Todos procuram tirar a maior rentabilidade possível dos seus investimentos. Hoje existe um consenso de que Bolsa de Valores é um dos tipos de investimento com melhor retorno, principalmente quando levamos em consideração o longo prazo.
Gaças à percepção de que o mercado acionário não é (mais) nenhum bicho de sete cabeças, ano após ano o recorde de pequenos investidores é superado. Muita calma nessa hora. A negociação de ações faz parte do mercado de renda variável, certo? Algo que varia implica maior risco e volatilidade. Se você pensa em entrar nesse mundo é preciso se preparar. Este artigo pretende ajudá-lo.
A arte de escolher
Ninguém pode montar uma carteira simplesmente porque acredita no potencial das empresas ou porque tem um conhecido que trabalha nela. Tudo bem, até pode, mas não deveria ser assim. Existem algumas escolas de análise que podem nos ajudar a escolher melhor as empresas. Escolas que facilitam a arte de investir.
Decidimos escrever alguns textos sobre as opções de análise disponíveis e algumas nuances teóricas dos investimentos em ações. A agenda por enquanto está assim:
- Análise Técnica ou Gráfica (hoje)
- Análise Fundamentalista (dia 15/02/2008)
- Preço justo (teoria), preço alvo e carteiras sugeridas por algumas corretoras. (20/02/2008)
Análise Técnica
É o estudo dos movimentos passados dos preços e dos volumes de negociação de ativos financeiros, com o objetivo de fazer previsões sobre o comportamento futuro dessas ações. Para os analistas técnicos, a resposta está nos gráficos de preços e volumes negociados das ações. Os gráficos traduzem o comportamento do mercado e avaliam a participação de massas de investidores capazes de induzir certas formações de preços.
Nessa análise, não importam os lucros obtidos e projetados, política de dividendos das empresas, expectativas para o setor de atividade, grau de endividamento, etc. O que interessa são os fatores internos de oferta e demanda de mercado, capazes de entender e traduzir a “psicologia” do mercado.
Nosso amigo Christian, do CHRinvestor, fez um comentário bastante consciente e inteligente a respeito da análise técnica:
“A análise técnica não é uma mágica. Nem nos garante sucesso em todas as operações. Mas essas ”coincidências” simétricas associadas a um manejo de risco eficiente e principalmente disciplinado podem resultar em maiores chances de ganho”
Como surgiu a análise técnica?
As origens da análise técnica moderna estão nos trabalhos de Charles Dow no início do século XX. Dow, ao lado de Edward D. Jones, publicava um informativo financeiro que mais tarde se transformaria no famoso “The Wall Street Journal”. Através do jornal, Dow apresentava suas observações sobre o comportamento do mercado.
O conjunto desses textos foi posteriormente reunido, gerando o que pode ser considerado o início da análise técnica: a Teoria de Dow.
Entendendo os Gráficos
A análise técnica funciona em muitas ocasiões porque o mercado corresponde à soma dos desejos, medos e expectativas das pessoas. O valor de um ativo reflete o encontro entre os que acreditam que o ativo irá se valorizar (compram) e aqueles que pensam o contrário (vendem). Essas manifestações aparecem nos gráficos.
Existem diversos tipos de gráficos e, consequentemente, diversas maneiras de representar o que aconteceu no pregão. É importante que você entenda como são formados os símbolos que formam os gráficos, pois esses símbolos são a própria linguagem do mercado. Os gráficos mais comuns são:
Gráfico de Barras. Um dos tipos mais populares na análise técnica, ele utiliza o valor de abertura, máximo, mínimo e de fechamento. Veja um exemplo:
Gráfico de Candles. Também chamado gráfico de velas ou candelabro japonês, popularizou-se na década de 90 com os trabalhos de Steven Nison, autor do famoso livro “Japanese Candlestick Charting Techniques“. Também utiliza as informações de preço máximo, mínimo, abertura e fechamento para o desenho do símbolo. Veja um exemplo:
Padrões de continuação: Rising and Falling Three Methods
Embora sejam conhecidos pelo seu poder de sinalizar reversões, nem só de viradas de tendência vivem os candles. Existem sim padrões de continuação e eles podem ajudar bastante. Neste artigo vamos analisar um padrão de continuação de tendência altista chamado rising three methods. Como não poderia deixar de ser, vamos dar uma olhada também em seu análogo baixista, o falling three methods.
Identificando o Padrão
O rising three methods, que surge em uma tendência de alta, é formado por:
- Um candle branco longo
- Na seqüência surge um grupo de candles de corpo pequeno. Esses candles fazem uma configuração de queda ou de movimento lateral.
- Os corpos dos candles pequenos devem estar dentro do espaço entre a máxima e mínima do candle longo inicial. Note que no intervalo de máximo e mínimo estão incluídas as sombras do candle longo.
- As cores dos corpos dos candles pequenos podem ser brancas ou pretas. É preferível que seja preta, mas o contrário não invalida o padrão.
- O último dia do padrão deve ser uma figura de alta forte com um fechamento acima do fechamento do primeiro dia do padrão.
O ideal do padrão é que o grupo de candles seja composto por três. Mas, dois ou mais do que três não invalidam o padrão desde que as outras “regras” sejam cumpridas. Como você já deve estar imaginando, as regras de formação do falling são similares, mas contrárias. Vejamos as diferenças:
- A tendência deve ser de baixa;
- O primeiro dia é um candle negro longo;
- O último dia deve ser forte, fechando bem abaixo do candle inicial.
A figura abaixo mostra o rising e o falling three methods:
Realizando trades
Imagine-se diante de um padrão de continuação. Se você está posicionado a favor da tendência, não há muito a fazer. Posicione seu stop e observe o comportamento do mercado depois da formação do padrão.
Se você não está na onda, é hora da sempre importante análise risco/recompensa. O último candle do padrão tende a ser intenso, ou seja, o mercado pode já ter subido bastante e não ser mais atrativo do ponto de vista de compras. Obviamente, entrar ou não depende de cada situação.
Existem resistências por perto? Linhas de tendência? Um lugar em que os traders normalmente posicionam seu stop em relação a este padrão é abaixo da mínima do primeiro candle. Você conhece seu limiar de resistência ao risco, basta avaliar se a provável recompensa vale a pena.
Ombro-Cabeça-Ombro
Este é um dos mais importantes padrões de reversão de tendência. Vamos utilizar a figura abaixo para analisar sua formação e seus componentes:
O padrão lembra, de fato, os ombros e a cabeça de uma pessoa. O mercado forma um primeiro topo (ombro) e retorna a linha base, chamada de linha de pescoço. Desse ponto, uma alta acontece superando o topo anterior e formando a cabeça, sugerindo continuação da alta. Os preços, a partir da cabeça, retornam uma vez mais até a linha de pescoço e voltam a subir, dando origem ao segundo ombro com tamanho muito semelhante ao primeiro. Está formado o OCO.
O volume costuma decrescer conforme o padrão vai sendo construído, elevando-se rapidamente no corte da linha de pescoço. Pode existir OCO de baixa, mas também OCO de alta.
Uma das características mais interessantes do padrão cabeça e ombros é o alvo de preços que a formação sugere. Mede-se a altura da cabeça até a linha de pescoço e projeta-se essa mesma altura a partir da linha de pescoço na direção de rompimento.
Navegando pelo excelente blog do Dalton Vieira, encontrei uma frase bastante interessante de Alexander Elder, autor do livro “Como se transformar em um operador e investidor de sucesso”:
“A análise técnica é psicologia social aplicada. Seu objetivo é identificar tendências e mudanças no comportamento das multidões, a fim de tomar decisões inteligentes sobre as operações no mercado”
Quem quiser ir além
Aos que desejam se aprofundar no assunto, sugiro o Treinamento Daytrade e Swingtrade ministrado pelo Daniel da DMC Invest. Além de possuir um conhecimento técnico inquestionável, o Daniel coloca a disposição do aluno a mesa de operações da DMC, para que a estratégia aprendida possa ser implementada no dia-a-dia. Para saber mais, basta entrar em contato através do site da DMC: www.dmcinvest.com.br. Acesse também algumas referências usadas para criar este artigo:
- CHRInvestor
- Nelogica
- Blog do Dalton Vieira
- Financenter (Terra)
- Livro “Comprar ou Vender”, de Eduarto Matsura, Ed. Saraiva
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Ricardo Pereira é Analista Financeiro Sênior da ABET Corretora de Seguros, trabalhou no Banco de Investimentos Credit Suisse First Boston e edita a seção de Economia do Dinheirama.
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Crédito da foto para Marcio Eugenio.