainda disponível) por intermédio do Grupo Executivo de Salários (GES) e do Grupo Executivo de Administradores de Benefícios (GEAB).

Ali, as áreas de recursos humanos das empresas conduziam atividades “altamente institucionalizadas, com encontros periódicos presenciais (e por meio de plataformas virtuais, após a pandemia de Covid-19); e trocas sistemáticas de informações concorrencialmente sensíveis, principalmente por meio de pesquisas enviadas por e-mails, via website e em grupo de WhatsApp”.

Neste caso, a Natura é citada ao lado de outras 30 empresas. Ela, contudo, aparece também em outro “LinkedIn do Mal”, que é o Grupo de Empresas de Consumo (GECON). Nele, o modus operandi era o mesmo, mas com o foco a um grupo de empresas do mercado de bens de consumo, com alcance nacional. Além disso, a conduta anticompetitiva teria ocorrido, pelo menos, a partir de 1994, e teria durado até, pelo menos, início de 2021.

O balanço do terceiro do trimestre de 2024 será divulgado no próximo dia 7 de novembro, após o fechamento do mercado. Os investidores esperam atualizações sobre os processos em que a empresa está envolvido. Enquanto os analistas “esperam pra ver”, a Natura lidera as revisões para baixo sobre os lucros estimados para 2025 entre as 100 empresas do IBRX.

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