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Natura: Mercado pede dados sobre processos por câncer da Avon

A Avon está envolvida em uma série de processos, com 429 casos ativos até o 2° tri de 2024, com litígios resultando em despesas de US$ 225 mi

por Gustavo Kahil
3 min leitura
Avon

A ausência de informações detalhadas sobre a posição da dívida da Avon Products (API) no momento da recuperação judicial é um dos pontos críticos na avaliação das ações da Natura (NTCO3), aponta o BTG Pactual em um relatório enviado a clientes nesta segunda-feira (26).

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Os analistas Luiz Guanais, Gabriel Disselli, Pedro Lima e Luis Mollo, ressaltaram que a Natura, maior credora da API, se comprometeu a fornecer US$ 43 milhões em financiamento DIP (debtor-in-possession) para auxiliar a API durante o processo de recuperação judicial.

Além disso, a Natura fez uma oferta de US$ 125 milhões para adquirir as operações da Avon fora dos EUA por meio de um processo de leilão supervisionado pelo tribunal.

A empresa não divulgou a posição da dívida da API, mas segundo os dados mais recentes, a API possuía US$ 2 bilhões em empréstimos intercompanhias no final do primeiro trimestre de 2023, uma situação que coloca uma pressão significativa sobre a estrutura financeira da holding.

Passivos da Avon: amianto e câncer

A análise do BTG destaca que a Avon, fundada em 1886, enfrenta passivos legais relacionados a problemas de saúde decorrentes do uso de talco em seus produtos, que supostamente causaram câncer em diversos consumidores devido à contaminação com amianto. A empresa está envolvida em uma série de processos judiciais, com 429 casos ativos até o segundo trimestre de 2024 (79 novos casos foram iniciados e 22 foram indeferidos). Esses litígios resultaram em despesas de US$ 225 milhões para a API.

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Os analistas observam que a decisão da Natura de apoiar o pedido de recuperação judicial da Avon é uma medida para “lidar com dívidas e passivos herdados” que foram adquiridos antes da compra da empresa pela Natura. Eles também apontam que a medida pode ter implicações importantes para a estratégia futura da Natura, especialmente no que diz respeito à alocação de capital e à preservação de caixa.

A Natura abordou o tema em seu último relatório trimestral, de junho de 2024.

A empresa cita que, em 26 de julho de 2024, um caso intitulado Ramirez, vs. Avon Products, resultou em um veredicto adverso do júri após o julgamento, com o júri concedendo aos demandantes um total de US$ 23,5 milhões em compensação danos e US$ 1 milhão em danos punitivos contra a Avon.

“Como a companhia acredita ter fortes motivos para buscar a anulação da sentença neste caso e pretende interpor recurso,
nenhum ajuste na reserva corrente reconhecida foi incluído nas demonstrações financeiras intermediárias”, explicou a empresa.

Ramirez foi exposto ao amianto na década de 1980 enquanto trabalhava na instalação da Avon em Morton Grove, Illinois, um subúrbio de Chicago, onde a empresa processava talco contaminado com amianto e fabricava produtos contendo talco contaminado com amianto. Ramirez trabalhou como zelador na instalação no início da década de 1980, segundo informações do escritório de advocacia Simmons Hanly Conroy, que o representou.

Crescimento ou rentabilidade

O relatório também analisa o impacto do cenário macroeconômico e das estratégias empresariais recentes no desempenho financeiro da Natura e de outras empresas do setor. Os analistas destacam que, nos últimos trimestres, muitas empresas brasileiras, incluindo a Natura, adotaram uma postura mais conservadora na alocação de capital, em resposta ao aumento dos custos de financiamento e à necessidade de otimizar a rentabilidade.

Além disso, o BTG Pactual enfatiza que “o dilema entre crescimento e rentabilidade deve persistir nos próximos trimestres”, especialmente para empresas que enfrentam desafios semelhantes aos da Natura. Eles observam que, embora a margem Ebitda ajustada tenha sido volátil nos últimos anos, as iniciativas de otimização de custos e uma abordagem de precificação mais racional têm contribuído para uma melhora recente.

Outro ponto importante da análise é a observação de que o capex, como percentual das receitas brutas, diminuiu na maioria das empresas do setor após atingir seu pico durante a pandemia. Essa tendência reflete uma mudança na estratégia de investimento, com as empresas focando mais na geração de fluxo de caixa do que em expansões agressivas.

Os analistas concluem que, apesar dos desafios enfrentados pela Natura com a recuperação judicial da Avon, a empresa tem potencial para superar essas dificuldades se conseguir manter uma gestão eficaz de seus recursos e continuar a implementar estratégias que otimizem sua rentabilidade e preservem o fluxo de caixa.

A recomendação para as ações é neutra, com preço-alvo de R$ 18.

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