Fala-se sobre dinheiro todos os dias, mas raramente paramos para pensar um pouco sobre a riqueza que esse assunto traz consigo. O Navarro deixou suas sinceras impressões sobre o tema no artigo “Educação Financeira: um estilo de vida”. Há uma diversidade de simbolismos empregados a ele. Essas representações variam de acordo com o contexto social e de indivíduo para indivíduo. Esse signo flutua do bem ao mal constantemente.
A maioria das informações a seguir foram extraídas e trabalhadas a partir do livro “Psicologia Econômica” (Campus), escrito pela psicanalista Vera Rita de Mello Ferreira. Uma leitura que recomendo a todos que queiram aprender mais sobre o tema. Vejamos algumas informações colhidas a partir de estudos realizados por vários pesquisadores em diversos campos de conhecimento a respeito do dinheiro.
O dinheiro pode ser concebido como uma construção social onde seu valor é vinculado à cultura local, crença coletiva ou como o seu simbolismo é passado para as futuras gerações. Também nessa linha, diria sociológica, inclui-se a forma como as crianças percebem o emprego do dinheiro e como os pais transmitem os ensinamentos econômicos a seus filhos.
O pensamento psicanalítico, onde Freud, Forman e mais recentemente os estudos de Stephen Lea abordam as investigações sobre a relação do indivíduo com o dinheiro, sua representação cotidiana e as psicopatologias decorrentes disso. “O dinheiro como tormento interno ou como mentor interno”.
As metáforas também compõem um campo vasto e interessante. Russel Belk cita três linhas nesse sentido:
- Dinheiro como líquido: ter ou não liquidez, fluxo de caixa. Algo que se move, que ganhamos e depois usamos, tão bem metaforicamente representado pela expressão “sair pelo ralo”;
- Dinheiro como alimento: tempo de vacas magras ou engordar a conta. Uma necessidade que precisa ser saciada;
- Dinheiro e sexo: conotação mais masculina, associada à virilidade, a geração de riqueza ou estar sem dinheiro. Na popular gíria “Tô duro”.
Na sociedade capitalista, o dinheiro é associado ao poder, talento e benção. A falta dele é tida como fracasso, fardo e incompetência. O dinheiro afeta o nosso sentido de identidade: ir à falência ou ter sucesso financeiro tem impacto significativo na autoimagem do indivíduo.
O modo como o dinheiro é originado também é fator de avaliação pessoal. Herança, prêmios, salário ou obtenção através de atos ilícitos atribuem ao dinheiro e ao seu portador conotações positivas ou negativas. Podemos nos lembrar de expressões como “filhinho de papai, tem tudo fácil, não sabe o valor da vida e das coisas” ou “ele nasceu virado para lua, pois ganhou aquele tal prêmio”.
As letras de músicas também estão carregadas de citações sobre o dinheiro e suas implicações. Quem não se lembra dos versos de Paulinho da Viola “Dinheiro na mão é vendaval” ou “Money for nothing” do Dire Straits? E tantos outros compositores cantando as alegrias e tormentos desse pedaço de papel…
Temos também as histórias em quadrinhos, recheadas de aventuras que giram em torno de tesouros e piratas e muito mais, onde seu maior representante é o avarento Tio Patinhas. Os significados são muitos, o dinheiro é elemento de interação social e de discórdias, de alegrias e tragédias, de apego e generosidade, benção ou maldição. Tudo depende do modo como você o concebe e lida com ele em seu cotidiano.
A sabedoria está no equilíbrio e na busca pela qualidade de vida através do uso consciente e inteligente desse signo. O tema é um convite à reflexão sobre nossas representações mentais sobre o dinheiro e os muitos equívocos que cometemos em conseqüência delas. É importante saber que “comportamento econômico reflete comportamento psíquico”, como nos lembra Vera Rita em uma das passagens do seu livro. Você já parou para pensar no que o dinheiro representa para você?
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