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ONS “sabe sim” as linhas que caíram durante apagão, diz ex-diretor

O boletim sobre as operações na véspera, divulgado pelo ONS, não traz novas informações sobre o que poderia ter levado à interrupção

por Reuters
3 min leitura
Energia Elétrica

A falta de informações sobre as causas do apagão de energia em grande parte do Brasil na manhã de terça-feira, que afetou cerca de 30 milhões de consumidores, “chama atenção”, uma vez que o operador ONS tem condições técnicas de mapear as perturbações de forma rápida e indicar instalações afetadas, segundo o ex-diretor geral do ONS, Luiz Barata.

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O boletim sobre as operações do sistema elétrico na véspera, divulgado pelo ONS nesta manhã (veja abaixo), não traz novas informações sobre o que poderia ter levado à interrupção de quase 19 gigawatts (GW) de carga, impactando todos os Estados do país com exceção de Roraima.

Para Barata, as informações preliminares comentadas pelo Ministério de Minas e Energia até agora, sobre uma perturbação no Ceará e outra ainda não detectada, são “muito pouco” diante do que o operador já poderia ter tido condições de identificar.

“Na minha opinião, o ONS sabe sim todas as linhas que saíram (de operação), e normalmente essa é uma das informações que deve constar do informe preliminar, até hoje não saiu nada”, disse Barata, que foi diretor-geral do ONS de 2016 a 2020.

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, chegou a ser questionado, na véspera, se as autoridades estariam tendo alguma dificuldade maior em identificar o problema, já que normalmente o ONS oferece informações sobre as causas de apagões de forma mais rápida.

Silveira afirmou que o governo não quer ser “leviano” em apontar responsabilidades e que a primeira prioridade havia sido restabelecer o suprimento de energia em todo o país.

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Silveira também afirmou que quer que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) realize investigações sobre o episódio (Imagem: Edilson Rodrigues/Agência Senado)
Silveira também afirmou que quer que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) realize investigações sobre o episódio (Imagem: Edilson Rodrigues/Agência Senado)

O ministro também afirmou que “jamais interferiria” nos boletins do ONS e que pediu ao órgão que fosse criterioso e técnico com as informações prestadas, com um prazo máximo de 48 horas para que um diagnóstico seja concluído.

“O que não quer dizer, se eles puderem adiantar, desde que tenha segurança nesse relatório, que seja feito. E nenhum problema que eles façam inclusive de forma pública, não precisa mandar para o ministro para depois deixar público para a sociedade”, acrescentou Silveira.

O ex-diretor geral do ONS ressaltou que a equipe técnica do órgão é muito qualificada e que as causas da ocorrência deverão ser devidamente esclarecidas na chamada “análise de perturbação”, que também envolverá empresas que tiveram instalações afetadas.

Barata também criticou a antecipação de diagnósticos por parte de especialistas do setor de energia sem que se tenha clareza ainda do que realmente ocorreu no sistema.

“O que eu tenho visto é uma série de diagnósticos que eu considero oportunistas… Falar que a culpa é das renováveis, falar que falta transmissão, falar que tem que botar mais térmicas a gás sem que a gente saiba o que aconteceu, na minha opinião, é oportunismo”, avaliou.

Procurado para falar sobre os comentários do ex-diretor, o ONS não se pronunciou imediatamente.

Luiz Eduardo Barata
Para Barata, as informações preliminares comentadas pelo Ministério de Minas e Energia até agora, sobre uma perturbação no Ceará e outra ainda não detectada, são “muito pouco” (Imagem: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

Boletim do ONS

O informe diário divulgado nesta quarta-feira pelo ONS não trouxe explicações adicionais sobre a ocorrência da véspera, mas detalhou que o problema no sistema retirou 5,1 GW de carga no Nordeste, 6,8 GW no Norte, 5,3 GW no subsistema Sudeste/Centro-Oeste e 1,67 GW no Sul.

O que se sabe até então é que houve “separação elétrica” do Norte e Nordeste — importantes pólos de geração de energia renovável — do Sudeste, Centro-Oeste e Sul, onde estão localizados os principais centros consumidores de energia.

No Sul e Sudeste, o fornecimento foi interrompido devido ao acionamento do chamado “Esquema Regional de Alívio de Carga”, um mecanismo de proteção da rede em momentos de desequilíbrio, que tenta restringir a perda de carga no sistema.

O documento também mostrou que usinas eólicas e solares no Nordeste enfrentaram restrições para operar devido ao problema. A geração eólica e solar na região foi limitada em determinados horários para evitar instabilidade de tensão e para realização de intervenção em linhas de transmissão.

Por outro lado, a geração de hidrelétricas do Sudeste/Centro-Oeste, bem como a produção total da usina hidrelétrica de Itaipu, foi superior ao programado devido ao menor recebimento de energia proveniente do Norte e Nordeste.

Já nos ativos térmicos, a Termomacaé, da Petrobras, gerou das 16h28 às 23h16 para compensar parcialmente o menor recebimento de energia proveniente dos submercados Nordeste e Norte durante o período de “ponta de carga”, isto é, maior demanda de consumo.

Veja o documento:

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