Sempre que posso, gosto de sair com alguns amigos, jogar um pouco de conversa fora e, de quebra, conversar um pouco sobre novos projetos e saber o que cada um anda fazendo. Este grupo de amigos nasceu do convívio na escola – nos conhecemos desde o maternal e chegamos juntos à universidade. Mesmo cada um tendo seguido caminhos diferentes, conseguimos manter o hábito de nos reunirmos algumas vezes por ano – o melhor é que a cada novo papo o ânimo continua crescendo e todos saímos renovados.
Pois bem, ontem tivemos mais um desses encontros. E como não poderia ser diferente, o assunto educação financeira entrou no meio da conversa. Um amigo se questionava se poupar não representava simplesmente deixar de usufruir algo que desejamos muito. Afinal, dizia ele, “a vida é tão curta e parece que as pessoas que seguem esse caminho se tornam avarentas. Qual o limite para isso? Ele existe?”.
Percebi certo ar de deboche em suas palavras, mas está tudo certo. Somos amigos e temos muita intimidade para discutir esse assunto de uma forma bem democrática. Acabamos conversando longamente e não demorou até que os demais entrassem no assunto de uma forma bem divertida. A conversa, que poderia ser chata, se tornou mais animada e no fim aprendemos mais uma vez como esse assunto é fascinante.
Quem falou em deixar de consumir?
Trazendo este ensinamento para o artigo, é importante deixar claro nosso papel: estamos aqui não para impedir ou mesmo pregar que as pessoas simplesmente deixem de consumir. Ninguém deve deixar de comprar aquilo que tem vontade. Se você quer trocar de celular todo ano, não vejo problema – desde que esteja preparado financeiramente para isso.
Claro, deixar de consumir e pregar a abstinência ao verbo comprar só transformaria o país em um pólo de desempregados, afinal é o consumo que movimenta a economia e gera empregos. O “X” da questão é descobrir se o celular ou qualquer outro bem de consumo que você quer não representará uma dívida que comprometerá seu futuro. O “X” da questão é o seu futuro.
O problema do imediatismo
Existem maneiras e maneiras de se realizar uma compra. Quem aprende a poupar sempre poderá conseguir o que quer de forma mais barata e em tempo muito menor. Um amigo que estava à mesa durante a nossa conversa lançou um exemplo clássico de como o imediatismo complica e muito a vida das pessoas.
Ele fez o financiamento de um veículo em 48 vezes – tempo relativamente “pequeno” se comparado ao que o mercado oferecia até pouco tempo. Só que o valor das parcelas ficou tão alto que o impossibilitou de fazer o seguro do carro. Ou ele pagava o financiamento ou o seguro. Que tal, soa inteligente para você? Pois é, que péssima idéia.
Infelizmente, Murphy agiu. Sim, ele foi roubado. Graças a Deus não aconteceu nada com ele, mas sobraram os boletos do financiamento para pagar. Pois é. Tenho certeza que esse meu amigo poderia ficar mais algum tempo sem o carro novo e poupar para conseguir dar um bom valor de entrada ou mesmo pagar o carro à vista com um bom desconto. A realidade é dura para quem não observa as possibilidades da vida.
As escolhas e os espertos
“A vida é dos espertos”, já diz o ditado popular. Mas dos espertos que fazem a diferença e que se atentam aos poucos detalhes que só após uma conversa ficam nítidos. Como sempre, o que muda tudo são as escolhas que fazemos no decorrer de nossas vidas.
Ainda no papo com os colegas deixei bem claro que decidi ser feliz e me tornar independente financeiramente. E que, mesmo assim, não deixei de ter meu celular, meu notebook, meu apartamento e principalmente minha felicidade. Este ano pude fazer algumas escolhas que não me amarraram por causa de dinheiro.
Apostei em algo que me traz, neste primeiro momento, uma renda menor, o que não foi problema porque me preparei para isso. Em outras palavras, a mudança não afetará meu planejamento futuro.
Quem poupa descobre logo que não precisa ser avarento; precisa ser controlado e ter disciplina, pois percebe que melhor do que ter algo agora (e ter que pagar durante muito tempo) é ter tudo e mais um pouco mais adiante – e de forma definitiva. Também já tive um carro roubado, recebi o seguro e hoje optei por seguir meu caminho de táxi, sem me preocupar com isso no momento.
Se vou viajar, alugo um carro que me dê prazer e conforto. Sai mais barato e não preciso me preocupar com impostos, gasolina, seguro e etc. Ah, sim, no futuro quero ter novamente um carro. Lá terei o carro, a casa, a chácara e etc. – e as despesas não serão significativas, afinal até lá estarei independente financeiramente. Que tal começar a construir seu futuro ainda hoje? Bom final de semana.
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Ricardo Pereira é educador financeiro e palestrante credenciado pelo Instituto DiSOP, trabalhou no Banco de Investimentos Credit Suisse First Boston e edita a seção de Economia do Dinheirama.
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