Você certamente já ouviu a jocosa pergunta “Quem paga a conta?” enquanto participava de alguma conversa relacionada aos tributos/impostos pagos pelos brasileiros ou quando o assunto tinha relação com a posição de consumidor. Quem paga a conta? – Pergunto, pois. “O consumidor!”, você há de responder e concordar comigo.
As regras básicas de negócios dizem que quando os custos de produção e venda sobem, o preço final do produto também sobe. Inflação? Também. Margens de lucro são sempre trabalhadas de forma inteligente e cuidadosa, com o nobre objetivo de manter a empresa interessante do ponto de vista de seus donos e/ou acionistas. Mas isso é óbvio, só não aceita ou não enxerga quem não quer.
Prática comum hoje em dia, os preços costumam ser trabalhados entre fornecedores, distribuidores e lojistas de forma a criar uma oferta uniforme de produtos a preços e condições de pagamento semelhantes. Os valores são tabelados, salvo raras exceções. Isso acontece por uma razão muito simples: uma enorme parcela dos consumidores busca apenas a forma mais fácil de comprar determinado item, não aquela melhor para o seu bolso.
As políticas agressivas de descontos existem, é claro, mas gradativamente dão lugar às facilidades de compra associadas ao crédito. Lojas grandes não tem problema de capital de giro e portanto se interessam muito mais em crescer vendendo dinheiro que comercializando produtos.
Imagine-se “fora da caixa”
Pense como um grande empresário do setor de varejo por alguns instantes.
Um item do estoque, uma TV LED ultrafina, é comprada do fornecedor em grande quantidade por R$ 2.000,00 a unidade. Aos seus custos de aquisição somam-se impostos, despesas administrativas, de estoque e pessoal. Suponha que seu custo total para a empresa seja de R$ 3.000,00. O próprio fornecedor concede uma sugestão de preço final de venda ao mercado, digamos R$ 4.000,00. A diferença, R$ 1.000,00, compõe a margem possível de ganhos para o lojista;
A empresa aceita o preço sugerido e decide anunciar a TV LED ultrafina em suas lojas por R$ 3.999,00 à vista ou em 10 vezes sem juros. Neste caso, o lucro fica em torno de 25% (diferença entre o preço de venda, R$ 3.999,00, e o custo, R$ 3.000,00). No entanto, a loja oferece uma forma “exclusiva” de pagamento: 24 parcelas de R$ 298,12 no cartão da rede ou crediário. A TV LED ultrafina sairá então pela bagatela de R$ 7.150,00 para o consumidor.
Entra em cena a financeira do grupo: a operação consiste em emprestar o dinheiro para o cliente, que então passa a estar sobre cláusulas contratuais de uma operação de crédito. A margem final salta para quase 138% (diferença entre o preço final, R$ 7.150,00, e o custo, que continua a ser R$ 3.000,00). A TV LED ultrafina é a isca, o objeto de desejo, mas o produto é (sempre foi e será) o dinheiro.
O preço justo é uma utopia?
Os mais atentos dirão que comprar do fornecedor com prazo de pagamento menor que aquele em que se vai receber do cliente, bem como o risco de calote no empréstimo são variáveis que devem ser cuidadosamente consideradas. Verdade. E são. As grandes redes negociam prazos elásticos de pagamento e garantem, com as reservas financeiras e vendas à vista, margem de segurança para a inadimplência e a negociação com fornecedores.
Basta acompanhar os resultados publicados na mídia. A estratégia é muito bem amarrada e executada. Quem paga a conta? Pois é, mas não se desespere (ainda), afinal esse é um retrato de como os negócios funcionam. Não há nada com que se revoltar, especialmente quando descobrimos que o sistema só funciona tão bem e gera tanto lucro porque optamos pela satisfação imediata em detrimento da construção de patrimônio.
Quem coloca tanto dinheiro no bolso de tão poucas pessoas somos nós. Então a culpa é minha, sua, nossa? Pensando bem, é revoltante. O que fazer? Negociar! Pechinchar! Optar por lojas menores, com maior flexibilidade. Comprar pela Internet. Pesquisar preços. Optar por comprar à vista depois de conseguir um bom desconto. Talvez você tenha entendido porque insisto tanto nisso. Talvez não. Você vai continuar pagando a conta? Eu não!
Nota: os valores de referência usados neste texto são fictícios, extraídos única e exclusivamente de minha cabeça e usados de forma puramente didática. Faça sua própria análise quando decidir-se pela próxima compra. Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência. Infelizmente.
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