O mercado brasileiro já precificou a tarifa de 50% sobre exportações aos Estados Unidos. Basicamente, os itens afetados são commodities, sendo o principal o petróleo, e em menor escala produtos acabados como peças complexas e aviões. Isso gera algum impacto no índice Bovespa, mas nada expressivo. As exportações do Brasil para os EUA representam cerca de 2% do PIB e, para todos os efeitos, a imposição de Trump pouco afeta um mercado que já é comercialmente fechado.
O erro está do lado de Trump, que aumentou em 50% a tarifa sobre bens que fazem parte do café da manhã dos americanos. O erro também está do lado de políticos brasileiros que morderam a isca e saíram em defesa da taxação ou da demanda americana, totalmente fora do escopo comercial.
A realidade é uma só: o mercado brasileiro vai absorver o prejuízo inicial e, no fim, encontrará outro comprador para seus produtos. As cadeias de suprimento vão se acomodar nesse novo cenário. A bolsa não tem fôlego para cair mais, já está amassada, e ruídos políticos ou geopolíticos são oportunidades.
Para especular no curto prazo, vejo dois cenários mais prováveis:
1 – Trump recua: A balança comercial EUA x Brasil é superavitária, e a imposição de uma tarifa de 50% nas importações do Brasil é inflacionária para os americanos. A agenda política com Bolsonaro tem baixo efeito sobre a reeleição brasileira e ainda menor impacto para minar a popularidade de Lula.
2 – Trump escala: É o cenário mais provável, inclusive. A forma como Trump opera é essa, pressionar mais para ver se o Brasil cede. Mas, novamente, aumentar a tarifa não é o caminho. Trump terá que ser mais criativo do que isso. Retirar serviços americanos de um país com 225 milhões de consumidores de produtos de empresas americanas não está na mesa.
A retaliação brasileira também não deve ser pesada. Uma tarifa espelhada é o mais esperado e, novamente, com efeito baixíssimo. Podemos ver alguma tentativa de afetar o lobby tecnológico americano, mas isso pode impactar a popularidade do presidente no Brasil.
Pé no chão: a tarifa de 50% é política, não econômica. Busca forçar apoio a Bolsonaro, mas tem efeito limitado no PIB, sem provocar problemas sistêmicos na economia. O grande efeito até agora é político: Lula se fortalece, e projetos de retaliação e mobilização civil ganham força.