Imagine que você tem a missão de preservar a integridade de uma obra de arte por longos e incertos anos. Para protegê-la, você tem duas opções:
- Mantê-la sob sua supervisão todos os dias durante 24h;
- Deixá-la consigo nos momentos em que achar mais apropriado e transferir os cuidados a terceiros quando assim achar que deve. Leve em conta que eles têm plenas condições de prover a segurança necessária.
Caso siga a primeira alternativa, você se sentirá seguro por saber que ela está sempre ao alcance de seus olhos. Porém, também deve considerar que a estrada é longa e acidentes acontecem. Ou seja, mantê-la consigo é uma alternativa conservadora ao mesmo tempo em que apresenta riscos difíceis de serem mensurados previamente.
Se partir para a segunda alternativa, ficará com o objeto quando achar que deve e delegará a custódia quando assim achar melhor. Assim, ficará livre da pressão de ser o protetor em tempo integral. Mas será capaz o guardião de devolver a preciosidade intacta?
O que você faria? De forma genérica, podemos dizer que sua resposta tem o poder de dizer se você é um adepto do Buy and Hold (B&H) ou não. Proposto por Benjamin Graham, mentor de Warren Buffett, o B&H sugere que você monte uma carteira e a mantenha intacta por anos – até mesmo durante colapsos financeiros que provavelmente farão suas ações se desvalorizarem drasticamente.
Quem é “buy and holder” acredita nos fundamentos da empresa e na eficiência do mercado no longuíssimo prazo. Em função disso, o B&H se torna imbatível! A história realmente nos prova que em um longo período de tempo os rendimentos do Ibovespa e de muitas empresas que dele fazem parte impressionam.
Por outro lado, poderia o investidor ganhar mais se tivesse uma postura mais ativa, revendo suas posições regularmente ou mesmo apenas nos momentos mais conturbados? Você tem minha palavra que sim!
A essas alturas você pode estar torcendo o nariz e pensando: “Lá vem mais um desses traders malucos e alucinados que querem ganhar a todo instante”. Não te crucificaria por pensar dessa forma, até porque concordo que existe uma infinidade de “investidores” que agem assim. O que proponho não são estratégias suicidas pra ganhar ou perder a qualquer custo, mas sim algumas reflexões. A partir delas você pode, quem sabe, rever alguns paradigmas e se abrir para novas oportunidades.
Convido-lhe a se perguntar:
- O rendimento de sua carteira tem atingido o que você espera?
- Você venderia um ativo estagnado há muito tempo?
- Você conhece estratégias para operar quando o mercado está em baixa ou lateralizado?
Se respondeu “não” para pelo menos uma das perguntas, sugiro que dê mais atenção à sua carteira de ações e procure se aperfeiçoar. Pense que seus investimentos são iguais à sua carreira profissional. Você se contentaria com um bom cargo em uma boa empresa ou procuraria estudar continuamente para crescer ainda mais?
Acomodação nunca faz bem a ninguém. Os que chegam mais longe são sempre os inquietos – os que estão sempre em busca daquele algo a mais. É justamente por isso que você precisa tratar seus investimentos com o mesmo respeito e atenção com que trata sua carreira. Aprenda novas técnicas, estratégias e conceitos mesmo quando o retorno estiver sendo satisfatório ou bom.
Com o perdão da redudância, a renda varíável varia. Você precisa saber como aproveitar as oscilações para lucrar e, mais do que isso, para não ficar refém de uma estratégia que não é tão eficiente como se diz. A partir do momento em que aprender a tirar proveito do sobe e desce do curto e médio prazo, saberá como o B&H tradicional pode ser otimizado. Os riscos podem ser pequenos e mensuráveis se a estratégia for planejada corretamente.
A visão do investidor precisa ser sempre de longo prazo, mas as estratégias e atitudes precisam estar conectadas ao que o mercado vive em cada momento. Deixo no ar a pergunta: vale mesmo a pena nunca abrir mão de sua obra de arte? Eu dei meu voto de confiança ao guardião. E você?
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