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O poder do consumidor consciente

por Elaine Costa
3 min leitura
Como não gastar dinheiro à toa nesse fim de ano?

O poder do consumidor conscienteNa aproximação do final do ano, o que vemos é o tradicional vendaval de anúncios dizendo que, se você ama, você compra. Afinal, o que é o Natal sem panetone, peru e presentes? Mas, nesta felicidade condicionada ao consumo pelo consumo, onde podemos encaixar o consumo consciente? Certamente, antes de fazer a lista de compras e os planos para as viagens.

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Segundo o dicionário Michaelis, consumidor é aquele pratica o ato de consumir, ou seja, que utiliza comida, bebida, vestuário, habitação e outros para a satisfação das próprias necessidades ou desejos.  E, mesmo no dicionário, consumir tem um lado negativo, encontrado nos sinônimos destruir, devorar, corroer e gastar até sua total destruição. Assim, é possível perceber que até esta literatura nos alerta sobre a natureza do consumo pelo consumo.

Ainda pesquisando os significados das palavras no Michaelis, observamos que a palavra consciente significa aquele que tem consciência, que sabe o que faz. Ou ainda, representa o estado da mente que estamos em vigília, com conhecimento imediato das coisas. Ter consciência nos remonta ao conhecimento e aplicação de valores e mandamentos morais, com percepção clara da própria existência e de cada momento em que se vive.

Estar consciente é mais do que estar acordado; é ser capaz de perceber, por exemplo, a si mesmo se alimentando, dirigindo ou lendo este artigo. Dito isso, o que significa ser um consumidor consciente?

Antes de tudo, é uma atitude voluntária guiada por valores éticos e morais. Muito além de optar por economizar água, energia e alimentos estão crenças que orientam esses comportamentos a cada momento do dia, seja em casa, no trabalho, no clube ou na academia[bb]. É estar completamente ciente ao exercer algum tipo de consumo, fazendo as escolhas mais alinhadas a sua maneira de pensar, e não cedendo a impulsos e apelos superficiais.

Também é aprender sobre os impactos que seu consumo gera no mundo e buscar sempre as melhores opções para equilibrar a satisfação pessoal de desejos e o direito que as outras pessoas têm de também satisfazer suas próprias necessidades. Em última instância, significa adotar um estilo de vida mais simples, que seja ambientalmente correto, socialmente justo e economicamente viável.

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Mas, diante de uma sociedade que promove uma tormenta de desejos infinitos, como resistir aos apelos consumistas? Aprendendo, principalmente, a lidar com as próprias expectativas.

Expectativas e contentamento
Constantemente somos bombardeados com propagandas que afirmam: você ainda não tem o bastante. É aquele automóvel de última geração, são aqueles novos eletrodomésticos mil e uma utilidades para a cozinha, é um novo celular[bb] com centenas de recursos – que usamos menos de 30% -, é a nova moda para roupas e sapatos, é o novo tipo de maquiagens e perfumes, entre outros.

São mensagens e mais mensagens nos dizendo que não chegamos ao topo por conta da falta destes produtos. E, partindo do princípio que nosso único objetivo de vida seja consumir, tal alegação seria correta. Mas, na verdade, essa idéia é um equívoco.

Como fim ultérrimo, o homem busca a felicidade. E nós, ocidentais, aprendemos a associar felicidade à posse, riquezas e status. Ou seja, a itens passageiros que se encontram fora de  nós mesmos. Mas o dicionário Michaelis nos mostra o contrário. Nele, felicidade significa o estado de quem é feliz, que tem um sentimento de bem-estar, ou contentamento, que significa escolher sentir-se satisfeito. Dessa forma, felicidade é um estado de espírito que se manifesta de dentro para fora, principalmente quando permitimos que o contentamento faça parte de nossa vida.

A média de consumo de recursos de um ocidental hoje é cem vezes maior do que uma pessoa consumia a duzentos anos, no início da Revolução Industrial. Mesmo assim, ainda não conseguimos nos sentir contentes com aquilo que temos. Isso porque estar contente é uma escolha, e não imposição. Nós escolhemos nos sentir contentes (ou satisfeitos) com aquilo que já conquistamos e, embora existam muitas pessoas buscando nos convencer do contrário, acreditar nelas é uma questão de opção.

Escolhas
Retomando o conceito do Relatório Brundtland, da Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento, desenvolvimento sustentável é aquele que “satisfaz as necessidades da geração presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras satisfazendo as suas próprias necessidades“. Diante dessa afirmação, podemos considerar que as necessidades de toda a geração presente são completamente atendidas? Infelizmente não. Buscando uma visão realista da situação, será que podemos garantir a satisfação das necessidades das futuras gerações seguindo o modelo atual?

Consumir de forma consciente contempla usar os recursos disponíveis de forma racional e equilibrada, buscando satisfazer as necessidades pessoais sem comprometer a satisfação atual e futura das outras pessoas. Isso inclui conhecer toda a cadeia de suprimentos na qual um produto está inserido e escolher somente aqueles produzidos de forma social e ambientalmente corretos. E isso é um grande desafio.

Competição versus Cooperação
Estamos inseridos num cenário econômico cada vez mais competitivo, onde vence quem tem o menor custo e o melhor preço. Consideramos que este tipo de atitude é até uma caridade, já que quanto menor o preço mais acessível serão os bens de consumo para as camadas menos favorecidas. Assim, tornar os negócios mais eficientes é a chave para promover igualdade social, certo? Não necessariamente.

Produtos de baixo custo também costumam ter baixa qualidade. Isso significa que terão um tempo de vida útil menor do que outros tipos de produtos. Assim, para continuar tendo o benefício de um produto, poderá ser necessário substituí-lo várias vezes, seja por obsolescência programada ou perceptiva. Esse processo gera mais e mais resíduos que, descartados de forma incorreta, comprometem solo e água.

Mesmo o benefício da criação de empregos oriundos do aumento da produção[bb] é questionável. Se determinado produto é importado de países com péssimas relações trabalhistas, o consumo dos mesmos não representa melhora na vida das pessoas daquele país.

O baixo custo de produtos também é um entrave para pequenos produtores. Sem condições de competir com gigantes multinacionais restam-lhe duas opções:

  1. Submeter-se aos baixíssimos preços que os grandes compradores pagam, só para vender sua produção; ou
  2. Aderir a mercados locais e redes de economia solidária. Essas redes não só ajudam a alavancar as vendas dos pequenos produtores, como também propõem a geração do lucro pela cooperação, e não pela competição.

Superando o acúmulo gerado pela relação empregador-empregado, as cooperativas promovem a igualdade entre seus integrantes, seja nos quesitos trabalho, lucro ou prejuízo. Assim, as redes de economia solidária e comércio justo permitem que os pequenos produtores possam competir igualmente com os grandes no mercado tradicional.

Dessa forma, quando buscamos consumir produtos oriundos de empresas e produtores inseridos no comércio justo, estamos remunerando de forma justa todas as etapas da vida de um produto. Diferentemente do comércio por competição[bb], o comércio justo prima pela cooperação entre empresas, produtores e trabalhadores, colabora significativamente com a sustentabilidade do modo de vida atual, promove a interdependência entre produtores e consumidores, iguala as relações de troca, incentiva o uso racional e ecológico dos recursos naturais e fortalece o conceito de vida simples.

Considerações
A partir do momento em que estivermos conscientes de nós mesmos e de nossas reais necessidades e desejos, e mantivermos esta consciência no dia-a-dia, aprenderemos a fazer as escolhas certas. Deixaremos de sucumbir a impulsos consumistas e usaremos nosso poder como consumidores para fortalecer relações de comércio mais justas e solidárias.

Por fim, parece-me óbvio que a solução para os desequilíbrios no mundo está no equilíbrio do homem. É encontrando o equilíbrio entre o “SER” e o “TER” que evoluiremos da sociedade de consumo para a sociedade do Ser Humano, que parece mais interessante. Se chegaremos lá? Bom, isso depende de nós. Eu é que pergunto: chegaremos lá?

Referências

Crédito da foto para stock.xchng.

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