O presidente Luiz Inácio Lula da Silva contou sobre o encontro que teve com as agências de risco em Nova York na segunda-feira, 23, e disse que tinha “curiosidade” em saber qual critério que elas adotam para avaliar o Brasil. O chefe do Executivo afirmou que o governo não gastará o que não tem e que está “apostando” que o País chegará a 3,5% de crescimento neste ano.
“Fiz reunião com empresas de rating em Nova York, aquelas empresas que medem o crescimento da nossa economia. Não é habitual um presidente da República se reunir com empresas de rating, mas eu tinha curiosidade de saber o seguinte: qual é o critério que elas adotam para avaliar o Brasil? Com quem elas conversam?”, contou o petista, em reunião nesta quinta-feira, 26, no Palácio do Planalto.
A Fitch Ratings, que também esteve com Lula, publicou um relatório “sombrio” nesta quinta-feira (26). A agência disse que as perspectivas incertas de consolidação fiscal do Brasil são uma vulnerabilidade macroeconômica fundamental que restringe o rating atual, o que deixará a economia desenquadrada em relação aos países com a mesma nota BB.
A dívida pública deve passar de 74,4% do PIB em 2023 para 77,8% em 2024 e 83,9% até 2026. Este crescimento da dívida é mais rápido do que o anteriormente previsto e amplia ainda mais a diferença em relação à mediana da categoria “BB”, que é de 55%.
Com o título de “O desempenho melhor da economia brasileira não alivia a incerteza fiscal”, os diretores Todd Martinez, Shelly Shetty e Mark Brown, autores do relatório, enfatizaram que os desafios fiscais não apenas persistem, mas também devem se intensificar em 2025.
Para eles, apesar do forte desempenho econômico, com a projeção de crescimento do PIB real de 2,8% em 2024, a agência alertou que esse vigor econômico não se traduz em uma melhora equivalente nas finanças públicas.
Mercado de juros
A curva de juros voltou a abrir nesta quinta-feira, com as taxas longas subindo cerca de 10 pontos, principalmente após o relatório da Fitch.
Pela precificação na curva de juros, a Selic deve ficar em 12,50% em março de 2025 e em 12,50% em março de 2026.
A taxa do contrato de depósito interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 subiu a 12,200%, de 12,086% no ajuste anterior. O DI para janeiro de 2027 avançou a 12,245%, de 12,111%, e o vencimento para janeiro de 2029 saltou a 12,33%, ante 12,23%.
Os juros longos operavam perto dos ajustes de quarta-feira no início da tarde, mas acabaram mudando a tendência para alta na segunda etapa do pregão.
O que Lula disse?
Participaram do encontro de hoje a ministra do Planejamento, Simone Tebet, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, e os governadores Elmano de Freitas (Ceará) e Eduardo Riedel (Mato Grosso do Sul). O áudio foi disponibilizado depois da agenda pela Secretaria de Comunicação Social (Secom) da presidência.
Lula contou que pediu que as agências de risco contassem com quem conversam para avaliar o Brasil: “Se vão na Faria Lima apenas, se leem editoriais dos jornais, se vão ao Banco Central”, disse. “Porque eu nunca fui perguntado por ninguém sobre o Brasil, nem em pesquisa eleitoral, muito menos em pesquisa de avaliação político-econômica do Brasil.”
O chefe do Executivo, então, disse que as agências de risco “têm que prestar atenção” que o governo está entregando promessas que fizeram desde o início da gestão, como o arcabouço e a reforma tributária. “Não é uma coisa de agora”, afirmou.
“As coisas estão desenhadas e nós agora estamos vendo a economia surpreender não a mim, mas os famosos analistas, alguns muito pessimistas de que o Brasil ia crescer apenas 0,8% no primeiro ano, surpreendemos crescendo 3%, e agora diziam que a gente ia crescer 1,5%. Estou fazendo uma aposta de que vamos chegar a 3,5%”, comentou.
Lula voltou a destacar que é importante o dinheiro circular para a economia do País crescer. “Aqui, a gente aprendeu que a gente não gasta o que não tem. Se a gente tiver que fazer uma dívida, tem que ser de algum ativo novo que possa nos dar lucro e aumentar o nosso patrimônio”, declarou.
Na fala, o petista disse que quer que os bancos sejam os “principais incentivadores” para o crescimento econômico. “Com muito crédito, não para indústria apenas, mas para prefeituras e governo de Estado para que as obras aconteçam”, citou.