Hoje eu não venho aqui para falar de Psicologia Econômica e já vou logo avisando que também não tenho nenhuma contribuição para dar e nenhum alerta a fazer. Meu papel hoje é de brasileira, alguém que está tão ligada aos acontecimentos recentes quanto você, caro leitor.
Venho hoje como leiga, como cidadã perplexa, compartilhar com vocês que têm lido meus artigos o que as manifestações vêm provocando em mim.
Mas, talvez por ter esse olhar que com muito treino consegue enxergar gatilhos e armadilhas, vou acabar falando de “truques mentais” – não no sentido de fazer uma análise sobre o que está acontecendo nas ruas, até porque não tenho a menor competência para isso.
Aliás, reconhecer “oficialmente” não ter competência nesse aspecto tenha sido talvez a maior contribuição que as manifestações pelo país tenha me oferecido.
Acostumada a não tomar partido e defender ou execrar ideias e ideais prematuramente e treinada para me esforçar em não enxergar a vida em preto e branco, mas em várias tonalidades de cinza, minha participação nesse processo que estamos vivendo tem sido de expectadora por enquanto.
Não uma expectadora largada no sofá vendo coisas passarem na TV esperando o domingo acabar, mas uma expectadora no sentido de alguém que vê de fora, que tenta manter um distanciamento saudável para não se contaminar pelos impulsos, paixões e ódios que esses temas normalmente evocam.
Trocando em miúdos, tenho tentado ouvir com os ouvidos da razão a voz que vem do coração de milhares de brasileiros como eu. E não vou negar que o que ouço é legítimo, verdadeiro e urgente.
E aí que mora o meu grande problema: percebi que temos uma pauta, uma demanda imensa e urgente. E levei um susto!
O mesmo susto que se leva quando se percebe que se está superendividado: um problema gigantesco que afeta todos os setores da nossa vida cotidianamente, mas que só pode ser resolvido com mudança de comportamento, comprometimento e cuja solução definitiva será alcançada só lá na frente.
Diante desse susto, o meu conhecimento, a minha forma de encarar a vida, o meu funcionamento mental não me permite que eu varra para debaixo do tapete a minha contribuição para esse estado de coisas em que nos encontramos agora.
Só me resta assumir a minha incompetência e ignorância política. Ter consciência disso me leva a saber que eu não tenho tido capacidade de identificar os gatilhos que estão por aí e que armadilhas foram e têm sido disparadas sem que eu nem tenha percebido. Pior, que, infelizmente, essa dinâmica tem dado o tom das minhas decisões políticas.
Hoje quem precisa de orientação sou eu.
Assim como um superendividado não sabe dizer se os níveis de endividamento subirão ou cairão nos próximos anos, eu também não tenho a menor ideia de onde vamos parar. Mas o meu plano de ação já está sendo desenhado, porque independentemente dos rumos que tomaremos como país, eu nunca mais quero levar o susto que eu levei esses dias.
Mesmo que as manifestações acabem e que a passagem de ônibus não volte a subir, a síndrome do final feliz não vai me pegar!
Foto de freedigitaphotos.net.