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O porquê não se desesperar no cenário atual

É uma queda irreversível ou capaz de causar pânico nas pessoas físicas que possuem uma carteira de investimento semelhante? Nem um pouco

por Guilherme Cadonhotto
3 min leitura
Guilherme Cadonhotto, juro

Imagine dois vendedores de carros diferentes:

Finclass

O primeiro possui uma ampla experiência no setor comercial, e sempre trabalhou na linha de frente para vender os carros de uma determinada montadora para seus possíveis clientes.

O segundo por outra vez, apesar de atuar no setor comercial nos dias de hoje, trabalhou a maior parte da sua vida dentro da fábrica da montadora. Ele conhece todas as etapas do processo de produção, assim como os pontos positivos e negativos de determinadas opções de carro para reais necessidades de seus clientes.

Por qual dos dois você preferiria ser atendido(a) e por quê?

O segundo vendedor pode, e provavelmente vai, te oferecer um atendimento diferenciado, afinal entende de todas as etapas do processo na fabricação de um veículo, e provavelmente conhece melhor do que ninguém as fortalezas e as fraquezas de determinados veículos.

Hoje, apesar de atuar realizando recomendações de investimento para pessoa física, trabalhei a maior parte da minha carreira no mundo institucional, ou seja, fazendo a gestão de fundos em gestoras de investimento profissional.

Finclass

Apesar da dificuldade, por vezes, de tornar o meu discurso mais compreensível para a pessoa física, possuo uma bagagem técnica que me diferencia de outros concorrentes quando o assunto são casas de análise.

Não digo isso apenas pela questão técnica, afinal, em uma gestora de investimento toda e qualquer recomendação precisa ser exaustivamente bem embasada, assim como a prestação de contas, que também acontece quase que diariamente.

Apesar de duro, o método é eficaz para fazer com que a equipe encontre mais posições vencedoras ao longo de sua história.

Isso significa que trabalhar com tamanha exigência fez com que as minhas posições, mesmo hoje, sejam igualmente bem embasadas.

Trabalhar na mesa de operações, ou seja, na parte de decisão de uma gestora de investimentos não me proporcionou apenas a capacidade técnica na hora da análise, mas também me proporcionou entender como pensam gestores de fundos de investimento, e é por isso que escrevo esse texto hoje, para te mostrar o porquê do medo exacerbado demonstrado pelos principais veículos de comunicação do Brasil quando o assunto é investimentos, e o melhor, o motivo pelo qual você não deve deixar se contaminar.

Você primeiro precisa entender que uma das principais fontes de informação sobre o noticiário e as movimentações de preço no mercado para os principais veículos de comunicação do Brasil são os fundos de investimento.

Há uma forte relação, em alguns casos praticamente pessoal, entre repórteres e operadores e gestores de fundos. Veja, isso não é uma crítica e sim uma constatação.

Quando algo “sai dos trilhos”, ou seja, quando há uma desvalorização relevante de preços em ações, câmbio, juros ou outra classe de ativo no Brasil e no mundo, repórteres acionam seus contatos.

Os operadores de mercado por sua vez, trazem suas respectivas visões para os diferentes acontecimentos dos últimos dias.

Há algum problema nesse processo até aqui?

Não para eles, mas talvez para você.

O fato é que gestores e operadores dão sua opinião como trabalhadores do mercado financeiro e não como investidores pessoa física, e para você o que interessa é a opinião como investidor pessoa física, mas ela não vai estar lá.

Para exemplificar a diferença entre os dois tipos de opinião:

Um fundo de investimento tem suas metas no semestre, e a principal delas é de superar o seu respectivo benchmark. Se superar o benchmark, que é um índice de referência, a sua remuneração vai ser mais alta, em outras palavras, o seu bônus semestral vai ser polpudo, em mais outras palavras caso ainda não tenha ficado claro, o seu salário vai ser muito maior do que o usual.

Quando um operador se mostra extremamente preocupado com as quedas do mercado, provavelmente ele está se referindo ao impacto desses movimentos em suas metas como profissional.

Você pode até se perguntar; “Mas não é a mesma coisa? A sua carteira não reflete suas metas no fundo?”

Na grande maioria dos casos não.

Pense que na carteira de investimentos pessoal de um grande operador de mercado que possui 40% de alocação em ações americanas, 10% em ações japonesas, 30% em CDI e 20% em renda fixa americana, mas no fundo de investimento no qual ele faz a gestão, e que o benchmark é o CDI, ele esteja comprado em S&P500, o principal índice de ações dos EUA.

Questionado sobre o cenário atual dos mercados, sua postura será positiva, neutra ou negativa?

Se olharmos para a carteira desse grande operador, veremos que o impacto, apesar de razoável, não é nem de longe, devastador.

Se ele possuísse essa carteira, nos últimos dias a queda de seu patrimônio investido seria de 2,8%. Talvez você esteja pensando que essa é uma queda relevante, mas lembre-se de que essa queda seria praticamente compensada por apenas 3 meses de CDI no patamar atual, o que isso significa?

É uma queda razoável? Sim

É uma queda irreversível ou capaz de causar pânico nos investidores pessoas físicas que possuem uma carteira de investimento semelhante? Nem um pouco.

Mas de onde vem o temor dos investidores institucionais, ou dos operadores do mercado?

É simples, vamos imaginar que a meta desse grande operador, no fundo de investimento em que ele trabalha, seja superar o CDI em 2% no ano, isso deduzido já os custos de administração do fundo.

Se ele possui uma posição relevante no S&P500, o principal índice de ações dos EUA, no fundo nesse momento, ele pode acabar com todo o trabalho construído ao longo do ano inteiro fazendo a gestão do respectivo fundo.

Nesse cenário, o que acontece com sua remuneração?

Bom, se não bate a meta de superar o CDI mais 2% no ano não dá para se esperar uma remuneração variável razoável. E talvez você não saiba disso, mas a maior parte da remuneração de um operador de fundo, ou gestor de fundo, vem do fato de ele superar os seus respectivos benchmarks, ou índices de referência.

Em outras palavras, operadores e gestores ficam assustados, ou eufóricos, com as oscilações de mercado porque isso mexe com sua remuneração, seu salário, no semestre e não pelo impacto relevante que isso possa ter no seu patrimônio investido.

Para você pessoa física que possui uma carteira diversificada, e que não tem sua remuneração sendo impactada pelo sobe e desce das bolsas globais, o recado permanece o mesmo:

Aproveite os momentos de estresse para rebalancear sua carteira segundo sua alocação estrutural, continue aportando recursos periodicamente e foco no longo prazo. Saiba que essa queda da bolsa não vai impactar em nada seu salário dos próximos meses, a não ser é claro que você seja um dos operadores do mercado, aí sim talvez o seu pânico seja justificado, do contrário parece ser extremamente cedo para estar desolado por conta do retorno de seus investimentos.

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