Segunda-feira na Finclass é o dia da live de renda fixa.
Exatamente às 12:00 inicio nossa live com os assinantes fazendo uma abertura e os atualizando sobre as principais notícias econômicas e políticas dos últimos 7 dias, ou seja, desde o nosso último encontro.
Após alguns breves minutos eu parto para a sessão de perguntas e respostas, aonde vou respondendo às perguntas enviadas por nossos assinantes.
As perguntas no geral são semelhantes; alguém perguntando se vale a pena comprar Tesouro IPCA+ de longo prazo, se continua na hora de colocar um pouco de prefixado de curto prazo na carteira, se deve vender algum ativo que não está tão bem na carteira e se ainda dá tempo de comprar a minha última recomendação de algumas semanas atrás.
Essas perguntas são respondidas rapidamente e sem grandes problemas, elas não exigem elevadas doses de criatividade.
Mas para minha alegria, todas as semanas temos algumas perguntas que nos fazem parar para pensar, não só no teor da resposta, mas também no formato da resposta.
A audiência não trabalha no mercado financeiro, portanto em perguntas mais complexas as analogias ajudam na compreensão de alguns conceitos.
Na live de ontem o Kleber, que comparece assiduamente em nossos encontros semanais, me fez uma ótima pergunta, simples, mas que me colocou para pensar:
“Temos que pensar no longo prazo, porém o Brasil não deixa, nosso longo prazo parece ser do no máximo quatro anos. O que fazer?”
Excelente pergunta.
Refleti durante alguns segundos e pensei em uma resposta, uma resposta que para ser bem compreendida precisaríamos viajar para 1991.
Howard Marks é um famoso investidor americano que está a frente da Oaktree, uma das mais bem sucedidas gestoras de investimentos do mundo. Não é famoso apenas por isso, mas também pelo fato de ser um excelente escritor, afinal suas cartas são muito conhecidas no mercado financeiro.
As cartas de Howard Marks são famosas por conterem grandes ensinamentos quando o assunto é investimento, mas não só por isso. Marks tem o dom de explicar conceitos complexos em termos simples, de modo que qualquer um consiga entender o que ele quer dizer.
Em uma de suas cartas em 1991 Howard Marks fez uma analogia entre o sentimento do mercado e um pêndulo.
Se o pêndulo estiver parado, ou seja, com a sua ponta para baixo às 06:00, os mercados estariam em equilíbrio, o que significa que os ativos estariam precificados corretamente.
Se o pêndulo caminhar para o sentido horário, às 09:00, o sentimento seria muito negativo, o que significaria que os ativos estariam sendo negociados a um valor abaixo de seu preço justo.
Do lado oposto, às 03:00, os mercados estariam extremamente otimistas, e seria comum encontrar investidores pagando valores altíssimos por diversos ativos.
Segundo Marks o sentimento do mercado funciona como esse pêndulo, e hora caminha para o extremo otimista e hora para extremo pessimista, permanecendo menos tempo do que o ideal às 06:00, onde os preços estariam em equilíbrio.
O único problema desse pêndulo é que ele não obedece às leis da física e sim as emoções humanas. Se obedecesse às leis da física nós provavelmente conseguiríamos prever seus movimentos, mas como as emoções humanas são muito mais incertas e heterogêneas entre as pessoas, fica impossível de se prever sua próxima direção.
Isso significa que entender que o sentimento do mercado funciona como um pêndulo não funciona para nada?
Claro que não.
Entender isso te faz ficar mais tranquilo(a) quanto os seus próximos investimentos.
Se estivermos em um momento em que o pêndulo aponta para às 09:00, o que significa um momento extremamente pessimista, podemos entender que os preços e taxas dos ativos estão muito atrativos para aquisição.
Entender esse movimento não vai te ajudar a entender quando ele tende a normalizar e voltar para as 06:00, mas te faz ter o conforto de entender que uma hora ele caminhará para lá.
O oposto é verdadeiro.
Entender o movimento do pêndulo te faz ter mais segurança de vender seus ativos que estão “caros” em um momento de excesso de otimismo.
Eles podem continuar subindo? Sim, mas desde que você entenda o movimento do pêndulo saberá que está vendendo a um preço muito bom.
Mas o Kleber entende esse conceito, então qual a novidade?
Bom, pensando em mercados desenvolvidos, podemos pensar que esse pêndulo muda de direção poucas vezes, ou seja, ele se movimenta menos. É assim que funciona o pêndulo no mercado americano e no mercado europeu, por exemplo.
Quando o pêndulo muda pouco de direção, fica mais fácil pensar a longo prazo, afinal, poucas coisas mudam drasticamente em um curto espaço de tempo, e a convicção de que está no caminho certo aumenta.
O mesmo não podemos falar do Brasil.
Por aqui o cenário muda em um curtíssimo espaço de tempo, às vezes em semanas.
Os movimentos podem ser causados por desequilíbrios econômicos, políticos e institucionais, e convenhamos, é muito comum nos surpreendermos com um dado econômicos desfavorável, um discurso de um importante membro do governo que eleva a desconfiança dos investidores, ou até mesmo discursos inflamados contra órgãos públicos independente, como é o caso do Banco Central do Brasil, ou quem sabe uma nova cobrança retroativa de impostos para as empresas brasileiras.
Os casos acima não são raros, pelo contrário, são frequentes.
Todos esses fatores fazem com que o ponteiro brasileiro, que em lugares mais estáveis se movimento de maneira mais contínua, apresente um comportamento completamente errático, com mudanças de direções bruscas em um curto espaço de tempo.
Mas como então focar no longo prazo?
É relativamente simples. Você precisa entender que esse é o Brasil, e que apesar de tantos solavancos, poucas mudanças estruturais ocorrem de fato em tão pouco tempo.
O cenário no Brasil não se deteriorará de maneira drástica em poucos meses, assim como não melhorará no mesmo período.
Apesar do pêndulo apresentar mais oscilações, o movimento no médio e longo prazo tende a ser o mesmo.
Para ficar mais claro e encerrar esse texto vou utilizar uma frase do célebre economista Gustavo Franco, integrante da equipe de criação do Plano Real e ex-presidente do Banco Central:
“Se você fica uma semana fora do Brasil, tudo muda. Se você fica 7 anos fora, nada muda.”
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