As organizações buscam continuamente aprimorar o desempenho de suas operações em virtude do avanço tecnológico, mercado competitivo e economia globalizada. Para atender a essas exigências a aprendizagem no trabalho vem sendo cada vez mais relevante. Para entender melhor como a aprendizagem organizacional tornou-se importante estratégia dentro das empresas é preciso mencionar as principais transformações ocorridas no mundo a partir do final do século XX.
O avanço tecnológico e científico proporcionou o aumento da velocidade das informações, demandando por parte dos indivíduos domínio das novas tecnologias e constante atualização. A economia globalizada impõe um ritmo diferente aos negócios, onde é preciso foco na competitividade e inovação. Nesse contexto, as pessoas precisam deixar de serem vistas como problema e sim como solução e vantagem competitiva. Peter Senge alerta que conceber o homem como mais um recurso de produção constitui um obstáculo ao desenvolvimento da organização.
A aprendizagem, segundo ele, se tornou mais importante que o controle dos processos. Para atender às novas exigências impostas nas últimas décadas e trazer um olhar diferenciado sobre os saberes que permeiam as estruturas organizacionais, surge a Pedagogia Empresarial, um ramo da Pedagogia que tem como foco o desenvolvimento dos profissionais e a melhoria dos processos produtivos através da aprendizagem empresarial em suas várias dimensões.
Na minha atuação como pedagoga empresarial percebo claramente que o financeiro das organizações fica muitas vezes comprometido pela falta de atenção devida aos funcionários. Não existe “empresa 100%” com “funcionário 50%” e é nessa diferença que está o perigo! Empresários costumam investir muito em hardware, software, infra-estrutura e acabam descuidando do “humanware”!
A empresa precisa aprender a aprender!
Muitas vezes esquecemos que a aprendizagem faz parte da nossa essência. A educação não se limita à escola; deve se estender à empresa. Os empresários precisam ser educadores organizacionais, líderes que influenciam pessoas e não apenas chefes que controlam funcionários e cumprem tarefas. Os funcionários precisam ter a disposição de buscar o conhecimento, de sentirem-se donos de seu futuro e capazes de construir um ambiente de trabalho positivo.
Fácil? Nem tanto. É preciso decisão e comprometimento para adotar esse novo paradigma organizacional. As diretrizes são: aprender a ser, aprender a partilhar e aprender a construir coletivamente. É preciso dedicação aos programas de treinamento, ao repasse da cultura da empresa, à padronização dos procedimentos, aos canais de comunicação e ao desenvolvimento pessoal dentre outros.
O modelo Kaizen de gestão é um exemplo de sucesso nas empresas pois é um processo de pequenas e contínuas melhorias, do qual o empregado participa com sugestões constantes. É uma filosofia de aperfeiçoamento constante no trabalho e na vida pessoal. Trazendo para a prática, citarei alguns exemplos de desvios que tinham um impacto no financeiro de empresas com que trabalhei.
A realidade nas empresas
Uma atitude quase óbvia que, quando não tomada, onera muito as despesas mensais é o uso do telefone fixo para fazer ligações para celular. Após a adoção de um plano empresa de uma operadora de celular conseguiu-se reduzir significativamente a conta de telefone. Já vi empresas que faziam ligações a cobrar para seus clientes para economizarem! Atitude que compromete muito a função marketing.
Outro caso interessante foi a campanha sobre o desperdício de alimentos realizada junto aos funcionários de uma outra empresa, onde primeiramente foi feita uma sensibilização acerca da nova proposta, trazendo os números desse desperdício e a importância da ação coletiva em prol da melhora dos processos.
A campanha foi um sucesso pois a aprendizagem foi eficaz! Os funcionários responderam bem às propostas e o gerente financeiro gostou muito da nova planilha de custos mensais! Um olhar diferenciado da gerente de RH após um curso de condução de equipes teve como resultado a diminuição dos gastos na papelaria, já que acabaram-se as impressões sem necessidade e as fotocópias de trabalhos escolares dos filhos de funcionários.
A estatística também é uma grande aliada dos processos de gestão: ela mostra claramente a situação real da empresa e as melhores oportunidades de crescimento. Pequenos e importantes detalhes que não são levados em conta no dia a dia podem sobrecar os custos de produção.
É preciso saber também que a empresa é um organismo vivo e seus resultados dependem muito da qualidade de seu clima organizacional, da atitude e motivação dos seus funcionários. Enfim, das conexões existentes. Além de cuidar dos tangíveis, do concreto e quantificável, é preciso atenção aos aspectos invisíveis, como alerta Oscar Motomura seus artigos.
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Bernadette Vilhena é pedagoga empresarial, consultora em diversas instâncias da prática educativa nas empresas. Especialista em Gestão de Pessoas e estudos nas áreas de Ergologia, Gestão do Conhecimento e Educação no trabalho.
Crédito da foto para stock.xchng.